Após o sucesso de “Mulher Maravilha” (2017) e “Capitã Marvel” (2019), Hollywood parece ter começado a entender que filmes de herói (ou anti-herói) com personagens principais femininas podem ser uma boa chamada. “Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” é lançado então neste momento, com o estúdio se aproveitando da melhor parte do filme “Esquadrão Suicida”, a então vilã Harley Quinn (Margot Robbie), e a união de outras quatro personagens secundárias mas com certo destaque, Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Canário Negro (Jurnee Smollett-Bell), Renée Montoya (Rosie Perez) e Cassandra Cain (Ella Jay Basco). Outro ponto importante, diferente da maioria dos filmes de herói, é que, além desse grande elenco feminino, grande parte da produção desse filme também foi feito por mulheres, incluindo a direção, feita por Cathy Yan (“According to My Mother”), o que é possível de notar com as cenas sendo muito mais focadas nas personagens e suas personalidades do que em seus corpos.
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O filme conta a história de Harley Quinn, que após terminar seu relacionamento (extremamente abusivo, diga-se de passagem), com Coringa, começa a entender o que isso realmente significa para a sua vida, tanto em quem ela é sem o grande vilão ao seu lado, quanto ao fato que a proteção que ela tinha anteriormente acabou, e assim todos que a odeiam em Gotham City agora não tem mais problema em tentar matá-la.
Uma dessas pessoas que quer matar Harley é Roman Sionis/Máscara Negra (que com a boa interpretação de Ewan McGregor te faz querer socar o vilão o filme inteiro), grande mafioso da cidade, e grande ponto de união de todas as personagens, pois o vilão está atrás do aparentemente super conhecido Diamante Bertinelli, que conteria todas as informações da grande fortuna da família Bertinelli.
E com isso vem um dos pontos mais interessantes do filme: cada personagem tem motivações, personalidades e estilo de vida muito diferentes, e o que faz as histórias se cruzarem e no futuro as mesmas se unirem não é apenas o fato delas serem mulheres, mas sim a vontade de sobreviver no meio dessa violência e proteger Cassandra, uma criança no meio de toda a bagunça e que não tem noção da consequência das suas ações que a leva a se envolver em tudo isso.
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Um dos pontos diferenciais da trama é a forma que a mesma é contada. Isso porque tudo acontece na visão da personagem principal, que tem uma ideia de mundo muitas vezes peculiar. Assim, por vezes a história vai e volta para explicar detalhes que não tinham sido ditos antes, ou detalhes específicos que parecem desimportantes mas que tem muito foco. Algumas pessoas podem achar essa forma de contar uma história confusa, mas na verdade fez o filme ficar muito completo, e se você prestar atenção, mesmo detalhes ainda não ditos explicitamente já podem ser notados durante cenas anteriores (como por exemplo a história da Caçadora e sua ligação com a família Bertinelli).
E para fechar, algo muito importante no filme é a representatividade. Lógico, algo muito claro é a quantidade de mulheres no filme, com personalidades e vidas diferentes, mas também não sendo todas brancas, tendo assim a presença de pessoas negras, latinas e asiáticas. Além disso, existe a diversidade sexual também, que apesar de não ser grande parte da história, é mostrada na personagem de Renée, que é lésbica, sua ex-namorada (interpretada por Ali Wong, que é uma ótima comediante, super indico seus stand-ups) e a própria Harley Quinn, canonicamente bissexual nos quadrinhos, e que na cena inicial em que comenta sobre seus relacionamentos, mesmo que de forma breve é mostrado que também teve com mulheres.
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“Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa” é um longa-metragem divertido, bem elaborado e com uma história diferente do que estamos acostumados, e que vale a pena gastar um tempinho vendo. Não é a melhor a melhor produção audiovisual de super-heróis, não é a melhor do último ano, mas também não precisa ser, não podemos nos prender na ideia de que todas que se propõe a ser diferente tem que ser superior aos antecessores.
Lucas Nakamura
9 de março de 2020 at 21:08
Adorei principalmente o final do texto, não vejo o motivo de todos os filmes terem que ser o melhor filme de super-herói do ano/de todos e este foi um dos filmes mais divertidos e interessantes que tive o prazer de ver este ano 🙂