No dia 19 de junho de 1898, o ítalo-brasileiro Afonso Segreto gravou as primeiras imagens em movimento no Brasil. O cineasta registrou imagens da sua chegada à Baia de Guanabara, no Rio de Janeiro. Para relembrar esse momento histórico, a data é uma das usadas para celebrar o dia do Cinema Nacional.
O cinema brasileiro é muito rico, apesar ainda de ser pouco explorado pelo grande público. Na maioria das vezes, o que temos nos cinemas são filmes mais voltados para família, grandes comédias e alguns que conseguem quebrar as barreiras impostas. Produções nacionais LGBTQIA+ normalmente tem pouquíssima visibilidade e muitos acabam passando despercebido pelo público que não vai atrás de conhecê-los.
Para comemorar esse dia e celebrar o cinema brasileiro, separei oito filmes nacionais com mulheres LGBTQIA+ para você conhecer ou relembrar nesta data. Então, vamos pegar a pipoca e aproveitar esse sábado com o nosso cinema!
Como Esquecer (2010)
“Como Esquecer” acompanha Júlia (Ana Paula Arósio), uma professora que luta contra a depressão enquanto tenta se recuperar após ser abandonada pela namorada de mais de dez anos. O longa é dirigido por Malu de Martino e é inspirado no romance “Como Esquecer – Anotações quase Inglesas”, de Myriam Campello. Além de Arósio, o filme também conta com Murilo Rosa, Natália Lage, Arieta Corrêa e Bianca Comparato no elenco.
O longa-metragem está disponível no Looke.
O Uivo da Gaita (2013)
Dirigido por Bruno Safadi e com roteiro de Paulo Halm, “O Uivo da Gaia” faz parte da trilogia “Operação Sonia Seda”. Os três filmes contam com a mesma equipe de produção e elenco. Os outros dois longas são “O Rio nos Pertence” e “O Fim de Uma Era”. Neste somos apresentados ao casal formado por Antônia (Mariana Ximenes) e Pedro (Jiddu Pinheiro). O relacionamento deles começa a desmoronar após a chegada de Luana (Leandra Leal), por quem Antônia se apaixona.
O longa está disponível no Looke.
Elvis & Madona (2010)
A comédia romântica dirigida por Marcelo Laffitte acompanha um casal improvável formado por uma lésbica e uma travesti. Elvis (Simone Spoladore) é uma entregadora de pizza que sonha em ser fotógrafa. Madonna (Igor Cotrim) trabalha como cabeleireira e sonha em produzir um show de teatro. As duas se conhecem durante uma entrega de Elvis e logo se tornam inseparáveis.
Alice Júnior (2019)
A Youtuber Alice (Anne Celestino) tem uma vida completamente alterada quando ela e seu pai precisam se mudar de um bairro nobre de Recife para o interior do Paraná. Na nova cidade, Alice, uma adolescente trans, precisa lidar com uma sociedade conservadora enquanto tenta sobreviver ao Ensino Médio. A comédia adolescente tem direção de Gil Baroni, e roteiro de Luiz Bertazzo e Adriel Nizer Silva.
O longa de suspense e drama é centralizado em Bia (Valentina Herszage), uma adolescente que após entrar em contato com a morte faz de tudo para se sentir viva. Enquanto isso, o bairro onde a ela mora começa a sofrer uma onda de assassinatos de meninas. “Mate-Me Por Favor” é a estreia na direção de Anita Rocha da Silveira, que também é responsável pelo roteiro.
As Boas Maneiras (2017)
Misturando terror, fantasia e folclore, a dupla Marco Dutra e Juliana Rojas apresenta uma ambientação diferente de São Paulo, onde conhecemos uma enfermeira que é contratada para ser babá de uma criança que ainda não nasceu. A babá e a mãe da criança criam um forte laço, enquanto estranhos acontecimentos surgem conforme a gravidez vai avançando. O longa é protagonizado por Marjorie Estiano e Isabél Zuaa.
O filme está disponível na Globoplay e Telecine.
Meu Corpo é Político (2017)
Dirigido por Alice Riff, o documentário acompanha o dia a dia de quatro ativistas transexuais que vivem na periferia de São Paulo. A partir da visão de Fernando Ribeiro, Giu Nonato, Linn da Quebrada e Paula Beatriz, o filme traz o lado íntimo da vida dos personagens, bem como o contexto social, levantando questões sobre a população trans brasileira e suas disputas políticas.
A produção está disponível no Mubi.
Bixa Travesty (2018)
Mais um documentário para encerrar a nossa lista. “Bixa Tranvesty” traz a vida da cantora e atriz Linn da Quebrada. O documentário dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifman retrata como a artista usa seu corpo e performances como armas para lutar contra sexismo, homofobia e racismo.
Jornalista nascida no Rio de Janeiro e atualmente morando em Fortaleza. Cresceu assistindo filmes da Sessão da Tarde, Dragon Ball e Xena: A Princesa Guerreira. Constantemente falando coisas aleatórias sobre cinema, televisão e música.
“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.
No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.
Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.
O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.
A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.
A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.
Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.
Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video“The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?
Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?
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Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.
Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.
Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?
A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.
A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.