Se você alguma vez já se perdeu em terras de youtube, certeza que já esbarrou em vídeos de Spencer (Gabrielle Christian) e Ashley (Mandy Musgrave), ou melhor #Spashely. O casal tornou-se parte da história da representação LGBTQ+ na televisão por ser o primeiro casal homoafetivo protagonista em uma série destinada ao público adolescente.
Exibida pela primeira vez em 2005, “South of Nowhere” é uma série de drama adolescente criada Tommy Lynch (“The Other Kingdom”). A produção segue a vida da família Carlin, enquanto eles tentam se ajustar a mudança de Ohio para Los Angeles, Califórnia. Um dos principais focos da série é a relação entre Spencer Carlin e Ashley Davies. O primeiro encontro delas é um desastre total, mas tudo é resolvido e ao longo da primeira da temporada elas percebem que o que sentem uma pela outra é muito mais que amizade.
Na primeira parte, Spencer tenta entender o que sente pela personagem de Musgrave, chegando até se envolver com Aiden (Matt Cohen), ex-namorado de Ashley, para tentar reprimir os sentimentos. É nesse cenário de negação e aceitação que o relacionamento das duas é construído, e o que garantiu aos fãs os momentos sublimes, como a primeira vez de Spashley. Na segunda temporada, Spencer enfrenta os conflitos em se assumir lésbica, chegando até o momento em que ela é obrigada por sua mãe, Paula Carlin (Maeve Quinlan), a encontrar um líder religioso que pretende curá-la desse “mal”. Já na última etapa da série, Spencer e Ashley, enfrentam problemas no relacionamento que leva ao término. Ao longo da temporada, as duas se reconciliam e decidem dar um passo mais sério na relação.
“South of Nowhere” não mediu esforços em discutir os temas que fazem parte do universo adolescente, proporcionando enredos que ajudaram diversos jovens ao redor do mundo. A série está repleta de cenas maravilhosas, mas gostaria de destacar algumas:
Quando Arthur (Rob Moran), pai de Spencer, diz que vai amá-la não importando quem ela seja;
A primeira vez de Spencer e Ashely;
A maneira que Paula reage ao flagrar Spencer e Ashley juntas;
Quando a Paula obriga Spencer a conversar com um líder religioso;
A surpresa que Ashley faz a Spencer ao convidá-la para o baile;
A morte de Clay (Danso Gordon), depois que a escola sofre um tiroteio;
Ashley e Paula chegando juntas na Parada do Orgulho LGBTQ+, surpreendendo Spencer;
A reconciliação de Spashley;
Quando Ashley convida Spencer para morar com ela <3
Cada uma dessas cenas foi importante para o amadurecimento dos personagens, principalmente para o desenvolvimento da mãe da protagonista, que no início odiava a ideia de que poderia ter uma filha lésbica, mas que no fim da série torna-se uma das principais pessoas a apoiá-la. Isso deu aos adolescentes LGBTQ+ a esperança de que seus pais e amigos irão aceitá-los assim como ocorreu com Spencer e sua mãe.
Além da sexualidade das protagonistas, a criação de Lynch abordava outras temáticas como: racismo, aborto, adoção, drogas, bebidas, gravidez na adolescência, sexo, violência nas escolas, porte de arma, pressões sobre o futuro, faculdade, traição e religião. A série que era promissora para a época, discutia assuntos que eram considerados tabus de maneira responsável e delicada, e por isso recebeu diversas críticas positivas do TV Guide, The Boston Tribute, New York Post, New York Daily News, Entertainment Weekly e Variety.
A produção foi um grande sucesso por causa das nuances da narrativa, mas também pela química entre Gabrielle e Mandy. A dinâmica das duas funcionava de maneira esplendida. Musgrave interpretava primorosamente a adolescente experiente e rebelde, enquanto o anjo Christian, dava vida a doce menina Spencer. Mesmo com o fim de “South of Nowhere”, as duas voltaram a trabalhar juntas na websérie “Girltrash”, e mais tarde no filme “Girltrash: All Night Long”, como par romântico. Além de nos proporcionarem cenas fofas na ficção, as duas nos presenteiam com momentos maravilhosos fora das telinhas, pois a amizade que surgiu durante as gravações permanece até hoje.
“South of Nowhere” não foi só promissora em representatividade LGBTQ+ na televisão. Durante as gravações da série foram produzidos conteúdos para a internet. Houve um investimento na produção de web-episódios, dentre eles o “Five Years Later” que avançava cinco anos e mostrava Spencer e Ashely casadas, a espera de um bebê.
Faz mais de uma década desde que o primeiro episódio foi exibido, Gabrielle e Mandy, assim como seus personagens, cresceram, casaram (não uma com a outra, para minha tristeza), se tornaram mãe e aliadas da comunidade LGBTQ+. Inclusive, em 2014, a atriz que deu vida a Spencer junto com Nicole Pacent, protagonista da websérie “Anyone But Me”, participaram do curta “SHE”, que promovia o reconhecimento do casamento homoafetivo. Confira:
“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.
No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.
Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.
O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.
A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.
A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.
Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.
Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video“The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?
Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?
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Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.
Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.
Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?
A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.
A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.