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Literatura

Resenha | Não conte nosso segredo – um drama que conversa com a realidade

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Ficha Técnica
Livro: Não conte nosso segredo
Autora: Julie Anne Peters
Tradutor: 
Cristina Lasaitis
Editora: Hoo Editora
Número de Páginas: 301
Ano de Lançamento: 2017


“A primeira vez que a vi foi no espelho da porta do meu armário. Eu havia acabado de empurrar meu equipamento de natação com o pé na prateleira inferior e estava pegando, na parte superior, meu livro de cálculo quando ela abriu seu armário no lado oposto do corredor. Ela tinha um rabo de cavalo com mechas loiras saindo da parte de trás do boné de beisebol.”

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“Não Conte Nosso Segredo”, livro de estreia da autora norte-americana Julie Anne Peters, já começa com essa interessante alusão ao “armário” ao qual pessoas LGBTQIA+ são comumente inseridas e retiradas de acordo com o contexto social em que elas se encontram.

A história de autodescoberta de Holland Jaeger se inicia com a chegada de Ceci Goddart, lésbica orgulhosamente assumida, à escola e o estranho magnetismo que ela causa na protagonista, que começa a observá-la de seu armário, que fica bem em frente ao da novata. Conforme as duas vão se conhecendo e se aproximando, esses armários físicos tornam-se ponto de encontro para elas, sendo referenciados ou citados sessenta e oito vezes durante a narrativa.

Pressionada a ser a garota perfeita, Holland se encontra sufocada com as cobranças da mãe, que descarrega sobre a filha mais velha todas as expectativas que teve para si mesma e não pôde vivê-las por conta de uma gravidez precoce, além disso, tem a sobrecarga de atividades por ser presidente do conselho estudantil. Tudo isso ao mesmo tempo em que percebe sua atração por alguém do mesmo gênero.

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“As expectativas. Elas mandavam na minha vida.

Corte o final. Revise o roteiro. O cara dos sonhos dela é uma garota.”

Em Não Conte Nosso Segredo”, a protagonista não entra em conflito com a própria sexualidade. Na verdade, Holland só se questiona por não ter entendido isso antes, uma vez que fica evidente que já esteve atraída por outras garotas. Esta não é uma narrativa como as que costumamos ler. A história da protagonista não ganha uma pausa para entender a própria sexualidade, ao mesmo tempo que tudo não gira em torno dessa descoberta, ao contrário, a vida de Holland Jaeger está um caos e seus problemas não vão embora enquanto ela se apaixona, o que a torna uma personagem ainda mais real e profunda.

“Ceci me comprou uma camiseta. Dizia: NINGUÉM SABE QUE SOU LÉSBICA. É, eu estava saindo do armário, mas também não tinha toda essa coragem. Por que não fazer um anúncio depois da A.P.? “Atenção. Acabamos de receber uma confirmação. Holland Jaeger é oficialmente lésbica.” Não. Eu queria fazer isso do meu jeito. Uma pessoa por vez. Aquelas que precisavam e mereciam ouvir de mim.”

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A obra de Julie Anne Peters, apesar de ter sido escrita há quase vinte anos, ainda conversa muito com a realidade vivida por pessoas LGBTQIA+. A não aceitação da família, busca por acolhimento nos membros da própria comunidade, e até casos gravíssimos de homofobia, com episódios de agressão física, sem nos tirar o prazer de um final feliz. Uma história profunda, com personagens cativantes e um romance que deixa o coração quentinho.

Formada em Letras, pela Universidade Regional do Cariri, apaixonou-se pela História antes mesmo de terminar a primeira graduação, agora brada orgulhosamente a condição de historiadora em formação. Da maneira mais sincera vive de arte. Qualquer minuto de liberdade é um bom momento para ouvir música, ou ler um livro/poesia e, de vez em quando, escrever a si mesma.

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Literatura

Resenha | Cupidos não se apaixonam – o melhor livro da Clara Alves (até agora)

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Ficha Técnica
Livro: Cupidos não se apaixonam
Autora: Clara Alves
Editora: Seguinte
Número de Páginas: 296
Ano de Lançamento: 2025


No novo livro da autora de “Conectadas”, Clara Alves entrega um romance sáfico leve, divertido e cheio de reflexões sobre amadurecimento, identidade e autodescoberta. Inspirado em “As Patricinhas de Beverly Hills” e “Legalmente Loira”, “Cupidos não se apaixonam” traz uma protagonista que mistura carisma, insegurança e muito coração.

Chiara sempre acreditou ter tudo sob controle: o curso certo, o futuro planejado e uma carreira promissora em Direito. Ela é uma personagem complexa: carrega o peso das expectativas familiares, tenta ser perfeita o tempo todo e acaba se anulando para agradar os outros. Se autointitula “cupido”, porque acerta nas relações das amigas, mas nunca na própria vida amorosa. Rainha do gelo da faculdade, vive de beijos vazios e acredita que não foi feita para o amor, apenas para levá-lo aos outros. Assim, assume o papel de cupido da turma e se dedica a unir casais.

Mas, quando resolve juntar a melhor amiga  (ainda abalada por um relacionamento tóxico) com uma nova caloura charmosa do curso, Chiara percebe que o destino pode ter outros planos para o coração dela. E é aí que começa uma jornada deliciosa de confusão, autoconhecimento e, claro, slow burn (dá aquela ansiedade boa de ver tudo se desenvolvendo aos poucos, com muita química entre as duas).

Jess, a personagem que conquista Chiara, é simplesmente encantadora: charmosa, emocionada e apaixonante. Impossível não se encantar com ela e com a forma como foi construída. E quem nunca caiu no clichê de se apaixonar por uma hétero, né? (Supostamente hétero).

“— Ah, eu não me assusto com facilidade, não. — Jess se recosta na cadeira e volta a olhar para mim. —  Uma das minhas melhores qualidades é ser persistente.”

Além do romance, o livro aborda temas importantes, como a descoberta da sexualidade na vida adulta, transtornos alimentares (citados com sensibilidade) e representatividade PCD com naturalidade — com uma personagem cadeirante (Bruna, a melhor amiga de Chiara).

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“Cupidos não se apaixonam” é uma história sobre tentar ajudar os outros enquanto ainda se perde tentando entender a si mesma. Sobre aprender que errar faz parte e que viver é muito mais do que seguir um plano perfeito. Com uma escrita leve e fluida, é uma leitura para todas as idades e, sem dúvidas, o melhor livro da Clara Alves até agora.

 

  • História
  • Personagens
4.5

Sinopse

No novo livro da autora do best-seller Conectadas, acompanhamos um romance lésbico divertido e envolvente, perfeito para fãs de As patricinhas de Beverly Hills.

Chiara sempre teve certeza de tudo. Do curso que escolheu, da carreira que quer construir, do futuro perfeito que tem pela frente. Só uma peça continua faltando: um romance. Depois de várias tentativas que não deram em nada, ela chega à conclusão de que talvez o amor exista, sim — só não seja pra ela. E tudo bem, porque ela acaba de encontrar um novo propósito: assumir o papel de cupido e ajudar os outros a se apaixonarem.

Sua primeira missão? Juntar a melhor amiga, que ainda sofre por causa da ex, com a caloura charmosa que acabou de entrar no curso de direito. O problema é que, quanto mais Chiara tenta unir as duas, mais percebe que seu coração talvez tenha outros planos…

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Literatura

Resenha | Uma Taça Para Duas – Um livro para ser lido “como quem morre” de amores

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Ficha Técnica
Livro: Uma Taça Para Duas
Autora: Lela Gomes
Editora: Publicação Independente
Número de Páginas: 75
Ano de Lançamento: 2024


Imagine uma ferida aberta, sangrando mais e mais. E, embora você tente, a todo custo, estancar, os panos vão ficando cada vez mais ensanguentados e o desespero toma conta de você. Já não há mais o que possa ser feito, apenas sentir a dor e, aos poucos, sentir o sangue esvaindo-se do seu corpo. Provavelmente sozinha. Provavelmente em segredo. Mas uma certeza você tem: independente de qual rumo aquela história irá tomar, no final, você estará bem.

É exatamente essa a sensação que a leitura de Uma Taça Para Duas”, obra de estreia da roteirista e escritora Lela Gomes nos traz, um encontro doloroso com as palavras, que ferem e curam ao mesmo tempo, deixando uma cicatriz visível. O tipo de leitura que, como sugere Manuel Bandeira, deve ser lido “como quem morre”, por isso, não abra este livro, “se por agora não tens motivo nenhum de pranto”, parte da beleza será perdida se você estiver alegre.

Stupid Wife: Lembre-se de nós – da fanfic à reconstrução do amor

Lela Gomes já inicia sua obra com um aviso, “esse livro é uma história real de uma paixão avassaladora e clichê de alguém que não acreditava mais nela: Eu”. Em seguida nos apresenta suas personagens, no caso, ela mesma, Mirella dos Santos Gomes de Souza, que aparecerá na história representada apenas pelo pronome EU, e ELA, uma mulher de cabelos bonitos, nariz milimetricamente perfeito, os melhores cheiros e com uma forma linda de ver o mundo. 

“A gente se encontrou no momento mais errado de nossas vidas. Então te adianto para poupar seu tempo, se você espera que isso aqui tenha um final de novela das nove, não vai ter, quer dizer, nem eu sei como acaba, mas, dependendo do seu ponto de vista, o fim já é bom, porque ELA conseguiu fazer o que parecia impossível: EU voltar a sentir”.

LesB Cast | Temporada 4 Episódio 03 – Nossos pitacos sobre a quarta temporada de “Hacks”

No decorrer das 75 páginas que compõem o livro, a criadora e roteirista da websérie Depois da Meia Noite”, conta a história de seu coração partido e da sua admissão ao clube “dos completamente descrentes na possibilidade de me apaixonar por qualquer mulher existente na face da terra”, uma participação limitada, pois a chegada DELA, que poderia passar horas falando mal de homens cis-héteros, que percebia o seu tom de voz ao falar sobre as coisas que lhe empolgavam e, principalmente, tinha sardas, pois “a paixão tem sardas”, logo a faz mudar de clube, dessa vez para o dos “não descrentes no amor, mas nos que não têm sorte com ele”. Daí já dá pra imaginar onde vamos parar, né? Só que não!

Em Uma Taça Para Duas”, Lela Gomes estabelece uma conexão com suas leitoras, unindo a sua escrita poética à uma conversa intimista e profunda, mas sem revelar muitos detalhes da sua história. É como se ela nos dissesse que “o essencial é invisível aos olhos”,  nesse caso, o essencial é suficiente para torcemos para que, depois da última página, ela e ELA vivam os seus felizes para sempre!

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Stupid Wife: Lembre-se de nós – da fanfic à reconstrução do amor

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Livro: Stupid Wife: Lembre-se de nós
Autora: Nathalia Sodré
Editora: Independente
Número de Páginas: 842
Ano de Lançamento: 2022


“Stupid Wife: Lembre-se de nós” se tornou uma sensação na internet após o lançamento da websérie Stupid Wife, atingindo o Top 10 de vendas. Mas conheço essa história desde que a autora lançou sua primeira versão como fanfic, e, depois do lançamento da série, me senti obrigada a ler o livro para conhecer todas as modificações feitas pela autora.

O livro conta a história de Camille, que acorda um dia sem lembrar nada dos últimos anos de sua vida. Sua última lembrança é de quando tinha 16 anos, ainda estava na escola e odiava sua atual esposa (e mãe do seu filho) Luna Jacobs. Diante dessa loucura, Camille precisa decidir se vai continuar casada com Luna e, para isso, precisa deixar de lado sua rixa adolescente e aprender a amar essa mulher pela segunda vez.

Primeiras Impressões | Stupid Wife – Primeira Temporada

Quando li “Stupid Wife” pela primeira vez, em forma de fanfic, a história me prendeu de cara, pois lembrava muito a premissa do filme “Para Sempre”. A narrativa tinha um ritmo rápido, as personagens eram interessantes e o modo como a história era contada conquistava o leitor, já que Camille ia tendo flashes de memória ao longo da trama, e, junto com ela, íamos descobrindo o que havia acontecido no seu passado.

Mas o livro “Stupid Wife: Lembre-se de nós” é bem diferente da fanfic. A dinâmica entre as personagens mudou, mas o que realmente me pegou foi a modificação da estrutura narrativa: os flashes de memória foram retirados e o passado das personagens passou a ser contado por meio da narração direta. Isso deixou a história, na minha visão, um pouco menos interessante, pois essas passagens alongam a leitura e tornam o ritmo mais lento.

A construção da reaproximação entre as protagonistas é uma fase essencial do enredo, já que a Camille que conhecemos tem apenas as lembranças e experiências de uma adolescente de 16 anos, que sentia raiva de Luna por conta das implicâncias no colégio. Por isso, era necessário que a autora tratasse esse reencontro com cuidado, para que não soasse forçado. E isso foi feito com calma, ao ponto de nos fazer detestar a Camille nos primeiros capítulos (com certa razão!).

LesB Cast | Temporada 3 Episódio 13 – a segunda temporada de “Stupid Wife”

O grande problema é que, após essa reaproximação, as cenas do casal se tornam excessivas, a ponto de não contribuírem para o crescimento das personagens, servindo apenas para alongar a história e torná-la um pouco monótona, já que não há grandes conflitos a serem enfrentados nesse trecho.

Ainda que a narrativa perca fôlego no meio do livro, conforme nos aproximamos do final, o enredo volta a envolver. O casal enfrenta novos desafios que as aproximam ainda mais e fortalecem essa relação em reconstrução e nós, leitores, também nos sentimos mais conectados a elas por conta da vulnerabilidade que nos é apresentada.

O que torna a relação das protagonistas o ponto alto da história. Sem contar que “Stupid Wife: Lembre-se de nós” nos apresenta personagens que fogem da dualidade “bom x mau”. Por mais que alguns clichês estejam presentes, é interessante acompanhar personagens que não estão preocupadas em parecer boas pessoas, mas sim em conquistar o que desejam, custe o que custar.

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Bombando