“The Loud House” (Chris Savino) é uma animação da Nickelodeon que estreou originalmente nos Estados Unidos, em 2016. O desenho conta a história de uma família com 11 filhos, 10 meninas e um menino, o Lincoln Loud (Sean Ryan Fox). O enredo é em torno das problemáticas da família dentro e fora de casa.
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A série surpreendeu desde sua estreia trazendo um casal gay. O melhor amigo de Lincoln, Clyde (Caleel Harris/Andre Robinson), é filho de dois homens que o criam de uma forma extraordinária. As questões LGBTQIA+ são tratadas desde o início com muita naturalidade. Clyde sempre aparece com seus dois pais em vários episódios e isso nunca foi sequer um questionamento, eles existem e ponto.
Mais tarde na segunda temporada a animação surpreende novamente trazendo uma personagem sáfica. Em um episódio onde os irmãos enfrentam uma saga para descobrir a verdade por trás de uma carta de um admirador secreto, todos eles começam a interagir com seus possíveis pares amorosos. Luna Loud (Nika Futterman) é a mais misteriosa de todas. Ela usa o nome “Sam” durante todo o episódio, mas com um pequeno detalhe, sem um pronome definido antes. Além disso, ela foge das possíveis interações com Sam até que finalmente envia uma carta.
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Luna bota a carta no armário da menina e ao final do episódio mostra Sam abrindo a carta e sorrindo, deixando a entender que ela corresponde com o mesmo sentimento por ela. Aqui ela supera seu primeiro obstáculo que é conseguir coragem para chegar até a menina, mas uma coisa super interessante dentro deste contexto é que em momento nenhum, ela trata esta situação como algo incomum. Ela se sente apaixonada por Sam e o único problema que ela sente que existe é o medo da rejeição, que LGBTQIA+s e héteros vivem diariamente.
Mas o que essa personagem significa para nossa comunidade?
Vivemos diariamente em uma sociedade heteronormativa em todos os contextos. Seja na realidade ou na ficção as representações que temos são de pessoas heterossexuais e quando diz respeito ao público infantil isso se torna mais forte. Hoje temos desenhos como “Steven Universo” e “Hora da Aventura” que quebraram um pouco esse tabu, mas ainda assim falta muito caminho para percorrer.
Quando Luna surge com essa paixão por Sam e quando isso não é um problema, um espaço de representação enorme é aberto. O público da série é majoritariamente infantil e isso é um diferencial porque a homossexualidade até hoje é um tabu quando se trata deste público. Muita gente ainda reproduz o discurso completamente antiquado de que “se meu filho vir pessoas gays ele vai ser gay” como se crianças fossem fantoches extremamente manipuláveis pelas mídias.
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Pesquisadores como José Sarmento e Philippe Ariès trazem há tempos essa pauta em que a infância é uma construção histórico-social. E isso nos mostra claramente que todos os tabus em torno dessa fase da vida foram histórico e socialmente criados, ou seja, dentro de uma sociedade historicamente homofóbica assuntos como esses ficariam excluídos dessa fase da vida.
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“The Loud House” apareceu em uma tentativa de mudar isso. Precisamos pensar em crianças como seres que vivem e produzem cultura o tempo todo e tem suas próprias interpretações sobre a realidade. É por isso que Luna vem com uma importância gigantesca junto com ela.
É uma personagem construída para além do receio. A sexualidade dela é naturalizada, da forma que deveria sempre ser, em todos os episódios seguintes, inclusive em um em que ela tem um encontro oficial com Sam. Os irmãos Loud tentam ajudá-la a se sair bem, porque a única insegurança que ela tem é a mesma de todos: fazer besteira na frente da pessoa por quem está apaixonada.
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A série animada é um grande ganho para a comunidade LGBTQIA+ como um todo. Nós precisamos ver a normalização da nossa sexualidade em todos os ambientes e plataformas, assim como as crianças precisam crescer normalizando todos os tipos de amor.