Em “The World to Come”, um romance improvável desabrocha no cenário rural do Nordeste americano. O filme se desenrola durante o ano de 1850, somente alguns anos antes da Guerra Civil Americana. O cenário, dificilmente, poderia ser mais isolado; a vida nos é mostrada muito mais longe do que é entendível como fácil. No dia 1º de janeiro, nossa solitária protagonista, dá as boas-vindas à mudança do calendário com a mais sombria das resoluções, escrevendo em seu diário: “Com pouco orgulho e menos esperança, começamos o novo ano”.
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Dirigido por Mona Fastvold, uma cineasta norueguesa que mora no Brooklyn, o longa-metragem marca a continuação de “The Sleepwalker” (“O Sonâmbulo”), que seguiu outro casal isolado, cujo casamento estava prestes a desmoronar – embora nos dias atuais e com muito mais dança. Vale lembrar que é a primeira vez que Fastvold trabalha com um roteiro que não é dela e é interessante vê-la se afastando de todo aquele niilismo e pressentimento em direção a algo tão comovente, mesmo que a transição no final se mostre um salto muito grande.
A narrativa foi extraída de um conto de mesmo nome de Jim Shepard, que a desenvolveu para as telas com Ron Hansen, autor de “O Assassinato de Jesse James”, de Robert Ford. Acontecendo ao longo de um ano, acompanhamos a introvertida Abigail (interpretada por Katherine Waterston), que conhece e logo se apaixona pela confiante Tallie (Vanessa Kirby). Abigail é casada com Dyer (Casey Affleck), um homem comum, embora um tanto distanciado; Tallie é casada com Finney (Christopher Abbott), que é “aparentemente” agradável, mas à medida que a narrativa avança, assistimos ele se tornar possessivo e ameaçador. E então, toda a interioridade da protagonista é revelada através de uma bela e poética narração em voice off, o que torna a escrita ainda mais forte no filme.
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Fastvold diz que ela foi atraída tanto pelo conteúdo do texto de Shepard quanto pelo rigor de sua exatidão histórica (os fãs dos filmes de época de Kelly Reichardt certamente ficarão satisfeitos.) A maior parte desse diálogo é ouvida em narração e entregue com pathos real de Waterston, uma atriz que sempre pareceu em casa para esses tipos de papéis melancólicos. As duas mulheres compartilham química real que Mona pacientemente extrai usando apenas pequenos gestos e, claro, olhares roubados em close-up devastador – um dos truques mais antigos e confiáveis do universo cinematográfico.
Filmado usando filme de 16mm, o drama é um pouco plano demais, o que é um choque. Talvez por força do hábito, Mona Fastvold nunca abala totalmente a melancolia do primeiro ato e parece quase relutante em se entregar ao romance central, mesmo quando ele progride. As comparações com o “Retrato de uma Jovem em Chamas”, de Céline Sciamma (já uma produção intocável para muitos) são injustas, mas igualmente difíceis de ignorar. É um trabalho pensativo, inquestionavelmente comovente, com muito a dizer sobre a vida interior das protagonistas.
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“The World to Come” tem um final cheio de tristeza e cenas sombrias. Como se além do amor e do anseio por ele, não restasse mais nada. Da forma mais poética possível: o mundo é devastador e o filme, também é.
MARIA DO ROSARIO SALES
29 de outubro de 2023 at 10:32
lindo filme 😍 o melhor! tudo muito bem feito. muito bonito. parabéns a todos. Vanessa Kirby, um sol