Contém spoilers
No dia 3 de agosto de 2018 estreou o em todos os cinemas brasileiros o filme “Ana e Vitoria”, do diretor Matheus Souza. A obra é uma mistura de comédia romântica e musical que conta a história de como surgiu o duo “AnaVitoria”, além disso, a narrativa tenta mostrar como funciona os relacionamentos atuais.
Ana, interpretada por Ana Caetano, é uma garota que desistiu da faculdade de medicina para se dedicar a sua paixão a música. Desde pequena Ana sonha com o amor, e em encontrar alguém para ficar junto. Enquanto isso, Vitoria, interpretada por Vitoria Falcão, vai para o Rio de Janeiro para encontrar a si mesma e diferente de Ana, Vitoria não tem uma visão tão romântica sobre relacionamentos.
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Os romances que são apresentados no filme e a história de como o duo se tornou um grande sucesso mundial é embalado pelas novas músicas do seu álbum ‘’O tempo é agora’’. Em uma entrevista, as meninas afirmam que o roteiro foi criado a partir das músicas que foram apresentadas para o diretor do filme. O grande ponto positivo do longa é que ele apresenta e explica muito bem os relacionamentos atuais, com o diferencial de que Ana e Vitoria são duas meninas bissexuais e isso é algo muito pertinente, principalmente porque apresentar a representatividade bissexual que é quase inexistente no cinema brasileiro.
Ana e Cecília e os desafios dentro de um relacionamento
O grande destaque no filme é o relacionamento que Ana tem com Cecília (Classice Muller), uma garota que ela conhece numa festa. O mais inusitado é que as duas passam a ter interesse uma pela outra logo após Ana terminar com sua namorada Yasmin (Erika Mader) e mesmo assim Ana se entrega a esse relacionamento com Cecília. Muito visto nos dias de hoje, Ana e Cecília vivem um relacionamento à distância e o filme traz as conversas por WhatsApp, a troca de fotos, o que torna o romance mais real.
Infelizmente, o filme retrata muito pouco a questão de assumir a sexualidade para a família, visto que em um determinado momento Cecília pede satisfações à Ana sobre a mãe saber que está namorando uma menina. Esse é um dos muitos motivos que o relacionamento entre as duas não dá certo, e também porque Ana está passando por um período muito agitado em sua vida profissional, devido ao sucesso da dupla.
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De forma bem rápida, quase instantânea, Ana entra em um relacionamento com Thiago (Caique Nogueira), que também dura muito pouco. Assim, essa entrega que Ana tem em relação ao amor vai se tornando uma frustração em sua vida, já que todos os seus relacionamentos dão errado. Esse comportamento de Ana é muito parecido com como algumas pessoas se relacionam, afinal, com certeza você deve ter conhecido alguém que sai de um relacionamento e logo em seguida já começa outro. Como consequência, Ana passa a ter uma visão pessimista sobre o amor, o que é irônico, porque ela acredita que precisa estar em um relacionamento para inspirar-se e escrever suas músicas.
Vitoria e a forma como relacionamento aberto funciona
Durante todo o longa, a vida amorosa de Vitoria se mostra ser um tanto agitada, já que ela possui um rolo com Ricardo Guilherme (Victor Lagomolia), e quando digo rolo, é um relacionamento em que eles ficam quando é conveniente para os dois, sem nenhum tipo de compromisso afetivo. Além disso, Vitoria também se relaciona com Júlia (Gabriela Nunes), que afirma viver um relacionamento aberto com seu namorado.
Um ponto bastante positivo é a como o filme apresenta o relacionamento aberto. Muitas pessoas hoje em dia vivem um relacionamentos abertos e conseguem lidar muito bem com isso, e o filme retrata esse relacionamento de forma bem fácil para o seu público. Apesar de Vitoria viver enrolada com essas duas pessoas, ela se sente realmente atraída e apaixonada por Bruno (Bryan Ruffo), porém como ele namora, ela apenas contenta-se com a amizade que tem com o rapaz.
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Assim, Vitoria mostra como os relacionamentos são bem superficiais, já que tudo não passa apenas de atração física e uma vontade de lidar com a carência. Esses tipos de relacionamentos são bem comuns nos dias atuais, e a internet estimula ainda mais esses tipos de comportamentos, principalmente com o surgimento de aplicativos de relacionamento em que as pessoas são apresentadas como um ‘’cardápio’’ que você apenas pode ter um encontro de uma noite, ou não.
Enquanto eu assistia o filme, me lembrei muito do sociólogo Zymunt Bauman. Seu estudo é direcionado à modernidade líquida e ele afirma que na sociedade atual, nada é feito para durar. Em uma de suas obras intitulada ‘‘Amor Líquido’’, Bauman analisa a dinâmica dos relacionamentos amorosos atuais, que tomou diferentes proporções devido à globalização.
Desse modo, “Ana e Vitoria” pode parecer 1h55 de puro entretenimento, diversão e imersão ao mundo fictício que foi criado para contar a história do duo, mas se olharmos melhor também podemos ver como a obra critica o modo como os relacionamentos atuais acontecem.