Alice Carvalho é atriz e escritora, conhecida por seus dois livros “Do Amor” e “A Princesa Empoderou”, abordando neste último temas como feminismo e homofobia. Além disso, ela também fez o monólogo “Inkubus”, em que denuncia a violência contra mulher. No meio LGBTQ+, ela ficou famosa por ser a protagonista e roteirista da websérie “SEPTO”, que tem conquistado cada vez mais o júri de premiações nacionais e internacionais, e conta a história de Jéssica Borges (Carvalho), uma jovem triatleta que vive o sonho do pai de vê-la nas Olimpíadas.
O LesB Out! teve a oportunidade de conversar com a artista sobre sua atuação em “SEPTO”, o futuro da websérie, qual crossover está tentando fazer acontecer e muito mais. Confira:
LesB Out!: “SEPTO” se passa em Natal, no Rio Grande do Norte, e vem chamando a atenção dos festivais nacionais e internacionais. Inclusive, o prêmio mais recente que vocês ganharam foi o de melhor direção no São Paulo Web Fest, mas também já concorreram a prêmios na Coreia, Alemanha, Argentina, EUA. Como é para você ter “SEPTO” recebendo todo esse reconhecimento internacional?
Alice Carvalho: “Surreal” é a palavra. Acho que é inacreditável não só pra nós da equipe, mas pro grande público que mora em Natal, já que é de conhecimento de todos os potiguares que a arte produzida aqui na esquina do país é menos vista e menos valorizada financeiramente. Chegar num patamar desses fazendo o nosso “cinema roçoio”, que é o audiovisual de guerrilha, me passa a impressão de que estamos no caminho certo para o fomento do setor no estado como também para quebra de alguns preconceitos e clichês com o que se produz no nordeste. A gente é mais que seca, fome e cangaço – a gente é seca, fome, cangaço, fartura, urbano, litoral, tecnologia e também competência técnica.
LO: Durante a São Paulo Web Fest você comentou que quando o pessoal de “RED” chegou “por aqui” ainda era tudo mato. Portanto, como é estar na mesma lista que a websérie de Germana Belo e Viv Schiller de Webséries Mais Relevantes do Mundo?
AC: Sou apaixonada pelas meninas e pelo Fernando. “RED” foi a primeira série lésbica que eu vi na vida, me ajudou bastante no processo de criação, é uma referência naturalmente. Gosto muito da delicadeza da cena e da fotografia crua, além de ser louca por Lu, Ana Paula, Monique… A nossa troca é sempre muito rica e acho ótimo que essa admiração é mútua. A gente tá forçando a barra/paquerando elxs para uma participação na nossa próxima temporada de “SEPTO”. Já pensou?
LO: Você, além de estrelar a série, também é a idealizadora do projeto. Quais foram as suas inspirações para criá-la?
AC: Acho que na época havia uma inquietação grande para colocar no mundo um roteiro assinado por mim profissionalmente, vê-lo rodado. Inicialmente “SEPTO” ia até ser um curta, mas Pipa Dantas, ex-diretora geral do projeto, jogou essa ideia e eu comprei de cara. Para trama eu bebi muito de referências auto-biográficas como um câncer que minha mãe teve (e ficou super bem!), relacionamento… Os meninos (Aureliano Medeiros e Frank Aleixo) também refletiam muito sobre Bauman na época e essa coisa da liquidez… É uma colcha de retalhos imensa, por isso que eu não ouso dizer que é um trabalho meu. Ele foi parido à 6 mãos.
LO: Quais foram os maiores desafios encontrados para a criação e desenvolvimento de “SEPTO”?
AC: Grana, sempre. O resto a gente contornou bem.
LO: Além de trazer os dramas de uma triatleta com a oportunidade de ir às Olimpíadas, a websérie também explora o romance entre Jéssica e Lua, mostrando uma representatividade muito importante e necessária. Como você lida com a recepção do público LGBTQ+?
AC: Foi muito louco quando “SEPTO” explodiu para esse público. É incrível o que eu e Priscilla Vilela recebemos diariamente de apoio e suporte, de agradecimento pela representatividade e pela cara a tapa que a gente deu. A gente lida com o público sem barreira egoica nenhuma, tratando como migas mesmo. Acho que é esse o caminho sempre.
LO: Qual foi o maior desafio em interpretar a Jéssica? Como foi a sua preparação para viver a personagem?
AC: Perdi nove quilos, ganhei mais três de músculo e raspei o cabelo, além de gravar 90% da série sem maquiagem nenhuma – coloquei só quando a personagem tinha que usar pra ir num encontro com a Lua. Acho que foi importante para desconstrução de um padrão estético como atriz e como mulher. Foi ficando careca que eu percebi como a gente dá importância demais a se enquadrar num ideal de beleza… Foi massa. E dolorido! Mas massa, acima de tudo. ♥
LO: Já é de conhecimento que “SEPTO” ganhará uma segunda temporada, existe algo que possa nos adiantar sobre o que está por vir? Há alguma previsão de lançamento?
AC: Estejam atentos aos pequenos detalhes. Essa temporada vem sútil e eletrizante. Agora contamos com o reforço Vitoria Real – uma lésbica/diretora/cineasta/gênia/cheirosa/sensacional – na equipe de roteiro e Helio Ronyvon, que dirigiu o quinto episódio da primeira temporada, como supervisor dos tratamentos. Vai ser lindo! Aguentem um pouquinho que a demora é preciosismo também!
E vocês, gostariam de ver Luciana Bollina ou Ana Paula Lima fazendo uma participação na websérie? Você pode conferir todos os episódios de “SEPTO” no canal Brasileiríssimos.