Em sua nova produção de terror, “Missa da Meia-Noite”, Mike Flanagan (“A Maldição da Mansão Bly”) explora o ambiente religioso e como a fé, se seguida ao pé da letra, pode ser perigosa. Diferente de seus outros projetos, não existem muitos momentos de suspense em torno do elemento sobrenatural, que se revela progressivamente durante os episódios.
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A série começa com o retorno de Riley (Zach Gilford) para sua cidade natal, após ficar quatro anos preso por ter matado uma jovem enquanto dirigia bêbado. Logo de cara, percebemos que a comunidade é muito unida por sua fé católica, tendo a igreja como a grande força que movimenta a pacata ilha. A presença de um novo padre, Paul (Hamish Linklater), é frisada imediatamente como passageira, sendo apenas uma substituição enquanto o Monsenhor Pruitt, que já está idoso, cuida de um problema de saúde na cidade grande.
A partir do final do primeiro capítulo, as coisas ficam estranhas. Após uma grande tempestade, dezenas de gatos aparecem mortos na orla da praia sem motivo aparente e uma figura sombria começa a surgir em ambientes escuros. O enredo começa a ser desenvolvido no segundo episódio, principalmente durante as missas, que passam a ser bastante frequentadas após alguns “milagres” acontecerem e Bev (Samantha Sloyan), uma das figuras mais influentes da igreja e da cidade, passar a recrutar todos os moradores para receber a benção do novo padre.
Apesar das diferenças, uma coisa que a produção tem em comum com suas outras minisséries é muito clara, se tornando quase uma marca: questionar o verdadeiro significado da morte. Entre diálogos e monólogos dos personagens, podemos perceber que para Flanagan a morte não é realmente o fim da vida, e sim uma fase da mesma. Em “Missa da Meia-Noite”, Erin (Kate Siegel) e Riley se reconectam em torno do sentido de nossa existência, como ela surge e como ela termina, rendendo reflexões que são o verdadeiro ponto alto da série.
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Outro detalhe em comum com suas últimas obras é a presença de personagens LGBTQIA+, que são naturalmente apresentados na trama, sem muito drama ao redor disso, sendo só mais uma característica dos mesmos. Neste caso, temos Sarah Gunning (Annabeth Gish), a médica da cidade, que logo no segundo episódio brinca, enquanto está com outra mulher em um evento da igreja, sobre o padre sempre a encarar quando ela era mais nova, como se ele “soubesse” de sua sexualidade. Sarah é uma das personagens chaves para o desenrolar da trama e, apesar de não ter mais momentos que exploram sua sexualidade, é bom ver que uma personagem sáfica pode existir sem que sua orientação sexual seja sua principal característica.
De modo geral, “Missa da Meia-Noite” está longe de ser o trabalho mais forte de Flanagan, mas não deixa de ser uma ótima produção. Provavelmente pessoas que tiveram experiências mais próximas com a religião cega, principalmente dentro do catolicismo, se identifiquem mais com os elementos e críticas da série do que aqueles que sempre foram distantes deste meio. Mesmo assim, uma coisa fica clara para todos: a ganância é o pior mal do ser humano.
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“Missa da Meia-Noite” estreou em dia 24 de setembro e a temporada completa está disponível na Netflix.