A trilogia “Rua do Medo” foi um dos grandes acertos da Netflix neste ano. E esse fenômeno não poderia ficar de fora da Comic-Con@Home. O painel foi ao ar nesta sexta-feira (23) e foi o primeiro evento do elenco após o lançamento dos três filmes na plataforma de streaming.
O painel da produção contou com a diretora e roteirista Leigh Janiak, as atrizes Kiana Madeira, Olivia Scott Welch, o ator Benjamin Flores Jr. e o autor dos livros de terror que foram usados como base para a trilogia R.L. Stine. O evento serviu como uma grande celebração do sucesso da trilogia e um momento para conversar sobre essa ousada jornada.
Um dos fatores que tornaram “Rua do Medo” um grande sucesso foi a forma de lançamento, entrando na onda do fenômeno de grandes maratonas que os serviços de streaming implantaram nos últimos anos. Mas, inicialmente, o filme foi criado para ter lançamento no cinema. Leigh Janiak falou que a ideia surgiu com o intuito de lançar os longas-metragens ao longo de um ano, mas eles não tinham a mínima ideia de como isso iria funcionar. A trilogia iria chegar aos cinemas em 2020, com um pequeno intervalo entre cada um. Porém, com a pandemia da Covid-19, os planos de lançamento foram alterados e a trilogia encontrou a casa perfeita na Netflix.
R.L. Stine enfatizou também o apelo dos fãs, que desde sempre clamavam por filmes baseados em suas obras. Para ele, a melhor parte disso tudo foi a respostas do público, as primeiras reações ao trailer e a empolgação das pessoas falando com ele que esperaram a vida inteira por esse momento, um tipo de empolgação que ele não costumava ver apenas com os livros.
Leigh, fã assumida dos livros de “Rua do Medo”, disse que se sentiu assustada com a ideia de adaptá-los para o cinema, mas ela queria passar para a tela o mesmo sentimento que ela tinha quando era adolescente, “Uma das coisas para mim foi me apoiar na memória que tinha da experiência de ler os livros e o que isso significou para mim”. Leigh também afirmou que algo que era muito importante para ela durante esse processo era manter o elemento de diversão da saga criada por R.L. Stine.
Mortes
Uma parte importante em filmes de slasher é a criatividade nas mortes dos personagens. E em “Rua do Medo” isso foi bastante explorado. Leigh enfatizou a importância do longa ter classificação para maiores de 18 anos na hora da criação das mortes. “Quando você faz um slasher, você precisa de sangue e dessas mortes loucas”, afirmou a diretora, e a classificação da produção deu a liberdade necessária para trabalhar o gore e não poupar sangue na trilogia.
Ao citar as mortes preferidas entre os três filmes, a de Kate (Julia Rehwald), em 1994, foi quase unanimidade entre os convidados do painel. Outra lembrada também pelo elenco foi a da cena inicial do primeiro longa-metragem, com a atriz Maya Hawke. Leigh falou da clara referência a “Pânico”, com a clássica cena de Drew Barrymore, e também das referências aos slasher e outras produções dos anos 1990 no primeiro.
A diretora ressaltou que apesar disso, o público consegue rapidamente captar e entender o tipo de produção que elas estão assistindo, existe sempre um twist: “Para mim, a parte mais importante dessa sequência é quando ela tira a máscara do assassino. Conseguimos ver nesse momento a conexão dos dois, a confusão da personagem ao ver alguém que ela conhece tentando matá-la. É nesse momento que eu espero que a audiência perceba que estamos em um jogo completamente diferente”.
Representatividade em filmes de terror
Apesar de “Rua do Medo” trazer tropes clássicos de filmes de terror, a proposta da produção é apresentar mudanças no gênero e não apenas visitá-las. Kiana Madeira enfatizou a importância de ter um romance entre duas mulheres como centro da história, algo que não estamos acostumados a ver em longas do gênero e quando acontece, normalmente os personagens LGBTQIA+ são os primeiros a morrer. “Eu acho isso tão revigorante! Elas são realmente o coração de toda essa jornada”, afirmou.
Kiana também destacou a importância de ter pessoas negras como principais em produções de horror, personagens que também costumam ser os primeiros a morrer e que, em “Rua do Medo”, ganham protagonismo. A atriz usou como exemplo a própria cidade de Shadyside, composta por pessoas excluídas e que aqui se tornam os heróis de suas próprias histórias.
Os filmes da trilogia “Rua do Medo” já estão disponíveis na Netflix.
Jornalista nascida no Rio de Janeiro e atualmente morando em Fortaleza. Cresceu assistindo filmes da Sessão da Tarde, Dragon Ball e Xena: A Princesa Guerreira. Constantemente falando coisas aleatórias sobre cinema, televisão e música.
“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.
No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.
Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.
O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.
A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.
A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.
Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.
Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video“The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?
Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?
Se você gostar do nosso podcast, quiser fazer uma pergunta ou sugerir uma pauta, envie-nos uma DM em nossas redes sociais ou um e-mail para podcast@lesbout.com.br 😉
Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.
Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.
Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?
A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.
A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.