“The Watermelon Woman”, filme de 1996, mistura ficção e documentário ao contar a saga de Cheryl (interpretada pela própria diretora do filme, Cheryl Dunye) em se tornar uma filmmaker negra e lésbica. Cheryl trabalha em uma videolocadora e faz alguns bicos de filmagem com sua amiga Tamara, mas nada voltado para o cinema, e ela finalmente está empolgada com um projeto pessoal.
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Seu projeto é descobrir quem é a “The Watermelon Woman” que aparece em um filme da década de 1930 como uma mulher negra estereotipada, papel esse que era comumente conhecido como “mammie”. As mulheres negras nesses papéis geralmente eram colocadas grandes senhoras voltadas somente para a devoção dos seus patrões brancos. (Um exemplo de um papel de ‘mammie’ que pode ser relacionado aqui no Brasil é o da Tia Anastácia.) Além disso, essas atrizes raramente eram creditadas ou tinham algum reconhecimento por sua atuação.
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Cheryl então começa a procurar e perguntar para as pessoas se elas conheciam quem era a Watermelon Woman e enquanto faz sua pesquisa, sua vida pessoal também começa a se agitar. A protagonista conhece uma jovem no seu local de trabalho e as duas começam a flertar, a muito contragosto da sua amiga Tamara (Valarie Walker), que possuía ressalvas sobre a garota. Apesar da amiga, ela e a garota, chamada Diana (Guinevere Turner), engatam um relacionamento.
O filme mostra muito da dita cena alternativa LGBTQIA+, em especial das mulheres negras e lésbicas, com arquivos sobre mulheres lésbicas que são reunidos e catalogados por outras lésbicas, coletivos, saraus, encontros.
Cheryl faz sua pesquisa sobre a Watermelon Woman, descobrindo seu nome, seus contatos e sua história dentro da própria comunidade lésbica negra. Descobre também sobre como uma pessoa branca que, supostamente, deveria ter ajudado ela, acabou apenas a usando de trampolim para sua própria fama. A protagonista, então, se aprofunda ainda mais e encontra muito mais coisas para humanizar aquela mulher sem nome. A primeira dessas é o nome dela: Fae Richards (Lisa Marie Bronson).
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O longa-metragem tem um toque de comédia, mas também puxa muito para o lado da crítica social: sobre a invisibilidade de mulheres negras e lésbicas que não performam feminilidade, sobre a fetichização do corpo negro, sobre a violência policial contra pessoas negras. A produção possui mais de 20 anos e ainda é muito atual nos temas que aborda.
“The Watermelon Woman” mistura a ficção com a realidade, já que essa invisibilidade de mulheres negras no cinema no início de Hollywood pode ser aplicada a qualquer uma e isso aumenta ainda mais se for uma mulher queer.
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Cheryl Dunye tem como temática, em quase todos os seus trabalhos, as questões referentes à raça e sexualidade, principalmente voltados para mulheres negras. “The Watermelon Woman” foi o primeiro filme dirigido e escrito por uma lésbica negra para lésbicas negras.
O longa está disponível no Youtube.