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Na Estante | Mulholland Drive – uma história de amor na Cidade dos Sonhos

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Bem-vindos ao primeiro post da coluna Na Estante! Toda semana nós vamos revisitar juntos filmes com personagens femininas LGBTQ+ feitos no passado. O filme desta semana é “Mulholland Drive”, ou “Cidade dos Sonhos”, lançado em 2001 nos Estados Unidos e em 2002 no Brasil. Apesar de em geral dividir opiniões, o longa-metragem escrito e dirigido por David Lynch, conhecido principalmente pela série “Twin Peaks” nos anos 1990, foi muito bem recebido e aclamado pela crítica na época, chegando a ser considerado um dos melhores filmes do século XXI.

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É difícil escolher um ponto para começar a falar sobre “Mulholland Drive”, então começo por aqui: Se alguém pedisse a você que imaginasse uma rua de Los Angeles, qual imagem você conjuraria? Uma rua de subúrbio bem pavimentada cheia de luxuosas mansões? Uma avenida que corta um importante centro comercial? Talvez um lugar cercado de arranha-céus? Pois bem, esqueça todas essas imagens.

Ao invés disso, seguimos por uma saída da rodovia em direção a uma estrada nas montanhas cheia de curvas sinuosas, onde não é permitido o tráfego de carros na maior parte de sua via não pavimentada. E apesar do contraste de seu desenho serpentino com as ruas retas e planejadas do vale ser bastante interessante para mim, a maior fama dessa rua é pela vista que ela proporciona, principalmente à noite, quando do alto da montanha as luzes de Hollywood e do vale de São Fernando brilham como joias.

Um carro para em determinada parte dessa estrada, uma arma é apontada para a passageira no banco de trás, mas antes que o disparo fosse feito, outro carro em alta velocidade cheio de jovens bate de frente com aquele parado. Uma mulher se desvencilha dos escombros da batida e, atraída pelas hipnotizantes luzes do vale, segue morro abaixo em direção a elas, em linha reta, mesmo com o terreno montanhoso e difícil. Caminhando, desorientada e sem memória, a mulher interpretada por Laura Harring se esconde das pessoas durante o seu trajeto errante, até encontrar uma moradora idosa que está prestes a entrar num táxi para viajar. Aproveitando-se da ausência da dona da casa, a mulher entra na mesma para se abrigar e se esconder.

A casa, contudo, não ficará vazia por muito tempo. Ela pertence à tia de Betty Elms, interpretada por Naomi Watts, uma jovem aspirante a atriz que sonha fazer sucesso em Hollywood e para isso, conta com a ajuda da tia que permite que ela more em sua casa enquanto participa da produção de um filme em outro lugar distante. Betty encontra a mulher estranha no chuveiro. Depois do susto inicial, a mulher se apresenta a ela como Rita (de Rita Hayworth, após observar um pôster de “Gilda” na parede do quarto). A partir de então, Betty passa a ajudar Rita a descobrir quem ela é.

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Rita e Betty se apaixonam de uma forma extremamente cativante. Acontece gradualmente, envolvendo muito carinho e cuidado uma com a outra, unidas pelo mistério em comum que é o passado da personagem de Harring. Já o relacionamento entre Diane (também interpretada por Naomi Watts) e Camilla (também interpretada por Laura Harring) é completamente oposto, uma paixão que acaba em decepção e tragédia.  Mesmo que não se saiba nada sobre o passado das mesmas, elas são extremamente expressivas e tocantes e, em ambos os casos, o romance é escrito sem a ênfase, num grande momento de crise das personagens, em relação à sexualidade.

O sonho como linguagem cinematográfica

Agora, se lendo esses últimos parágrafos você espera encontrar uma história linear e simples de se entender, errou, afinal esse filme é dirigido por Lynch. O que significa que qualquer ponto inicial que se escolha para descrever o filme não fala nada e fala tudo ao mesmo tempo. O título em português é “Cidade dos Sonhos”, o que em si já revela muita coisa sobre o longa: ele expressa o fato de Los Angeles ser a cidade onde os sonhos são fabricados pela indústria do entretenimento; ele reflete a expectativa de uma das heroínas, que tem esperança de fazer sucesso e convicção de que esse é o local onde os sonhos irão se realizar; mas são os cortes não cronológicos entre as cenas da linha narrativa “principal” (seja lá o que isso signifique nesse filme), ângulos que mostram a cena em primeira pessoa, elementos fantásticos e visões, que não se encaixam com o resto da cena, muito presentes a todo o momento, que trazem a sensação de que se está sonhando, ou tendo um pesadelo, ou uma alucinação.

Uma das classificações que esse filme cai sobre é neo-noir, ou seja, um gênero derivado do cinema dos anos 40 cuja marca registrada são, entre outros elementos, o mistério e os personagens de conduta moral e motivações no mínimo duvidosas e no máximo, conspiratórias e cruéis. No caso de “Mulholland Drive”, no entanto, o maior mistério talvez seja entender a sequência de fatos, a linha narrativa. O que em outras produções é um elemento invisível que perpassa toda a experiência cinematográfica, aqui é o verdadeiro protagonista.

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Entendo a atitude de Lynch ao negar uma explicação sobre a história, e acredito que a beleza de filmes como esse está em assisti-lo várias vezes e cada vez entender algo de forma diferente ou perceber algum elemento que passou despercebido da primeira vez. Portanto, prefiro que quem não tenha assistido ainda, assista para formar as suas próprias teorias, mas aqui vai uma minha.

Uma história de amor na Cidade dos Sonhos

Diane é uma atriz tentando a vida em Hollywood. Ela conhece Camilla, que a ajuda a conseguir alguns papéis, e com quem passa a ter um caso amoroso. A personagem de Harring interpreta o papel principal num filme do diretor Adam Kesher (Justin Theroux), com quem também tem um relacionamento. Diane sabe disso (Camilla faz questão que saiba) e apesar desta informação partir o seu coração, elas continuam juntas até o momento em que a segunda decide terminar o relacionamento com a artista em ascensão. Tomada pelo ciúme, possessão e pela dor de ser traída pelo grande amor, Diane contrata um assassino de aluguel para acabar com a vida de Camilla. Logo após receber o sinal de que ela estava morta, a mesma (Diane) se mata.

As cenas onde Adam Kesher aparece, que à primeira vista aparentam estar completamente desconectadas da história, na verdade são resultado do diretor ser obrigado a substituir a atriz principal de seu filme às pressas, após a suposta morte de Camilla. Ele nega veementemente, mesmo sendo pressionado a escolher Camilla Rhodes, outra pessoa completamente alheia à trama, mas que calha de ser idêntica a Diane e ter o mesmo nome que a “falecida” Camilla, até o momento em que, misteriosamente, sua carreira depende dessa escolha.

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Contudo, o assassinato é interrompido pelo acidente de carro, Camilla sobrevive, perde a memória, se encontra com Betty, se apresenta como Rita, e a história segue. A última cena em que Naomi Watts e Laura Harring aparecem como Betty e Rita é seguida pela tia de Betty chegando em casa e a encontrando vazia, o que sugere que não há conclusão para as duas (Betty e Rita). Fica aberto à interpretação do expectador.

Faz sentido que Camilla e Rita sejam ambas interpretadas por Harring, pois as duas personagens são a mesma pessoa. Mas por que Diane, Betty e Camilla Rhodes são todas interpretadas por Watts, se são pessoas completamente diferentes?

Não me surpreenderia se Camilla Rhodes fosse um pseudônimo usado por Betty para se distanciar do legado da família cineasta e conseguir os papéis de forma justa. De qualquer maneira, o que penso ser mais provável é que todas elas representem o mesmo ideal, o mesmo conceito, o da atriz sonhadora que tenta a sorte na cruel e trapaceira Cidade dos Sonhos. As garçonetes que aparecem com os nomes “Diane” e “Betty” podem ser os sujeitos dessa história, mas também podem ser pessoas quaisquer, completamente não relacionadas com a narrativa, partes desse conceito ideal maior.

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O cowboy, o casal de idosos que aparece na abertura do filme, o mendigo que mora no beco atrás do Winkie’s e alguns outros personagens fantásticos são todos parte da mesma entidade em minha opinião. O cowboy, o arquétipo que solidificou a importância de Hollywood como centro da produção do entretenimento, toma todas as decisões dentro do mundo executivo do cinema. O mesmo casal de idosos que recebe Betty de braços abertos à cidade leva Diane a se matar. O mendigo, além de possivelmente representar a pobreza em contraste ao extremo luxo, é o detentor da caixa azul, que contém o segredo do passado de Camilla/Rita. Eles são todos a própria Cidade dos Sonhos, eles são Hollywood, eles são Los Angeles.

“Mulholland Drive” é o que resulta se você jogar num caldeirão romance, surrealismo e mistério noir. Eu definitivamente, aprecio muito que este longa-metragem tenha sido concebido de forma que o romance entre as mulheres sinta muito natural a quem assiste, apesar de todo o caos que o leva a acontecer e que, numa cidade onde sonhos são fabricados, comprados e vendidos, a verdadeira magia se encontra dentro da sua própria casa, num beco atrás de uma lanchonete ou numa estrada escura e tortuosa parcialmente asfaltada com vista para o vale de luzes.

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Crítica | Por Trás da Inocência – longa-metragem com potencial não explorado

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“Por Trás da Inocência” é um filme de 2021 que conta a história de Mary Morrison (Kristin Davis), uma famosa escritora de suspense, se preparando para embarcar em uma nova obra, a autora decide contratar uma babá para ajudar nos cuidados com as crianças.

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No entanto, a trama sinistra do livro começa a se misturar com a realidade. Mary seria vítima de uma perigosa intrusa, ou estaria imaginando as ameaças? Conforme o livro da escritora se desenvolve, a vida dos familiares é colocada em risco.

Quando assistimos a candidata a babá Grace (Greer Grammer) entrar pela porta, ela faz uma cara de psicopata à câmera. Clássico. E em uma de suas primeiras frases, a garota comportada até demais afirma: “Eu sou um pouco obsessiva”. E é neste momento que já conseguimos pensar no que vem pela frente.

O que mais incomoda nessa personagem é que ela foi fetichizada desde o início de “Por Trás da Inocência”. Ela parece ser constantemente usada para justificar a “nova” atração de Mary por mulheres, que até então nunca tinha acontecido. É como se Mary tivesse sido privada de todos os seus desejos e somente com a chegada dela tudo emergisse.

Soa familiar para vocês?

LesB Cast | Temporada 2 Episódio 02 – The Wilds e teorias para a segunda temporada

A diretora e roteirista Anna Elizabeth James tem a mão leve para a condução das cenas. Talvez ela tema que suas simbologias não sejam claras o bastante, ou duvide da capacidade de compreensão do espectador. De qualquer modo, ressalta suas intenções ao limite do absurdo: o erotismo entre as duas mulheres se confirma por uma sucessão vertiginosa de fusões, sobreposições, câmeras lentas e imagens deslizando por todos os lados, sem saber onde parar.

A escritora bebe uísque e fuma charutos o dia inteiro (é preciso colocar um objeto fálico na boca, claro), enquanto a funcionária mostra os seios, segura facas de maneira sensual e acidentalmente entra no quarto da patroa sem bater na porta. “Por trás da inocência” se torna um herdeiro direto da estética soft porn da televisão aberta por suas simplicidades e exageros. Ou seja, típico filme feito para agradar homens.

Este é o clássico filme sáfico que poderia ser muito bom, mas foi apenas mediano. Infelizmente, o longa só nos mostra mais uma vez o quanto ainda temos um longo caminho pela frente nessa indústria.

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“Por trás da inocência” está disponível para assistir na Netflix.

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LesB Cast | Temporada 2 Episódio 02 – The Wilds e teorias para a segunda temporada

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Fala LesBiCats, o LesB Cast está de volta com um novo episódio. Desta vez, vamos conversar sobre a série do Prime Video “The Wilds”, que retorna dia 6 de maio, o desenvolvimento das personagens ao longo da primeira temporada e PRINCIPALMENTE, o que esperamos do segundo ano da produção. Estão preparadas para nossas teorias?

Nesta edição contamos com a presença da nossa apresentadora Grasielly Sousa, nossa editora-chefe Karolen Passos, nossa diretora de arte Bruna Fentanes e nossa colaboradora França Louise. E aí, vamos conversar sobre “The Wilds”?

Se você gostar do nosso podcast, quiser fazer uma pergunta ou sugerir uma pauta, envie-nos uma DM em nossas redes sociais ou um e-mail para podcast@lesbout.com.br 😉

Créditos:

Lembrando que nosso podcast pode ser escutado nas principais plataformas como: Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music e Google Podcasts.

Espero que gostem. Até a próxima!

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LesB Saúde | A descoberta tardia da sexualidade

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Com a evolução de se ter a cultura sáfica (sáfica aqui carrega o sentido de mulheres que se relacionam com outras mulheres) sendo representada em produções artísticas e na mídia como livros, filmes e séries, se observarmos bem, nesses espaços o tema, na maioria das vezes, vem sendo abordado com a descoberta da sexualidade durante a adolescência. E sim, é importante ter essas produções voltadas para a identificação do público juvenil, entretanto, também se faz importante discutir sobre as possibilidades dessa descoberta em outras fases da vida, esse texto tem a intenção de refletir sobre isso.

Diante das outras possibilidades da descoberta, podemos usar como exemplo o recente casal Gabilana (Gabriela e Ilana) que vem sendo bastante falado; as personagens são interpretadas por Natália Lage e Mariana Lima na novela “Um Lugar ao Sol”, da Rede Globo. Casal esse que conseguiu ficar junto na trama só depois de 20 anos após se conhecerem, depois dos desencontros da vida. Durante o desenvolvimento da história das duas podemos perceber como elas lidaram com a heterossexualidade compulsória, o medo do julgamento e de se permitirem vivenciar quem são de verdade.

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Devemos considerar também que, para além de toda a invisibilidade percebida na mídia, o nosso dia a dia também faz parte desse processo de reconhecimento. Estamos atentas para conhecermos e conversarmos com mulheres que vivem essa realidade depois de certa idade, sendo esta uma idade que a sociedade julga como “errada” para descobrir a sua sexualidade. Portanto, o que essas mulheres sentem depois que percebem que estão nessa situação?

A experiência de mulheres que passam por essa descoberta “tardia” não envolve só a descoberta em si, mas devemos olhar também para outras complexidades que vêm com isso, como o sentimento de invalidação da sua sexualidade, além do possível sofrimento causado depois de anos experienciando o que as impedem de viver plenamente o que sentem.

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A representação da mídia traz aqui um papel importante, já que provavelmente mulheres dessas vivências passam pelo questionamento “não existem pessoas como eu?” e indagações semelhantes. A sensação de reconhecimento, além da troca com outras mulheres que passam pelo mesmo, pode importar e fazer a diferença na vida de quem é atravessada por essas questões.

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Bombando