“Kyss Mig” é um filme sueco lançado em 2011 com direção de Alexandra-Therese Keining (“The Average Color of the Universe”), e é mais uma história que aborda o amor entre duas mulheres, e assim como várias outras indicações publicadas aqui, a história vem carregada de drama e sofrimento, dois aspectos comuns quando se trata de descobertas.
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Frida (Liv Mjönes) e Mia (Ruth Vega Fernandez) se conhecem em um jantar que comemora o aniversário do pai de Mia, mas além da comemoração, ele também anuncia o noivado entre ele e a mãe de Frida. Ninguém se surpreende, afinal os dois já viviam em um relacionamento há bastante tempo, e todos já aguardavam por isso. No início tudo parece bem, mas com o decorrer da história vemos que Mia não está lidando bem com tudo que está acontecendo. Ela foi até lá pra poder passar um tempo com seu pai, mas se deu conta de que isso não seria fácil, e que ele estaria ocupado na maior parte do tempo.
Desde o primeiro encontro das duas há certa tensão no ar, percebida pelas trocas de olhares furtivos tão bem interpretados pelas protagonistas. No início imaginamos que seja por ciúmes, já que o noivo de Mia se encanta pela beleza, independência e vida que irradia de Frida. Mia se sente incomodada pela presença da futura “irmã”, não conseguindo, no entanto, desviar sua atenção da figura esguia da mesma. Dá para sentir que alguma coisa vai desandar naquele relacionamento. Aliás, desde a primeira cena do longa-metragem temos indícios de que uma reviravolta está por vir.
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O plano do casal Mia e Tim (Joakim Nätterqvist) na cama nos é mostrado de cabeça para baixo (ou de ponta-cabeça), em uma plongée vertical, causando certo desconforto aos nossos olhos. “Kiss Mig” assim como a maior parte das produções que abordam essa temática, mostra os problemas que pessoas como Mia enfrentam ao se verem apaixonadas por alguém que não veio na “embalagem correta”. Ela, então, começa a enfrentar seus conflitos internos, sobre se deve ou não seguir seu coração ou apenas continuar vivendo como se nada daquilo estivesse acontecido, e nada é melhor que ver alguém enxergando que sua felicidade é mais importante que tudo, mesmo que seja a personagem de um filme.
Por que indico “Kyss Mig”?
“Kyss mig” é um longa banhado de luminosidade e de cores pastéis, por vezes lavadas, desbotadas, algumas vezes com imagens fora de foco. Um universo feminino, elegante e delicado. Nada aqui é vulgarizado. Nem o amor nem o sexo. As cenas são todas de extrema beleza, de uma intensidade e de uma paixão incontestáveis. A atuação das duas atrizes há de ser aqui enaltecida. Elas dão show ao transmitir sentimentos tão profundos, doloridos e verdadeiros em uma certa altura da história, a produção cai na tentação do discurso-clichê. No entanto, ao mesmo tempo, esse discurso-quase-piegas nos ajuda a enxergar a dificuldade que se impõe aos que resolvem assumir suas escolhas diante de uma sociedade ainda tão cheia de preconceitos. E olha que aqui estamos falando de Suécia, país do norte da Europa, conhecido por seus liberalismos. Imaginem nos trópicos.
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A trilha, assinada por Marc Collin, da banda francesa “Nouvelle Vague”, também merece menção, já que casa tão bem com o clima sensual, delicado e elegante do filme.
“Kyss Mig” é, portanto, um longa-metragem para pensar, que retrata com primor um olhar feminino sobre uma paixão entre mulheres.