Eis uma coisa sobre mim: sempre amei contos de fadas. Cresci ouvindo histórias de princesas e me apaixonando por elas, esperando o meu príncipe encantado. Passava horas e horas lendo gibis, revistinhas, livros infantis e juvenis que contavam histórias de amor e óbvio, que continham finais felizes.
Especial Aniversário | A importância da representatividade positiva
Tendo crescido lendo essas histórias e na maior parte, dentro da igreja, acreditava fielmente que meu príncipe chegaria em algum momento, montado no seu cavalo branco, pronto para me entregar flores e me pedir em casamento. Entretanto, como era de se imaginar, nada é como esperamos. Então, pensem na minha surpresa, quando, na pré-adolescência, me vi gostando pela primeira vez de uma pessoa do sexo feminino.
Perceber-me nessa realidade transformou minha cabeça em um mundo de sentimentos conflitantes, até que conheci Santana Lopez (Naya Rivera), personagem da série musical “Glee“. Quando a produção estreou lá em 2009, a única coisa que me motivou a assistir foi o fato de ter romance e música, duas coisas que era loucamente apaixonada (ainda sou) e nunca imaginei que iria ter uma proporção maior na minha vida. Apesar de nunca ter me apaixonado por nenhuma melhor amiga (este clichê não carrego), a personagem vivida por Rivera, da mesma forma que eu, lutou contra os sentimentos por um tempo até finalmente se assumir como uma mulher lésbica. E isto me mostrou que também podia. Eu podia amar garotas e ao mesmo tempo continuar sendo a pessoa que meus pais me criaram para ser.
Review | Feel Good – uma dramédia nada divertida
Apesar de ter assistido várias séries com personagens lésbicas/bissexuais como “Pretty Little Liars”, “The O.C – Um estranho no paraíso”, “Mulheres Apaixonadas” (vale a pena ver de novo, ok?), foi em “The Fosters” que encontrei a representatividade que queria. Seguir a família Adams-Fosters por cinco temporadas me possibilitou crer que também poderia construir uma família, mesmo com todo drama e dificuldades, o amor que Lena (Sherri Saum) e Stef (Teri Polo) demonstravam pelos seus filhos era e ainda é, tudo que toda pessoa LGBTQIA+ sempre desejava/deseja dos seus pais. Representatividade nas telas é importante, mas autoaceitação na vida real é essencial.
Paralelo as produções audiovisuais, e sempre obcecada e rodeada de livros, ainda não estava totalmente satisfeita. Precisava encontrar narrativas com personagens femininas LGBTQIA+ nas páginas também, aqueles com finais felizes que tanto almejava. E de tanto procurar, me deparei pela primeira vez com o Grupo HPM (História para Meninas), e encontrei “O amor, simplesmente” de Mari Veiga, uma história com final feliz. Acompanhar a vida de Tati, Beta e Dani me mostrou a importância e necessidade que tinha de ter representatividade positiva na literatura também.
Especial Aniversário | Uma jornada de autodescoberta através do audiovisual
Depois desta história, vieram outras como “Carta de amor aos mortos”, “Os dois mundos de Astrid Jones”, “À primeira vista”, “Filme Americano” (Mari Veiga) e encontrar outros milhares com essa temática se tornou um estimulante para mim. A minha vida sempre foi incentivada pelos livros e poder observar e suspirar por casais LGBTQIA+ em páginas e páginas de obras literárias, para mim é como voltar aos contos de fadas que tanto sonhei quando era pequena. É entender que posso me reconhecer nessas personagens, é acreditar que também posso ter um final feliz e principalmente, me fez entender que, na verdade, nunca precisei de um príncipe, porque a vida me traria uma princesa.