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Clarina – um romance com significado para além da ficção

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Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller), da novela “Em Família”, foram duas personagens extremamente importantes no que diz respeito a representatividade homoafetiva feminina. Marina, assumidamente lésbica, carregando a representação de uma mulher extremamente forte e bem-sucedida na vida e com ela mesma, conhece Clara e começa uma amizade que logo se transforma em tentativas incansáveis de conquista-la. Já Clara, no momento em que conhece a fotógrafa, está casada com um homem e tem um filho pequeno. Aparentemente seu casamento anda bem até que uma série de problemas financeiros e ao conhecer um lado “novo” de Cadu (Reynaldo Gianecchini) começa a investir em uma separação.

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Inicialmente os problemas que elas encontram é o fato de Clara, até então, não se sentir atraída por Marina. Então aqui se pode entrar na questão da heterossexualidade compulsória. Por sempre ter tido relações apenas com homens ela acaba duvidando da possibilidade de sentir qualquer coisa romanticamente por uma mulher e por isso se nega a sentir algo por muito tempo, mesmo que as vezes internamente ela tenha essa dúvida plantada.

Essa questão da heterossexualidade compulsória é muito interessante ser levantada, porque assim como Clara, dezenas e dezenas de meninas e mulheres, muitas vezes, acabam apagando sentimentos e atrações por não conseguir entender o que realmente é aquilo, já que o que a sociedade basicamente “ordena” que sejamos todos heterossexuais para que estejamos dentro de um padrão. O momento que a dúvida é plantada nos pensamentos de Clara é muito importante, afinal, abre a possibilidade de que outras pessoas também se permitam a ter essa dúvida.

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Depois de plantado o questionamento vem a certeza de Clara de que ela poderia amar uma mulher exatamente como ela amou seu (até então) marido Cadu, o que faz com que ela comece a se aproximar de Marina pensando na situação vivida com mais alívio do que antes. O relacionamento se desenvolve de forma bem lenta justamente pelas complicadas situações que estão acontecendo na vida das duas, principalmente por parte da personagem de Antonelli, que não quer se envolver o suficiente para trair o marido que está doente no momento. Além disso, ela tem um receio muito grande também em relação ao Ivan (Vitor Figueiredo), seu filho, que teria que lidar com a separação dos pais, a doença do progenitor e o novo envolvimento amoroso da mãe.

Mais tarde, com a situação mais propicia para ela se assumir, a personagem decide contar ao seu filho sobre seu envolvimento com Marina. E o que deveria ser complicado por se tratar de uma criança, acaba sendo desenvolvido de uma maneira natural, até mesmo em relação as dúvidas que Ivan tem, pois, o menino levanta a questão sobre ser tratado “mal” na escola pelos colegas e neste momento Clara intervém explicando com a clareza e a naturalidade que a situação pede.

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Além disso, em outro aspecto a trama leva mais um ponto, pois ela teve o cuidado em contar sobre Marina, explicar a relação das duas para o filho e também não deixar duvidas de que um dia realmente amou Cadu. Com certeza foi uma luta enorme para elas ficarem juntas, contudo, o mais interessante de se observar no geral é que essa luta foi muito maior por motivos adjacentes do que pelo fato da homossexualidade em si, e isso nos dá um ponto positivo em relação aos casais homoafetivos na TV aberta brasileira.

Ver Clarina acontecer aos poucos e observar claramente as duas se apaixonando mais e mais uma pela outra é um fato importante, pois realmente passa para a audiência a impressão de que aquele amor é/pode ser real. O casal não foi forçado ou corrido, ele foi construído passo a passo e o resultado disso é visto até hoje, pois mesmo depois de quatro anos ainda é visto como referência na TV aberta brasileira e para além disso, é um casal com uma representação gigante fora do Brasil. Clara e Marina afetaram de formas positivas muitas meninas e mulheres lésbicas e/ou bissexuais em todo o mundo e por esta razão foi e continua sendo um casal que ultrapassa a barreira da ficção.

Monica Teixeira é pedagoga e muito apaixonada pelo universo literário. Amante de séries de médico, viciada em tudo que envolve super-heróis e não perde um episódio de Legends Of Tomorrow. Ela vive na Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro.

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Crítica | Por Trás da Inocência – longa-metragem com potencial não explorado

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“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.

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No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.

Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.

O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.

Soa familiar para vocês?

LesB Cast | Temporada 2 Episódio 02 – The Wilds e teorias para a segunda temporada

A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.

A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.

Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.

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“Por trás da inocência” está disponível para assistir na Netflix.

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LesB Cast | Temporada 2 Episódio 02 – The Wilds e teorias para a segunda temporada

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Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video “The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?

Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?

Se você gostar do nosso podcast, quiser fazer uma pergunta ou sugerir uma pauta, envie-nos uma DM em nossas redes sociais ou um e-mail para podcast@lesbout.com.br 😉

Créditos:

Lembrando que nosso podcast pode ser escutado nas principais plataformas como: Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music e Google Podcasts.

Espero que gostem. Até a próxima!

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LesB Saúde | A descoberta tardia da sexualidade

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Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.

Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.

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Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?

A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.

Review | Heartstopper – Primeira Temporada

A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.

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Bombando

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