“Generation” chegou recentemente ao Brasil com a HBO Max liberando a temporada completa, mas nos Estados Unidos a produção foi dividida em duas partes de oito episódios cada. Ambas são bem divididas, parecendo realmente duas temporadas que se completam, mas temos uma mudança na estrutura da narrativa, uma virada de chave nas histórias.
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Se na crítica da primeira parte criada pelo duo de pai e filha, Daniel e Zelda Barnz, comentei que a produção ainda não tinha uma identidade definida, aos poucos ela parece se encontrar. Gosto de como os oito primeiros capítulos foram construídos, mas agora conseguimos ver uma evolução. Sem a necessidade de introduzir o público no universo, alguns problemas foram se arrumando, além de manter a força do elenco e dos personagens, algo que continua sendo o grande destaque.
Um dos fatores que mais me incomodou nos primeiros episódios foi o roteiro e como eles tratam alguns temas, principalmente em diálogos forçados e frases de efeito para mostrar que os personagens são desconstruídos e de uma geração diferente. Felizmente já foi possível ver um amadurecimento em relação a isso. Aos poucos eles conseguiram deixar as conversas mais naturais e deixar as situações agirem por conta própria. Ainda não é a melhor coisa do mundo, mas acho que eles estão encontrando a mão certa para a proposta da série.
Mas a principal força de “Generation” continua sendo os personagens e elenco. Apesar do número elevado de principais, eles conseguem dividir bem o tempo de tela e trazer um certo nível de desenvolvimento. Apesar disso, ainda tem alguns personagens que sinto dificuldade de criar algum tipo de vínculo. Na primeira parte, o foco era muito mais em Chester (Justice Smith), Greta (Haley Sanchez) e Nathan (Uly Schlesinger), com Riley (Chase Sui Wonders) acompanhando principalmente na relação com os três e o plot da gravidez que deu certo espaço para a Delilah (Lukita Maxwell). Agora o quarteto continua tomando o maior espaço de tela, com a Riley ganhando o maior destaque. Com isso, é muito mais fácil se aproximar desses personagens.
Enquanto isso, o trio Arianna (Nathanya Alexander), Naomi (Chloe East) e Delilah não têm a mesma força, elas parecem não ter se encontrado ainda na trama. Elas acabam ficando em segundo plano, principalmente agora sem a linha condutora da gravidez. Mesmo quando ganham destaque, a história não consegue trazer o mesmo impacto dos outros. Por muitas vezes, parece que elas estão ali apenas para ocupar espaço, mas não conseguem trazer características marcantes ou algo que possa atrair a atenção do público.
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Chester continua sendo um dos personagens com maior potencial desperdiçado. O personagem traz dilemas que podem render para a produção, além da qualidade de atuação do Justice Smith, mas ainda parece existir uma barreira e tudo em relação a ele é tratado de forma superficial. De qualquer forma, ver o personagem mais vulnerável, tentando engatar um relacionamento mais sério, foi uma evolução interessante. Ao mesmo tempo em que ele estava se abrindo, de certa forma, para uma relação, até que ponto também pode ser mais uma pessoa que ele precisa da atenção para ocupar um vazio?! É esse tipo de questionamento que a série precisa trabalhar. Não adianta jogar as ideias e não explorar.
Greta e Riley
O relacionamento entre Greta e Riley é um verdadeiro slow burn – quando leva um tempo para acontecer. Primeiro tivemos o crescimento dos sentimentos, até chegar a ruptura drástica com o episódio do motel. Agora elas precisaram recolher os cacos para reconstruir. A forma como os roteiristas escolheram fazer isso agrada bastante. Apesar da falta de diálogo, algo fundamental em qualquer relacionamento, e necessário nesse caso, elas precisam resolver seus problemas pessoais para então avançar juntas. Então esse momento afastadas funcionou.
Riley virou completamente o centro das atenções. A personagem que já tinha mostrado um grande potencial ganhou o espaço merecido para crescer ainda mais. O relacionamento dela com a família foi jogado de qualquer forma no começo e agora conseguimos acompanhar de fato a angústia da personagem. Se em alguns senti que faltou ir mais profundo nos problemas, com Riley os roteiristas acertaram a mão.
Mas boa parte do resultado foi graças a entrega total da Chase. A personagem teve momentos bem intensos e a atriz conseguiu segurar muito bem e transmitir os sentimentos e questionamentos da Riley. Destaque para o episódio “Click Whirr”, um dos melhores de toda a série e que conseguiu trazer na medida certa o caminho que “Generation” deveria seguir. E tudo isso guiado por uma atuação impecável da Chase.
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De forma mais sutil, também tivemos um passo importante para Greta. Algumas ações da personagem já demonstravam que esse poderia ser o caminho que a produção iria seguir, mas fiquei feliz em ver que eles realmente trouxeram a assexualidade à tona. Só lembro de duas outras séries que apresentaram personagens assexuais: “Everything’s Gonna Be Okay” e “Bojack Horseman”. Ainda é algo pouco explorado na televisão, o que torna esse momento ainda mais importante. Espero muito que seja renovada para ver como eles irão desenvolver as duas, finalmente, como casal.
Como destaquei na crítica anterior, “Generation” é uma série cheia de potencial e que tem um importante trabalho de trazer o protagonismo para as histórias de um diverso grupo de adolescentes, na sua maioria LGBTQIA+. Eles conseguiram juntar um excelente grupo de atores e aos poucos a produção vem evoluindo. A energia caótica da season finale mostrou que eles podem entregar todo o potencial que apresenta. Sinto que “Generation” ainda tem muito para entregar, e espero que a HBO Max renove a produção e que eles consigam ajustar o que é necessário para se tornar algo que vai deixar uma marca nessa geração.