Falar sobre mim e bissexualidade equivale a falar sobre bissexualidade e a sociedade. Mas, Karolen, por que? Senta que lá vem um pouquinho de história (ou fica em pé, não sei, vai que você prefere ler de pé).
Lá na minha pré-adolescência existia uma coisa chamada fake e não é como o que a geração atual conhece. Na verdade, o fake era o seguinte: você fazia um perfil no Orkut usando a foto de um personagem que gostasse, atribuía um nome esquisito a este – vide Naah, Ni, Nó, Maçã, Spoleta, enfim, o que desse na telha – e utilizava isto para criar uma espécie de universo imaginário à la “Second Life” só que sem a plataforma do jogo. Aqui, você imaginava tudo e conversava com os outros como você via MSN. De vez em quando você era ligado alguma família, surgiam relacionamentos, até casamentos. Tinham comunidades feitas que era a Mansão do fulano de tal, o casamento de ciclano, etc.
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Bom, eu, como uma pré-adolescente fã de “RBD”, criei meu próprio fake de uma das personagens e mais tarde outro de “Gossip Girl”. E foi ali, e um pouco graças ao grupo mexicano, que tive meu primeiro contato com pessoas LGBTQIA+ da mesma faixa etária que eu ou um pouco mais velhos. É que assim, o fake era mistura de todo tipo de gente, tinha menina se passando por menino, menino se passando por menina e por aí vai. Portanto, foi no meio dessas confusões confusas que conheci a comunidade.
Em paralelo a isto, na minha real life, só tinha amigos que até então eram héteros e na minha família, o grupo mais próximo, não existia exemplos do que acontecia comigo. Acreditava, na minha inocência, que a admiração que tinha por outras mulheres não se passava disto. E foi aí que *PLIM*: estava em casa sozinha, zapeando pelos canais – vivia um eterno (e sigo vivendo) procurar algo novo para assistir – que me deparei com o longa-metragem “Imagine Eu & Você” e devido a beleza de Lena Headey decidi conferir até o final. Sabe aquele momento em que tudo se revela diante seus olhos? Mais ou menos o que aconteceu. Ali, entendi que a tal “admiração” não era só isso.
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Contudo, demorei alguns anos para me expor as pessoas próximas e quando resolvi falar com meus amigos abertamente, disse que era lésbica. Como sempre escutei que todos que “gostam dos dois” é indeciso, tem mais chances de trair, entre outros absurdos, congelei minha atração por aqueles do sexo oposto. Era mais fácil ser gay do que ser bi. E por alguns anos assim me declarei. Não tinha exemplos de bissexualidade entre aqueles que faziam parte do meu grupo social e tais associações fixaram de forma muito profunda no meu inconsciente. Como sempre fui muito decidida sobre o que queria, não havia a possibilidade de estar/ser indecisa. Quem associa o B de LGBTQIA+ a essas denominações insensíveis, não imagina o quanto pode prejudicar alguém que está em processo de descoberta sobre si.
Devido ao fato de ser muito comunicativa, conheci alguém com uma mente mais aberta do que a minha e, em paralelo a isto, acompanhava a trajetória de Callie Torres (Sara Ramirez), em “Grey’s Anatomy”, as conversas com esta colega, o desenvolvimento da trama desta personagem, mais a série “South of Nowhere”, me ajudaram a entender que o B existe – e também é de badass –, e não existe nada de errado em se sentir atraído por ambos os sexos. Eu não sou indecisa ou traíra por ser bissexual, não vou sentir falta de um depois de certo tempo, porque estou com o outro. A bifobia está tão presente dentro da própria comunidade que hoje reconheço o quanto era bifóbica durante o tempo que me declarei lésbica.
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A representatividade positiva, o desenvolvimento correto da narrativa é tão crucial que devemos constantemente estar questionando e lutando por ele, esta, inclusive, sendo uma das razões de criar o LesB Out!. A intenção é continuar divulgando tais conteúdos e denunciando aqueles que possuem posições negativas. E para finalizar, o B é realmente de biscoito (bolacha só se for um soco na cara, tá bem? Sou carioca! /brincadeira), de bicicleta, de Blanchett, de badass e também é de BISSEXUAL.