GLAAD Media Awards 2021 aconteceu na última quinta-feira (8) e pelo segundo ano consecutivo o evento foi realizado de forma virtual devido a pandemia do Covid-19. A premiação celebra séries, filmes, músida e jornalistas pela inclusão de representatividade LGBTQIA+ e as discussões de tópicos relevantes da comunidade produzidas no último ano.
A cerimônia foi transmitida pelo YouTube e contou com a apresentação da atriz Niecy Nash, além de diversas atrações musicais, como CHIKA, Rebecca Black e Jessica Betts. A noite também teve uma emocionante homenagem à atriz Naya Rivera, que morreu em 2020. Atores de “Glee” se reuniram para relembrar a história da mesma e a importância da personagem Santana Lopez para a comunidade LGBTQIA+.
Entre os premiados, esteve “Alguém Avisa?”, que levou o prêmio de Melhor Filme com Grande Lançamento. O esperado longa-metragem protagonizado por Kristen Stewart e Mackenzie Davis trouxe certa “polêmica” em seu público alvo, porém isso não tira a importância da sua existência. Ainda são poucos os filmes focados em casais LGBTQIA+ em grandes estúdios. Principalmente os good vibe, ou seja, comédia romântica com final feliz.
Estava na hora da gente ter a nossa comédia romântica natalina! Temos também “Season of Love”, porém esta é uma produção com lançamento extremamente limitado. Já o longa de Clea DuVall, lançado pela Hulu, nos Estados Unidos, conseguiu chegar na casa de milhares de pessoas fora da nossa bolha.
Outro destaque entre as categorias de cinema foi a vitória do excelente “The Boys in the Band”, na categoria de Melhor Filme com Lançamento Limitado. O filme da Netflix estava concorrendo contra “Ammonite”, “Você Nem Imagina”, “Kajillionaire”, entre outros.
Baseado na peça de mesmo nome, que já tinha conquistado as telonas com uma adaptação nos anos 1970, essa versão produzida por Ryan Murphy foi o meu primeiro contato com o ganhador. E tenho um ponto fraco para produções que acontecem em um pequeno período de tempo e/ou em apenas um ambiente. O longa dá todo o espaço necessário para os atores brilharem e eles entregam um entretenimento acima do nível.
Porém, entre os indicados, “Você Nem Imagina” e “Kajillionaire” foram os grandes destaques de 2020 para mim. Apesar de ter apenas dois filmes na carreira, Alice Wu é um nome de grande importância para o cinema LGBTQIA+ e ela conseguiu aproveitar lindamente esse espaço na Netflix com a produção, trazendo uma roupagem nova para uma história que já vimos diversas vezes. Já Miranda July trouxe uma trama única com “Kajillionaire”, que tem Evan Rachel Wood entregando uma das melhores atuações do ano.
Neste ano tivemos grandes documentários concorrendo e o grande vencedor foi o importantíssimo “Disclosure”. A produção aborda a representação e inclusão de pessoas transexuais em Hollywood, assim como o impacto que essas histórias causam. Esse é um filme necessário e quem não assistiu ainda, corre pra Netflix que vale muito a pena. Além dele, para quem é viciada em televisão como eu, recomendo “Visible: Out on Television”, da Apple TV+. A série documental também estava indicada na categoria e traz uma incrível viagem pela representação de pessoas LGBTQIA+ na história da televisão.
Passando para as séries, Melhor Comédia ficou com “Schitt’s Creek”, que encerrou sua produção em 2020. A trama vem conquistando todos os prêmios possíveis, então fica até difícil questionar essa vitória, apesar de outros excelentes nomes na lista de indicados, como as novatas “Everything’s Gonna Be Okay” e “Twenties”.
Já em drama o prêmio ficou com “Star Trek: Discovery”. Não acompanho a produção, mas sei da importância que ela tem ao introduzir personagens LGBTQIA+ no universo de “Star Trek”. Ao mesmo tempo, não tenho como não ficar triste com a temporada final de “Vida” não ganhando esse reconhecimento. A série foi parte fundamental para esse leve avanço da comunidade latina nas telas. E, infelizmente, deixou um buraco que não deve ser preenchido tão cedo.
Ano passado, o prêmio de Melhor Programa Infantil e Família foi para “High School Musical: The Musical: The Series” e para mim foi um dos prêmios mais injustos do ano passado. Bom, mas a justiça tarda, mas não falha. E em 2021 só tinha um resultado possível: “She-Ra e as Princesas do Poder”.
Junto com “Steven Universe”, a produção animada abriu as portas para a introdução de personagens LGBTQIA+ em desenhos animados infantis. E na sua última temporada, o desenho não apenas abriu, como chutou a porta para longe para que ela nunca mais fique fechada. Além de Catradora finalmente acontecendo, a série conseguiu fechar brilhantemente a história desses personagens tão queridos, trazendo a força do amor e da amizade. Noelle Stevenson, obrigada por tudo.
Essa categoria dá um quentinho no coração de uma forma especial. É incrível ver produções voltadas para o público infantil abordando esses temas e fazendo isso de forma tão linda. Além de “She-Ra e as Princesas do Poder”, outras animações vem trazendo personagens LGBTQIA+ de forma bastante delicada, sem transformar isso em um grande momento. É só mais um detalhe da vida desses personagens. Agora temos a novata “A Casa Coruja”, que vem seguindo lindamente os passos. Essas pequenas vitórias fazem toda a diferença.
Confira a lista completa dos vencedores do Glaad Media Awards 2021:
Outstanding Film – Wide Release
“Happiest Season” (Hulu/TriStar Pictures)
Outstanding Film – Limited Release
“The Boys in the Band” (Netflix)
Outstanding Documentary
“Disclosure” (Netflix)
Outstanding Comedy Series
“Schitt’s Creek” (Pop)
Outstanding Drama Series
“Star Trek: Discovery” (CBS All Access)
Outstanding TV Movie
“Uncle Frank” (Amazon Studios)
Outstanding Limited or Anthology Series
“I May Destroy You” (HBO)
Outstanding Reality Program
“We’re Here” (HBO)
Outstanding Children’s Programming
“The Not-Too-Late Show with Elmo” (HBO Max)
Outstanding Kids & Family Programming
[TIE]: “First Day” (Hulu) and “She-Ra & The Princesses of Power” (DreamWorks Animation/Netflix)
Outstanding Music Artist
Sam Smith, “Love Goes” (Capitol)
Outstanding Breakthrough Music Artist
CHIKA, “Industry Games” (Warner Records)
Outstanding Video Game
Tell Me Why (DONTNOD Entertainment & Xbox Game Studios)
The Last of Us Part II (Naughty Dog & Sony Interactive Entertainment)
Outstanding Comic Book
“Empyre, Lords of Empyre: Emperor Hulkling, Empyre: Aftermath Avengers,” by Al Ewing, Dan Slott, Chip Zdarsky, Anthony Oliveira, Valerio Schiti, Manuel Garcia, Cam Smith, Marte Gracia, Triona Farrell, Joe Caramagna, Ariana Maher, Travis Lanham (Marvel Comics)
Outstanding Variety or Talk Show Episode
“Lilly Responds to Comments About Her Sexuality” A Little Late With Lilly Singh (NBC)
Outstanding TV Journalism Segment
“Dwyane Wade One-On-One: Basketball Legend Opens Up About Supporting Transgender Daughter” Good Morning America (ABC)
Outstanding TV Journalism — Long-Form
“ABC News Joe Biden Town Hall” (ABC)
Outstanding Print Article
“20 LGBTQ+ People Working to Save Lives on the Frontline” by Diane Anderson-Minshall, David Artavia, Tracy Gilchrist, Desiree Guerrero, Jeffrey Masters, Donald Padgett, and Daniel Reynolds (The Advocate)
Outstanding Magazine Overall Coverage
People
Outstanding Online Journalism Article
“Gay Men Speak Out After Being Turned Away from Donating Blood During Coronavirus Pandemic: ‘We are Turning Away Perfectly Healthy Donors'” by Tony Morrison and Joel Lyons (GoodMorningAmerica.com)
Outstanding Online Journalism — Video or Multimedia
“Stop Killing Us: Black Transgender Women’s Lived Experiences” by Complex World (Complex News)
Outstanding Blog
TransGriot
Barbara Gittings Award for Excellence in LGBTQ Media
Windy City Times
Special Recognition
“After Forever” (Amazon)
Deadline’s New Hollywood Podcast
“Happiest Season” soundtrack (Facet/Warner Records)
“Noah’s Arc: The ‘Rona Chronicles” (Patrik Ian-Polk Entertainment)
“Out” (Pixar/Disney+)
“Razor Tongue” (YouTube)
“The Son” episode, “Little America” (Apple TV+)
Outstanding Spanish-Language Scripted Television Series
“Veneno” (HBO Max)
Outstanding Spanish-Language TV Journalism
“La Hermana de Aleyda Ortiz Narra Cómo Salió del Clóset y Cómo se lo Comunicó a su Familia” Despierta América (Univision)
Outstanding Spanish-Language Online Journalism Article
“Desapareció en México, Solo se Hallaron sus Restos: La Historia de la Doctora María Elizabeth Montaño y su Importancia para la Comunidad Trans” por Albinson Linares y Marina E. Franco (Telemundo.com)
Outstanding Spanish-Language Online Journalism – Video or Multimedia
“Soy Trans: El Camino a un Nuevo Despertar” por Sarah Moreno, Esther Piccolino, y José Sepúlveda (El Nuevo Herald)
Special Recognition (Spanish-Language)
Jesse & Joy, “Love (Es Nuestro Idioma)”
Jornalista nascida no Rio de Janeiro e atualmente morando em Fortaleza. Cresceu assistindo filmes da Sessão da Tarde, Dragon Ball e Xena: A Princesa Guerreira. Constantemente falando coisas aleatórias sobre cinema, televisão e música.
“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.
No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.
Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.
O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.
A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.
A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.
Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.
Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video“The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?
Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?
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Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.
Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.
Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?
A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.
A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.