O Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade deu início a sua 28º edição, no dia 11 de novembro, com uma programação imperdível, misturando cinema, teatro, música, artes visuais, literatura e espaços para discussão. No meio de uma pandemia, a programação do festival foi uma entre inúmeros eventos de 2020 que tiveram que se adaptar a esta nova realidade. Neste ano, o Mix Brasil traz uma mescla de eventos presenciais e online, tudo de forma gratuita.
Na área de cinema, o festival selecionou 101 filmes, entre curtas e longas, de 24 países. Alguns com exibição exclusiva presencialmente, em São Paulo, mas a grande maioria será transmitida de forma digital. Por isto, o LesB Out! resolveu selecionar alguns dos títulos de maior destaque da programação e trazer para vocês! Lembrando que o evento vai até o dia 22 de novembro, então pegue uma caneta e papel e anote essas dicas maravilhosas para assistir ao longo da semana.
As Mil e Uma (Las Mil y Una)
Filme de abertura do FestivalMix Brasil, “As Mil e Uma” acompanha Iris (Sofía Cabrera) e Renata (Ana Carolina Garcia), duas jovens que moram em uma periferia da Argentina e acabam criando um laço além da amizade enquanto uma tenta superar seus medos e a outra lida com as fofocas feitas sobre ela. O filme, dirigido por Clarisa Navas, retrata a realidade de jovens que vivem em um ambiente hostil, violento e cheia de julgamentos, mas que ainda assim conseguem encontrar amizade e amor.
Onde assistir:Innsaei.tv (necessário fazer cadastro no site)
Ellie & Abbie
Ellie (Sophie Hawkshaw) é uma adolescente que luta para conseguir criar coragem para chamar sua colega de turma, Abbie (Zoe Terakes), para o baile de formatura. Até que a sua tia Tara (Julia Billington), uma lésbica assumida que morreu nos anos 80, volta a vida como uma “fada-madrinha” cheia de conselhos para a sobrinha Ellie, queira ela ou não. A comédia australiana, escrita e dirigida por Monica Zanetti,ficará disponível a partir desta terça-feira (17).
Onde assistir: Innsaei.tv (necessário fazer cadastro no site)
Valentina
Longa de estreia do mineiro Cássio Pereira dos Santos, “Valentina” acompanha uma menina trans de 17 anos (Thiessa Woinbackk) que muda-se para uma pequena cidade em Mina Gerais com a sua mãe (Guta Stresser) em busca de recomeçar suas vidas. Mas, rapidamente, a adolescente começa a enfrentar problemas na nova escola. O filme ficará disponível a partir desta terça-feira (17) e faz parte da Mostra Competitiva do Mix Brasil.
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Emília
Mais um filme argentino na lista e desta vez somos apresentados a Emília (Sofía Palomino), que volta para o povoado onde cresceu e que sua mãe ainda vive após terminar o relacionamento com sua namorada. Enquanto tenta se reencontrar e decidir o que fazer da vida a seguir, Emília se reconecta com o povo da cidade, com os afetos do passado e também com os sentimentos que a fizeram sair de lá.
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Caminhos Esquecidos (La Nave del Olvido)
Claudina (Rosa Ramírez) volta para o interior do Chile para morar com a filha após a morte do marido. Nesta nova rotina, ela cria laços com a vizinha Elsa (Romana Satt), uma mulher casada e independente. As duas iniciam um relacionamento que leva Claudina em uma jornada de autoconhecimento sob os olhos da filha e dos amigos, em uma pequena cidade religiosa e conservadora, obcecada com aparições de OVNIs.
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Língua Franca
Olivia (Isabel Sandoval) é uma imigrante filipina vivendo em situação ilegal em Nova York, nos Estados Unidos. Paranoica com a possibilidade de ser deportada, ela se envolve com Alex (Eamon Farren), em busca de um casamento para conseguir o green card. O filme dirigido, escrito, montado e produzido por Isabel Sandoval foi o grande vencedor do festival Queer Lisboa deste ano. O longa estará disponível a partir desta terça-feira (17).
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Meu Nome é Bagdá
Bagdá (Grace Orsato) é uma skatista que vive na Freguesia do Ó, na periferia de São Paulo. Apesar de viver em uma família pouco convencional e que a apoia, na rua ela precisa enfrentar dilemas como machismo e preconceitos. Até que ela encontra um grupo de meninas skatistas que irá mudar sua vida. O filme dirigido por Caru Alves de Souza também faz parte da Mostra Competitiva do Mix Brasil e ficará disponível a partir desta terça-feira (17).
Danielle (Rachel Sennott) é paga por seu sugar daddy e vai encontrar seus pais neuróticos em uma shivá familiar. Ao chegar, ela é abordada por vários parentes distantes sobre sua aparência e a falta de planos para o futuro, enquanto sua ex-namorada, Maya (Molly Gordon), é aplaudida por todos por entrar na faculdade de direito. O dia piora quando seu sugar daddy, Max (Danny Deferrari), chega com sua esposa ao shivá. Agora Danielle luta para manter diferentes versões de si mesma, se afastar das pressões da família e enfrentar suas inseguranças sem se perder completamente. A comédia de Emma Seligman ficará disponível a partir desta terça-feira (17).
Jornalista nascida no Rio de Janeiro e atualmente morando em Fortaleza. Cresceu assistindo filmes da Sessão da Tarde, Dragon Ball e Xena: A Princesa Guerreira. Constantemente falando coisas aleatórias sobre cinema, televisão e música.
“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.
No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.
Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.
O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.
A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.
A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.
Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.
Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video“The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?
Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?
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Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.
Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.
Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?
A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.
A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.