O caminho religioso precisa mesmo ser tão ardiloso?
“Noviciado” é um filme de 2017 sobre freiras escrito e dirigido por Margaret Betts. É instigante, observa e critica alguns dogmas da religião católica, e ainda traz a palavra “consolo” como eufemismo para sexo lésbico.
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Nora (Julianna Nicholson) nunca foi uma mulher católica. No entanto, é uma mãe atenta e ciente do fato de que seu marido não é um homem confiável, sendo assim, assume sozinha a criação da sua única filha Cathleen (Margaret Qualley). Entre suas preocupações está apresentar à menina ao mundo que lhe espera em todas as suas nuances, inclusive no âmbito religioso. É por isso que, certo domingo, a leva à missa. “Para que, no futuro, você possa decidir por si só se quer, ou não, ter esse tipo de fé”. Entre uma visita à igreja e a entrada em um colégio de freiras, a garota acaba decidindo ela própria dedicar sua vida a Cristo. O noviciado – também título da produção – é um processo que se dá no decorrer de mais de um ano, no qual toda candidata terá sua vontade em se tornar uma freira testada até o limite, até o ponto em que sua certeza e comprometimento estejam acima de qualquer suspeita.
Ao decorrer do filme, nos é mostrado O Concílio Vaticano II, que teve como objetivo modernizar alguns dogmas da Igreja. Seguindo este raciocínio, parece que está na hora da Igreja Católica passar por algumas reformas. No entanto, na época, tais novidades não foram tão bem aceitas por muitos, principalmente entre as devotas mais radicais, como é o caso da Madre Superiora (Melissa Leo), responsável pelo convento onde Cathleen está em seu processo de morrer para o mundo e nascer para Cristo – para espanto e tristeza da mãe, que fique claro. Sabemos que o noviciado demanda fé e disciplina, mas nada prepararia as meninas para o sofrimento e a humilhação pelos quais elas passariam. Numa época nem tão distante, em que as missas eram rezadas em latim e com o padre de costas para o povo, as “rosas” se submetem a autoflagelação e ao jejum como forma de punição quando não são perfeitas o suficiente para Jesus, e são encorajadas a denunciar as outras amigas quando elas fazem coisas erradas… Qual é, afinal, a utilidade de freiras enclausuradas?
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Com uma partição para lá de especial da nossa queridinha Dianna Agron no papel da irmã “Mary Grace”, a produção nos mostra a dificuldade e as descobertas da sexualidade em um contexto religioso, e de como isso é muitas vezes um fato ignorado pela sociedade e pela própria comunidade LGBTQIA+. Explorando quase de forma poética o relacionamento entre duas mulheres que estão tendo dúvidas sobre qual caminho seguir, é importante que nos atentemos que situações assim são comuns até os dias atuais, com menos frequência (assim espero), mas que não deixa de ser uma realidade muito próxima de nós. Se há tantas críticas ainda a serem feitas à Igreja, para Margaret Betts podemos fazer apenas elogios. Em seu primeiro longa-metragem como roteirista e diretora, ela já mostra confiança, firmeza, clareza na exploração das ideias e muito talento.
“Noviciado” parte de um fato histórico para construir uma narrativa fictícia que não pretende fazer julgamentos, mas acaba ensinando muitas coisas, como que a mudança quase nunca é fácil. E que amor não é, nem nunca foi, e jamais precisará ser, sinônimo de sacrifício.
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O filme está disponível para locação no Youtube e no Google Play Filmes e TV.