A esse ponto você já deve ter ouvido falar da série “Dickinson“, focada na história da poetisa estadunidense Emily Dickinson. A segunda temporada, finalizada no final de fevereiro, tem um foco um pouco diferente do que a primeira. Se no começo a obsessão de Emily (Hailee Steinfeld) era com a morte, agora vemos a garota em um grande dilema sobre a fama e suas consequências.
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Nos primeiros episódios já podemos perceber que o ritmo da narrativa vai ser mais lento a partir de agora. Se o primeiro ano cobriu vários acontecimentos até o casamento de Sue (Ella Hunt) e Austin (Adrian Enscoe), o segundo mostrará como o casamento afetou a vida de todos, além de se aprofundar ainda mais nos sentimentos de Emily e sua vontade de publicar seus poemas. De cara, o espectador que estava acostumado com a dinâmica antiga pode achar a nova fase mais enrolada, porém, ao decorrer da trama, percebemos que tudo o que foi mostrado é necessário para chegar em uma season finale de tirar o fôlego.
Entendemos como o casamento afetou toda a família: o incômodo dos pais de Austin (Jane Krakowski e Toby Huss) com o estilo de vida dos noivos; os deslumbres de Sue pela nova realidade em que vive; a vontade de Austin de ser pai e receber mais carinho de sua esposa; e como Emily está lidando com seu amor estar casada com seu irmão, sentindo necessidade de viver um romance com outra pessoa também. Além disso, podemos ver Lavinia (Anna Baryshnikov) finalmente se libertar da ideia de “mulher comportada” e mostrar um lado espontâneo e divertido, sendo um dos grandes pontos altos da temporada.
O principal centro de tensão está na batalha da protagonista consigo mesma sobre dever ou não publicar seus poemas. Sue, se sentindo sobrecarregada por ser a única a apreciar os poemas de Emily, a apresenta para Samuel Bowles (Finn Jones), editor do jornal Springfield Republican, que está interessado em lê-los. Assim que mostra um de seus poemas a ele, o homem se encanta pelas palavras de Emily e decide publicá-la. Por conta da admiração de Samuel por Dickinson, os dois se aproximam rapidamente, confundindo um pouco os sentimentos da garota. Apesar de ser casado, Emily sente que Bowles estava apaixonado por ela, fazendo a mesma achar que está apaixonada também, o que causa muitos conflitos tanto entre os dois, quanto com Sue.
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No meio tempo, vemos a jovem poetisa sofrer com as consequências de ter a cidade inteira lendo e julgando seus trabalhos. Apesar de querer ser reconhecida por seus textos, Emily não deseja a fama, nem a exposição que vem com ela. As alucinações que a garota tinha com a morte são substituídas por visitas de “Ninguém” (Will Pullen), um homem que não tem memória de quem é e alerta a garota sobre o peso do julgamento dos outros.
Outro ponto importante é o relacionamento de Sue e Emily, que está mais desgastado após o casamento. As duas quase não se veem mais, tanto por falta de tempo, quanto por tentar fugir de seus sentimentos de verdade. O público, acostumado com a dinâmica das duas na primeira temporada, pode se incomodar um pouco com isso, mas é preciso lembrar que “Dickinson” é baseada em fatos reais, então precisa seguir uma linha cronológica de acontecimentos.
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Enquanto Sue tenta reprimir seus sentimentos por se sentir sufocada, Emily aparenta esquecer tudo o que aconteceu entre elas. Vemos um lado mais complexo da relação das duas, um lado em que ela não pode existir, um lado que machuca as mulheres e o espectador. Apesar disso, é justamente a complexidade do relacionamento que o torna tão intenso e intrigante, construindo uma narrativa envolvente do começo ao fim.
Uma das maiores qualidades da série continua sendo o uso de elementos atuais para contar a história, fazendo o público jovem se identificar com a narrativa. A produção foge de tudo que estamos acostumados em tramas de época. As atuações, principalmente de Hunt e Steinfeld, estão ainda melhores do que no primeiro ano, permitindo que o espectador se sinta ainda mais próximo dos acontecimentos, como se estivesse vivendo aquilo com as personagens.
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A segunda temporada de “Dickinson” está disponível no Apple+.