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Cinema

Crítica | A Primeira Morte de Joana – longa é capaz de teletransportar o público para a pré-adolescência

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“A Primeira Morte de Joana” conta a história de Joana (Letícia Kacperski), uma pré-adolescente que vive com sua família em uma cidade pequena do interior gaúcho. A menina embarca em uma jornada em nome de sua tia-avó, Rosa (Rosa Campos Velho), que acabou de falecer. Ela procura entender os motivos da mulher ter morrido sem ter tido um relacionamento ou, ao menos, sem que ninguém soubesse de qualquer relacionamento dela. O questionamento surge a partir da curiosidade sincera despertada pela pré-adolescência.

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Enquanto tenta descobrir os segredos de sua família, Joana começa uma jornada de descoberta de si, em seu lugar no mundo e de seu lugar como mulher. Com direção de Cristiane Oliveira, o longa aborda questões importantes sob o ponto de vista de uma menina deixando a infância, com uma fotografia sensível, focada em pequenos instantes e detalhes com o importante predomínio da cor azul (calma, sutileza e melancolia).

“A Primeira Morte de Joana” é, também, sobre a primeira parte da morte da infância. Um estágio do desenvolvimento em que cada indivíduo começa a descobrir o mundo e as falhas dele: identifica os perigos, as “coisas erradas” e os segredos. O encanto e a magia sobre a vida e “todas as coisas” morre conforme o “véu” da inocência vai sendo retirado.

O longa brasileiro aborda situações típicas da pré-adolescência, como provocações na escola, descoberta de sentimentos novos, entendimento sobre o mundo. É possível se sensibilizar de forma pessoal com o filme. Passar pela autodescoberta da sexualidade durante os anos escolares pode ser cruel e Joana assiste de perto a sua melhor amiga, Carol (Isabela Bressane), se tornar alvo de deboche durante esse processo, o que reflete na sua própria jornada.

Joana e Carol apresentam uma relação a parte. Com uma forte ligação construída entre as duas, as cenas em que estão andando, correndo ou apenas sentadas na “floresta” contrasta entre uma vontade de desbravar o mundo com um refúgio para fugir desse mesmo mundo. O desbravamento e a fuga se concretizam juntos para as duas nos “cata-ventos” gigantescos que produzem energia eólica para a cidade, o vento como símbolo de liberdade.

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“A Primeira Morte de Joana” traz para uma discussão sútil sobre alguns temas que ainda rodeiam a nossa sociedade, principalmente no que diz respeito a cultura brasileira. Provoca o espectador a refletir sobre o que é “coisa de menina ou coisa de menino?”; e sobre a grande pergunta que assombra muitas famílias brasileiras: “o que os outros vão pensar disso?”.

O filme rompe com alguns tradicionalismos através apenas de imagens, muitas vezes deixando os diálogos para segundo plano. Com essa proposta, é possível sentir os incômodos junto com Joana e de repente, se tornar, de novo, uma pré-adolescente observando tudo e buscando respostas.

LesB Nota
  • Direção
  • Roteiro
  • Personagens
4.3

Sinopse

Joana, 13 anos, quer descobrir por que sua tia-avó faleceu aos 70 anos sem nunca ter namorado alguém. Ao encarar os valores da comunidade em que vive no sul do Brasil, percebe que todas as mulheres da sua família guardam segredos, o que traz à tona algo escondido nela mesma.

Monica Teixeira é pedagoga e muito apaixonada pelo universo literário. Amante de séries de médico, viciada em tudo que envolve super-heróis e não perde um episódio de Legends Of Tomorrow. Ela vive na Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro.

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Cinema

Crítica | Badhaai Do: Casamento por Conveniência – produção que aquece o coração

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“Badhaai Do: Casamento por Conveniência” se passa na Índia e é dirigido e roteirizado por Harshavardhan Kulkarni. Cansados da pressão familiar para que se casem, Sumi (Bhumi Pednekar), professora de educação física e lésbica, e Shardul (Rajkummar Rao), um policial gay, decidem se casar e viver um casamento de fachada.

O longa tem duas horas e meia de duração, mas não chega a ser maçante. Com muita comédia, momentos musicais e cenas fofas (tanto de Sumi com sua namorada quanto de Shardul com seus namorados), a narrativa, mesmo tratando de um tema delicado em uma sociedade fechada para sexualidades além da heteronormatividade, ainda é leve e nos deixa com o coração quentinho.

Honestamente, amo musicais e filmes que têm trilhas sonoras que conversam com a narrativa, e “Badhaai Do: Casamento por Conveniência” entrega isso. As músicas complementam a história e trazem todo o charme dos filmes indianos, com direito a flash mobs em que os atores entregam tudo na dança, até o espectador fica com vontade de dançar junto.

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Ao longo da trama, o que era apenas uma convivência forçada se torna uma amizade entre Sumi e Shardul. Eles, que não conviviam com mais pessoas da comunidade, acabam se tornando uma rede de apoio um para o outro. Gostaria de ter visto mais disso no filme, já que, de todas as relações existentes, essa é uma das mais interessantes e menos exploradas.

Sumi é uma mulher lésbica sem muita experiência em flertar com outras mulheres e sem amigas sáficas para compartilhar as dores e delícias de amar mulheres. Durante o início do filme, conseguimos acompanhar essa jornada solitária: a procura por um amor em aplicativos de relacionamento, os passeios sozinha durante a lua de mel e as decepções amorosas. É bonita a narrativa da Sumi, e é muito gostoso acompanhá-la se apaixonando.

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“Badhaai Do: Casamento por Conveniência”, apesar de ser um filme de comédia, toca em pontos importantes da vivência LGBTQIA+ dentro do armário e também da vivência lésbica. É um filme em que você ri, chora, se apaixona pelos personagens e, no fim, termina de coração quentinho, querendo assistir de novo.

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Cinema

Crítica | Brenda Lee e o Palácio das Princesas – um musical bibliográfico que vale a pena

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“Brenda Lee e o Palácio das Princesas” é um musical bibliográfico que conta a história da ativista transgênero, Brenda Lee. O filme é uma peça teatral, que foi adaptada para o audiovisual, e carrega muito das duas linguagens, mesmo com muitos diálogos a narrativa, não fica cansativo, já que intercala com músicas cantadas pelas próprias atrizes.

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O longa é gravado em uma espécie de galpão, que é dividido em cenários pequenos e com poucos objetos cenográficos, brincando com a imaginação dos espectadores. O cenário onde acontecem a maioria dos momentos musicais do filme, por exemplo, é feito com uma cortina de franjas que reflete a cor das luzes que estão sendo usadas na cena e isso faz a magia dessas cenas acontecer. 

Sobre a fotografia, é interessante perceber que vemos câmera fixa nos momentos de entrevista com a Brenda Lee, remetendo a linguagem documental, já em outros, temos a câmera bem solta acompanhando o andar das personagens, principalmente nas cenas musicais. As músicas de “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” são um espetáculo à parte, sendo muito bem interpretadas pelas atrizes e com boas composições que compõem a narrativa. 

O longa tem três diretores diferentes, Zé Henrique de Paula, como diretor geral da obra; Laerte Késsimos, como direção audiovisual; e Fernanda Maia, como direção musical. Possuir três diretores em uma mesma obra, mesmo que em áreas diferentes, é um grande desafio, mas os três trabalharam bem juntos e conseguiram imprimir todas as linguagens que se propuseram a usar.

Brenda Lee foi uma figura real e muito importante durante a pandemia de HIV/Aids aqui no Brasil, inaugurando o Palácio das Princesas, a primeira casa de acolhimento para pessoas soro positivo na década de 80. Esse filme é uma grande homenagem a sua história e luta.

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É importante lembrar das pessoas que lutaram antes, para que, hoje, possamos existir mais livremente.

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Crítica | Morte Morte Morte – terror e comédia em uma narrativa cativante e desafiadora

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“Morte Morte Morte” (“Bodies Bodies Bodies”) é um filme que mescla os gêneros de terror e comédia, provocando tensão nos espectadores e risadas genuínas. Após um período afastada de seus amigos, Sophie (Amandla Stenberg) decide que ir à festa que estão organizando durante um furacão é uma boa oportunidade para se reaproximar e entender como está sua relação com a própria família. Quando a noite cai e o tédio começa a aparecer, Sophie propõe que joguem um jogo chamado Bodies Bodies Bodies.

Dirigido pela cineasta holandesa Halina Reijn, também responsável por “Instinto” (2019), e produzido pela A24, conhecida por filmes como “Pearl” e “Midsommar” o filme conta com as atrizes Amandla Stenberg e Maria Bakalova, interpretando Bee, namorada de Sophie. Além disso, o comediante Pete Davison também participa, interpretando David, um dos amigos de Sophie.

O roteiro segue uma narrativa cíclica, acompanhando a dinâmica do jogo Bodies Bodies Bodies, no qual os personagens encontram um corpo, gritam e começam a discutir sobre quem é o assassino. Utilizando áudios do TikTok e algumas discussões triviais, mas que são extremamente importantes para os personagens, o roteiro satiriza a geração Z, trazendo o tom cômico do filme. É um roteiro simples, mas eficaz.

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Com uma fotografia intrigante que utiliza lanternas, celulares e pulseiras neon como métodos de iluminação, o filme se torna ainda mais misterioso, deixando boa parte do que é visto na tela em completa escuridão. Para além da iluminação, uma cena que chamou bastante a atenção é aquela que ocorre dentro do carro, em que a câmera fica fixa no meio dos personagens e gira para mostrar a reação de cada um diante dos acontecimentos.

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Em “Morte Morte Morte”, Sophie é lésbica. No entanto, esse não é o ponto central da personagem. Ela é lésbica, está ciente disso, tem uma namorada e se sente confortável com sua identidade. A trama de Sophie e seus problemas não têm relação direta com sua sexualidade, e é muito interessante assistir a narrativas com jovens adultas sáficas em que o foco principal da trama não seja sua autodescoberta. São narrativas que mostram que temos uma vida para além de nossa sexualidade ou identidade de gênero.

O filme está disponível na plataforma de streaming da HBO Max.

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Bombando