Este é um filme que você precisa assistir. E não é pelo final feliz.
“Tell It to the Bees” é ambientado nos anos de 1950, com a direção de Annabel Jankel (“Super Mario Bros.”), e se baseia em um romance da escritora britânica Fiona Shaw. O longa-metragem conta a história da Dra. Jean Markham (Anna Paquin) que perde seu pai e precisa voltar para a sua cidade natal no interior do Reino Unido para assumir os serviços médicos que ele prestava. Mas, ao voltar para o lugar, ela tem grandes surpresas, sendo uma delas quando conhece Lydia (Holly Grainger) e começa a nutrir sentimentos por ela. A cidade que elas moram continua pequena em tamanho, desenvolvimento e filosofia.
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É importante ressaltar aqui que a produção é contada pela visão de Charlie (Gregor Selkirk) já adulto, então o preconceito e desinformação da época é de se esperar. A Dra. Jean já tem uma história que viveu na sua adolescência com Rose (Tori Burgees), portanto, as pessoas deste local já tem um certo “ódio” pela doutora. Lydia é uma mãe separada cujo marido é violento. E quando a sua situação financeira aperta, ela encontra trabalho e abrigo na casa de Jean. O elemento mágico do filme fica por conta das colmeias de abelhas existentes no pátio da casa da médica, que não somente as cultiva, como mantém com elas uma relação de afeto. Ela ensina isso a Charlie – que assume as abelhas como suas parceiras de vida e confidentes. A medida em que a relação das duas mulheres vai se aprofundando, a reação indignada da cidade e de Robert (Emun Elliott), ex-marido da personagem de Grainger, vão se tornando cada vez mais aparente, ao ponto dele tirar o menino da mãe alegando que ela é “doente” e não pode criá-lo dessa forma.
O clímax do longa ocorre em duas situações temporalmente paralelas e violentas. Em uma noite, o pai de Charlie vai até a casa da Dra. Jean tirar satisfações com Lydia – enquanto a médica ajuda uma pessoa da sua família que está à beira da morte após um aborto mal sucedido. A situação fica violenta e Charlie é quem salva sua mãe, quando lembra que as abelhas podem o ajudar. E assim elas fazem. Esta é uma das cenas que entendemos o que a Dra. Jean quis dizer quando o ensinou que as abelhas eram suas amigas e guardavam seus segredos.
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O filme desenvolve muito bem a narrativa (tematicamente pesada), adotando o lirismo como tom na relação entre as duas mulheres, criando cenas ternas, românticas e poéticas, plenas de metáforas, e é ai que reside a força da trama. Embora existam cenas que sejam desconfortáveis de assistir, o contexto de homofobia, misoginia e racismo, deixam claro o motivo da presença de tais eventos, que fundamentam a noção de intolerância e inflexibilidade da época, mostrando como o preconceito pode ferir até mesmo quem se ama.
“Tell It to the Bees” não é uma história triste, mas também não é feliz, o que faz com que seja uma das coisas mais controvérsias desta produção. Fiona Shaw – autora do romance, já mostrou seu despontamento com isso. No livro, sabemos que Lydia, Jean e Charlie vão para a Itália e vivem felizes com a família que formaram. Mas aqui, elas vão para caminhos diferentes. Sabemos que adaptações sofrem mudanças, muitas vezes drásticas, porém a grande crítica de Fiona é porque que ela escreveu uma história lésbica com final feliz e ganhamos um final “morno e bom para o público hetenormativo”.
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Apesar dos problemas que rondam este enredo – “Tell It to the Bees” é um filme belíssimo com atuações poderosas e com uma história tocante sobre como atitudes de preconceito e ignorância podem criar uma violência crescente que pode ferir pessoas inocentes que só querem amar. Assistimos uma narrativa delicada que retrata a dura realidade ao mesmo tempo em que se permite brincar com elementos fantasiosos e esperançosos. E apesar do final ter sido diferente do que esperávamos, ainda assim, é muito reconfortante assistir a trama de duas mulheres que apesar dos pesares, lutaram pelo seu direito de amar e permaneceram fortes até o final.