Em 2019, a HBO lançou a primeira série teen do canal: “Euphoria”. Um estouro em todos os sentidos, que ainda resultou em um Emmy para a belíssima atuação da Zendaya. Agora é a vez da sua irmã mais nova, o serviço de streaming HBO Max, apostar em uma moeda parecida com “Generation” (estilizado como Genera+ion).
Mas a verdade é que os únicos pontos que ligam as duas produções são os fatos de ter adolescentes como foco principal e o nome HBO acoplado. Na primeira parte da temporada (composta pelos oito episódios iniciais), “Generation” mostrou que está bem longe de seguir os passos de “Euphoria” e esse realmente não parece ser o objetivo da série. E isso vale para os originais da HBO Max como um todo, que apesar de carregar o nome do canal a cabo, as produções têm níveis diferentes de investimento, cuidado e objetivos.
A nova trama teen da HBO Max traz elementos já vistos em diversas outras séries focadas em adolescentes, e com uma roupagem que, em alguns momentos, lembra “Skam”, que parece focar em um público mais jovem de fato, pré-adolescentes, mas sem suavizar tópicos necessários. Apesar de trazer elementos que já funcionaram, “Generation” (ainda) não consegue causar o mesmo impacto que suas antecessoras. Mas isso não significa que não tem potencial.
“Generation” acompanha um grupo de estudantes do Ensino Médio criando laços e explorando a sexualidade, testando suas crenças na vida, amor e família. A base da produção é a chamada Geração Z, pessoas o tempo inteiro conectadas, que falam o que pensam, que tem os olhos mais abertos para as novidades do mundo, buscam mais liberdade. Mas que passam por problemas como adolescentes de qualquer outra geração.
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Um ponto importante para trazer a autenticidade da série são as mentes por trás dela. “Generation” é criada pelo duo de pai e filha, Daniel e Zelda Barnz. Zelda é uma adolescente como os personagens, com apenas 19 anos de idade. Algo que não é tão comum de acontecer, já que as produções teen costumam ser criadas por pessoas de outra geração, com outras vivências.
Mas apesar disso, nem tudo funciona nesses primeiros oito episódios. E o principal problema é o roteiro, que ainda parece muito forçado, provavelmente porque os escritores não tem 19 anos como Zelda. A utilização de frases de efeito e diálogos sem sentido atrapalham muito o envolvimento com a narrativa. Existem formas de mostrar que os personagens são desconstruídos e evoluídos sem necessariamente ter falas óbvias saindo da boca deles. Muitas vezes as ações falam mais do que as palavras e é nisso que a produção falha.
Mas apesar dos problemas graves no roteiro, a trama consegue se sustentar com um elenco e a química entre eles. A força dessa primeira metade da temporada é total deles (elenco) e dos personagens. Mesmo com os diálogos fracos, é possível perceber atuações interessantes e com grande potencial.
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Com exceção do Justice Smith (que tem no currículo filmes de grande sucesso como “Jurassic World” e “Detetive Pikachu”), basicamente todo o elenco é formado por rostos desconhecidos e isso é um ponto que funciona. Smith serve como um guia, mas esses jovens atores tem a sua força e mesmo sem atuações impecáveis, conseguem passar a autenticidade que a série necessita e clama ter. E é com a força desse grupo que a narrativa consegue trazer seus melhores momentos, com todos juntos, ou com o trio Chester (Smith), Riley (Chase Sui Wonders) e Greta (Haley Sanchez), apenas curtindo, sem grandes diálogos, momentos corriqueiros da vida desses jovens.
Desenvolvimento de personagens
Durante a primeira metade da temporada, somos apresentados a quatro linhas onde a série vai se desenvolver: Chester, Nathan (Uly Schlesinger), Greta e o parto. Alguns plots, como o do Chester, são muito prejudicados pelo roteiro. Eles pincelam a ideia de trabalhar a solidão do adolescente, mas isso é feito de forma muito superficial, focando muito mais em um relacionamento com uma figura adulta do que nos próprios problemas do personagem. A história acaba se perdendo, sendo resgatada com a força da atuação do Smith em alguns momentos bem específicos.
A história da Greta é a que mais me intrigou nessa primeira metade e que acaba também ganhando mais espaço para se desenvolver. É muito satisfatório acompanhar a menina tímida com uma crush e ver como ela vai evoluindo ao longo dos capítulos, juntamente com o possível romance com Riley. A forma como eles trabalham o relacionamento das duas, trazendo um lado mais delicado, até mesmo inocente, focando em detalhes, olhares, com certeza foi um acerto.
Apesar de desde o primeiro momento “Generation” deixar bem estabelecido o interesse de Greta em Riley, a personagem ainda está se descobrindo, ainda está tentando entender seus sentimentos. E isso não apenas para o fato dela ser lésbica ou não, pois parece ser algo mais definido na cabeça dela, mas talvez ela esteja ainda tentando entender como se relacionar com outra pessoa e o que ela quer em um relacionamento. Espero que isso seja explorado na segunda metade.
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Outra coisa que necessito que seja mais explorado é a história de Riley. A personagem me conquistou por completo já na cena final do primeiro episódio, mas em nenhum momento teve sua vida desenvolvida, os seus momentos são mais voltados para o relacionamento com a Greta e ela merece mais espaço. Espero que trabalhem mais a personagem e a relação conturbada que ela parece ter com a família.
A produção merece reconhecimento também por trazer uma realidade de jovens queer. Boa parte dos personagens são LGBTQIA+ e isso ainda não é algo comum. O que temos na maioria é um personagem gay e seu interesse amoroso. Então ver o protagonismo para esses adolescentes e suas histórias é algo importante e necessário. “Generation” é uma série cheia de potencial, mas que ainda precisa de largos passos para conseguir entregar algo realmente bom e não depender apenas do carisma e talento do elenco. Espero que ela tenha tempo para alcançar seu potencial por completo.
A primeira temporada de “Generation” já está disponível na HBO Max.