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Novela | Um Lugar ao Sol e o retrato da mulher

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“Um Lugar ao Sol” teve um início cheio de reviravoltas com um mocinho que não agradou a grande maioria. Entretanto, foi uma produção que deixou sua marca no quesito roteiro, maneira de conduzir cenas e um elenco de renome. Além de grandes retornos ao horário nobre.

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Criada por Lícia Manzo e dirigida por André Câmara e Maurício Farias, lançada em 2012, a novela de 119 capítulos aborda a história principal dos gêmeos Christian e Renato (Cauã Reymond) que crescem em realidades opostas, sendo um em uma família de renome e grande colocação social, e o outro em um orfanato. Após ficarem frente a frente, a vida toma um novo rumo e com a morte de Renato, Christian toma seu lugar, a noiva, a vida e todo o convívio social do irmão. A partir disso somos apresentadas a grandes núcleos de mulheres fortes, distintas e que ao longo da trama vão se desenvolvendo lindamente.

Começando por Bárbara, interpretada por Alinne Moraes, que a cada dez palavras, sete eram para desrespeitar alguma minoria, tornando-se uma das mais odiadas personagens de início e mais amadas no final. Sua jornada mostra a que ponto uma mulher pode chegar devido à dependência por um homem, em um relacionamento de mentiras e abusos psicológicos. Como uma mulher é capaz de perder sua autoestima, amor próprio e até sua motivação de viver apenas por colocar alguém como o centro da sua existência. Não posso deixar de parabenizar o roteiro e as grandes cenas protagonizadas pela atriz durante as sessões de terapia de Bárbara, tão profundas e bem construídas que chega a doer em qualquer mulher que assista as cenas. 

Falando em construção, com a personagem Rebeca (Andréa Beltrão) temos discussões sobre estética, amadurecimento, amor próprio, paixões, aceitação familiar e autoaceitação. Tanto foi dito e construído em uma única personagem que dá até dor no coração saber que não teremos mais ela diariamente na telinha. A profundidade dela sendo uma mãe solo, que passou por inúmeras dificuldades, precisando se provar e ser aceita por si mesma e pela sociedade para conseguir trabalhos.

Dona Noca (Marieta Severo) é uma avó feminista, que sabe o seu valor e como fazer uma mulher se enxergar como ninguém. A atuação da Marieta Severo é extraordinária e não poderia perder a chance de dizer o quão rica e importante foram suas discussões sobre etarismo, tempo de amar e que relacionamentos podem sim, e devem, existir independente de qualquer idade.

Agora sobre o querido casal de “Um Lugar ao Sol” (Finalmente!), quem escreveu os roteiros de Ilana (Mariana Lima) e Gabriela (Natália Lage) sabia exatamente do que estava falando. Nunca na história da TV brasileira, em uma novela em horário nobre, fomos apresentadas a uma construção tão sensível e verdadeira em cada detalhe. É sobre isso, sobre termos roteiros e falas realistas sobre o que é se descobrir bissexual e lésbica, o que é se aceitar e ser aceita pela família, amigos e sociedade.

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É aconchegante assistir as falas tão seguras e vividas de Gabriela “Bordoada” sobre os problemas em sua autoaceitação, sua busca por entendimento e valorização de cada etapa e cada momento que passou na vida, até chegar na mulher segura ao amar outra mulher. Como são lindos os momentos de acolhimento e cuidado da Gabriela com Ilana no quesito maternidade, a empatia e apoio a uma mulher que perde uma filha, está se conhecendo como mãe e se descobrindo bissexual. De suma importância a paciência que ela tem durante todo o processo.

O primeiro beijo das duas personagens é desses em que os olhinhos brilhavam de tanta alegria, mostrando que pessoas que se relacionam com pessoas do mesmo sexo beijam de verdade e não é apenas aqueles selinhos reprimidos que tanto assistimos.

É impossível não comentar sobre a maestria com que Andréa Beltrão e Natália Lage quebram a quarta parede cênica. E Andréia Horta como Lara, Ana Beatriz Nogueira como a ilustre Elenice e o retrato das etapas do alzheimer; Renata Gaspar com o excelente papel de Stephanie abordando o relacionamento abusivo e todo o elenco feminino de “Um Lugar ao Sol”. Assistir cada uma foi uma aula de atuação e representatividade.

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Por fim, fica o desapontamento pela falta de falas de Gabriela no próprio casamento e pela cena em que a Bárbara descobriria que Renato é, na verdade, Christian. Entretanto, a grandiosidade de um roteiro bem construído e trabalhado, além da fotografia da novela e trilha sonora impecáveis permite-nos esquecer esses detalhes.

E aí, o que vocês acharam dessa representatividade que tivemos em horário nobre? Quero saber de vocês!

“Um Lugar ao Sol”  está disponível no Globoplay.

LesB Nota
  • Roteiro
  • Direção
  • Personagens
4

Sinopse

Separados na infância, os gêmeos Christian e Renato crescem em realidades completamente opostas. Quando ficam frente a frente, a vida de Christian é irremediavelmente transformada.

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Cinema

Crítica | Badhaai Do: Casamento por Conveniência – produção que aquece o coração

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“Badhaai Do: Casamento por Conveniência” se passa na Índia e é dirigido e roteirizado por Harshavardhan Kulkarni. Cansados da pressão familiar para que se casem, Sumi (Bhumi Pednekar), professora de educação física e lésbica, e Shardul (Rajkummar Rao), um policial gay, decidem se casar e viver um casamento de fachada.

O longa tem duas horas e meia de duração, mas não chega a ser maçante. Com muita comédia, momentos musicais e cenas fofas (tanto de Sumi com sua namorada quanto de Shardul com seus namorados), a narrativa, mesmo tratando de um tema delicado em uma sociedade fechada para sexualidades além da heteronormatividade, ainda é leve e nos deixa com o coração quentinho.

Honestamente, amo musicais e filmes que têm trilhas sonoras que conversam com a narrativa, e “Badhaai Do: Casamento por Conveniência” entrega isso. As músicas complementam a história e trazem todo o charme dos filmes indianos, com direito a flash mobs em que os atores entregam tudo na dança, até o espectador fica com vontade de dançar junto.

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Ao longo da trama, o que era apenas uma convivência forçada se torna uma amizade entre Sumi e Shardul. Eles, que não conviviam com mais pessoas da comunidade, acabam se tornando uma rede de apoio um para o outro. Gostaria de ter visto mais disso no filme, já que, de todas as relações existentes, essa é uma das mais interessantes e menos exploradas.

Sumi é uma mulher lésbica sem muita experiência em flertar com outras mulheres e sem amigas sáficas para compartilhar as dores e delícias de amar mulheres. Durante o início do filme, conseguimos acompanhar essa jornada solitária: a procura por um amor em aplicativos de relacionamento, os passeios sozinha durante a lua de mel e as decepções amorosas. É bonita a narrativa da Sumi, e é muito gostoso acompanhá-la se apaixonando.

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“Badhaai Do: Casamento por Conveniência”, apesar de ser um filme de comédia, toca em pontos importantes da vivência LGBTQIA+ dentro do armário e também da vivência lésbica. É um filme em que você ri, chora, se apaixona pelos personagens e, no fim, termina de coração quentinho, querendo assistir de novo.

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Cinema

Crítica | Brenda Lee e o Palácio das Princesas – um musical bibliográfico que vale a pena

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“Brenda Lee e o Palácio das Princesas” é um musical bibliográfico que conta a história da ativista transgênero, Brenda Lee. O filme é uma peça teatral, que foi adaptada para o audiovisual, e carrega muito das duas linguagens, mesmo com muitos diálogos a narrativa, não fica cansativo, já que intercala com músicas cantadas pelas próprias atrizes.

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O longa é gravado em uma espécie de galpão, que é dividido em cenários pequenos e com poucos objetos cenográficos, brincando com a imaginação dos espectadores. O cenário onde acontecem a maioria dos momentos musicais do filme, por exemplo, é feito com uma cortina de franjas que reflete a cor das luzes que estão sendo usadas na cena e isso faz a magia dessas cenas acontecer. 

Sobre a fotografia, é interessante perceber que vemos câmera fixa nos momentos de entrevista com a Brenda Lee, remetendo a linguagem documental, já em outros, temos a câmera bem solta acompanhando o andar das personagens, principalmente nas cenas musicais. As músicas de “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” são um espetáculo à parte, sendo muito bem interpretadas pelas atrizes e com boas composições que compõem a narrativa. 

O longa tem três diretores diferentes, Zé Henrique de Paula, como diretor geral da obra; Laerte Késsimos, como direção audiovisual; e Fernanda Maia, como direção musical. Possuir três diretores em uma mesma obra, mesmo que em áreas diferentes, é um grande desafio, mas os três trabalharam bem juntos e conseguiram imprimir todas as linguagens que se propuseram a usar.

Brenda Lee foi uma figura real e muito importante durante a pandemia de HIV/Aids aqui no Brasil, inaugurando o Palácio das Princesas, a primeira casa de acolhimento para pessoas soro positivo na década de 80. Esse filme é uma grande homenagem a sua história e luta.

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É importante lembrar das pessoas que lutaram antes, para que, hoje, possamos existir mais livremente.

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Cinema

Crítica | Morte Morte Morte – terror e comédia em uma narrativa cativante e desafiadora

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“Morte Morte Morte” (“Bodies Bodies Bodies”) é um filme que mescla os gêneros de terror e comédia, provocando tensão nos espectadores e risadas genuínas. Após um período afastada de seus amigos, Sophie (Amandla Stenberg) decide que ir à festa que estão organizando durante um furacão é uma boa oportunidade para se reaproximar e entender como está sua relação com a própria família. Quando a noite cai e o tédio começa a aparecer, Sophie propõe que joguem um jogo chamado Bodies Bodies Bodies.

Dirigido pela cineasta holandesa Halina Reijn, também responsável por “Instinto” (2019), e produzido pela A24, conhecida por filmes como “Pearl” e “Midsommar” o filme conta com as atrizes Amandla Stenberg e Maria Bakalova, interpretando Bee, namorada de Sophie. Além disso, o comediante Pete Davison também participa, interpretando David, um dos amigos de Sophie.

O roteiro segue uma narrativa cíclica, acompanhando a dinâmica do jogo Bodies Bodies Bodies, no qual os personagens encontram um corpo, gritam e começam a discutir sobre quem é o assassino. Utilizando áudios do TikTok e algumas discussões triviais, mas que são extremamente importantes para os personagens, o roteiro satiriza a geração Z, trazendo o tom cômico do filme. É um roteiro simples, mas eficaz.

LesB Indica | The Morning Show – uma produção brilhante e certeira

Com uma fotografia intrigante que utiliza lanternas, celulares e pulseiras neon como métodos de iluminação, o filme se torna ainda mais misterioso, deixando boa parte do que é visto na tela em completa escuridão. Para além da iluminação, uma cena que chamou bastante a atenção é aquela que ocorre dentro do carro, em que a câmera fica fixa no meio dos personagens e gira para mostrar a reação de cada um diante dos acontecimentos.

LesB Cast | Temporada 3 Episódio 07 – tudo sobre “Com Carinho, Kitty”

Em “Morte Morte Morte”, Sophie é lésbica. No entanto, esse não é o ponto central da personagem. Ela é lésbica, está ciente disso, tem uma namorada e se sente confortável com sua identidade. A trama de Sophie e seus problemas não têm relação direta com sua sexualidade, e é muito interessante assistir a narrativas com jovens adultas sáficas em que o foco principal da trama não seja sua autodescoberta. São narrativas que mostram que temos uma vida para além de nossa sexualidade ou identidade de gênero.

O filme está disponível na plataforma de streaming da HBO Max.

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Bombando