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Literatura

Resenha | Florence – obra nacional que você precisa conhecer

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Ficha Técnica
Livro: Florence
Autora: Victória Mendes
Editora: Independente
Número de Páginas: 118
Ano de Lançamento: 2021


Você já se perguntou o que aconteceria se, ao invés de um príncipe, Cinderella encontrasse uma princesa?”. É com essa promessa que a leitora de Florence” se depara logo no prefácio. Promessa que, já adianto, foi cumprida magistralmente. Escrito por Victoria Mendes, o livro é o primeiro da série Filhas de Margery”.

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Florence é uma garota órfã, que vive sob a tutela de sua madrasta, Yvanna, numa pequena província da Europa, junto de suas irmãs postiças. Até então a narrativa pouco se difere da história original. Yvanna e as filhas são extremamente hostis com a nossa Cinderela e a tratam, não como membro da família e verdadeira proprietária da casa que habitam, mas como sua serva, legando à moça todas as obrigações domésticas, bem como idas longas e cansativas à cidade, a pé, ainda que em busca de uma carruagem para as outras.

É numa dessas visitas à cidade que conhecemos Robin, mas só por alto, porque nem a própria Florence sabe muita coisa sobre ela, somente que as duas têm uma amiga em comum, Madame Tine, “uma senhorinha adorável de quase sessenta anos”, que era mãe da cunhada de Robin. Porém, mesmo com poucas informações sobre a garota, a química entre elas é indiscutível.

— Ora, se não é a garota que fala com os pássaros. — A voz de Robin me tranquiliza ao passo que também me deixa irritada. — Seus amigos de penas nunca te disseram que é perigoso para uma jovem andar desacompanhada por essas estradas? 

[…]

— Não, mas em compensação eles me alertaram sobre falar com estranhos.

— Bem, não sou eu quem conversa com corvos aqui, então acho que o adjetivo representa melhor você do que a mim.

— Você sabe que não é desse tipo de “estranho” que estou falando. Além do mais — ergo os olhos para encarar seu rosto pela primeira vez — se eu fosse um corvo, também não conversaria com você”.

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Mas como tudo o que está ruim pode piorar, a vida de Florence se torna ainda mais difícil com a chegada de um pretendente de casamento para Yvanna, que desenvolve uma grave obsessão pela nossa heroína, tornando a convivência na casa intragável. Em meio a tudo isso, temos um baile real no qual o príncipe deve escolher sua futura esposa, uma princesa fujona e uma sociedade só de mulheres, que vivem numa ilha secreta.

Esse é um mundo cruel para mulheres, e sobretudo para as mulheres que amam mulheres”.

Num contexto extremamente patriarcal, a Ilha da Deusa é um refúgio para as mulheres que não querem se sujeitar ao domínio masculino e, de quebra, terem a liberdade de amar como e quem quiser. E embora o aprofundamento da ilha fique para o segundo volume da série, é impossível não pensar em outras sociedades femininas que também já foram refúgios para mulheres da ficção (e objetos de desejos nossos, meras mortais), como Temiscira, de Mulher Maravilha”; Avalon, da obra de Marion Zimmer Bradley; Herland, de “Herland: A Terra das Mulheres”, criada por Charlotte Perkins Gilman e, claro, a Ilha do Nevoeiro, de A Rainha do Ignoto”, a primeira obra brasileira de fantasia e ficção científica, escrita pela cearense Emília Freitas.

A leitura de Florence”, embora fluída, não é leve. No decorrer das páginas, Victoria Mendes aborda temas sensíveis como abuso familiar e assédio. Em algumas passagens a protagonista manifesta um desejo íntimo em acabar com tudo de maneira irreversível, no entanto, nunca levado a cabo em decorrência daquele sentimento conhecido pela sua capacidade de cura e resiliência — “Alguns dias são mais difíceis do que outros. Mentiria se dissesse que nunca pensei em simplesmente desistir, me atirar contra as rochas sob o penhasco e deixar que o oceano abrace o que restar do meu corpo. No entanto, quando esses pensamentos vêm, me lembro  do amor que meu  pai tinha por mim e pela nossa casa, de um sorriso que só ver meu rosto podia evocar”.

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Florence” é uma das muitas obras nacionais (e contemporâneas) que merecem ser espalhadas pelos quatro cantos do país!


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LesB Nota
  • História
  • Personagens
5

Sinopse

Nesta releitura de Cinderela, conhecemos Florence, uma garota órfã, perdida entre sonhos enigmáticos e a realidade terrível sob a tutela de uma madrasta rancorosa. Numa pequena província independente da Europa durante o começo do século 19 – onde mulheres não possuem voz ou direitos civis e humanos – o destino de Flora parece ter sido selado quando um estranho entra na vida de sua família postiça e desenvolve uma obsessão pela garota. Tudo está perdido até que, durante uma aventura noturna proibida, ela conhece uma certa princesa que a faz descobrir que a vida pode ser mais do que páginas repetidas de um mesmo livro, e que não há ninguém como nós mesmos para escrever nossa própria história. Além de romance, este livro nos apresenta tudo que o clássico da Disney não contou sobre amizade, família, medo, descobertas e liberdade.

Formada em Letras, pela Universidade Regional do Cariri, apaixonou-se pela História antes mesmo de terminar a primeira graduação, agora brada orgulhosamente a condição de historiadora em formação. Da maneira mais sincera vive de arte. Qualquer minuto de liberdade é um bom momento para ouvir música, ou ler um livro/poesia e, de vez em quando, escrever a si mesma.

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Literatura

Resenha | Cupidos não se apaixonam – o melhor livro da Clara Alves (até agora)

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Ficha Técnica
Livro: Cupidos não se apaixonam
Autora: Clara Alves
Editora: Seguinte
Número de Páginas: 296
Ano de Lançamento: 2025


No novo livro da autora de “Conectadas”, Clara Alves entrega um romance sáfico leve, divertido e cheio de reflexões sobre amadurecimento, identidade e autodescoberta. Inspirado em “As Patricinhas de Beverly Hills” e “Legalmente Loira”, “Cupidos não se apaixonam” traz uma protagonista que mistura carisma, insegurança e muito coração.

Chiara sempre acreditou ter tudo sob controle: o curso certo, o futuro planejado e uma carreira promissora em Direito. Ela é uma personagem complexa: carrega o peso das expectativas familiares, tenta ser perfeita o tempo todo e acaba se anulando para agradar os outros. Se autointitula “cupido”, porque acerta nas relações das amigas, mas nunca na própria vida amorosa. Rainha do gelo da faculdade, vive de beijos vazios e acredita que não foi feita para o amor, apenas para levá-lo aos outros. Assim, assume o papel de cupido da turma e se dedica a unir casais.

Mas, quando resolve juntar a melhor amiga  (ainda abalada por um relacionamento tóxico) com uma nova caloura charmosa do curso, Chiara percebe que o destino pode ter outros planos para o coração dela. E é aí que começa uma jornada deliciosa de confusão, autoconhecimento e, claro, slow burn (dá aquela ansiedade boa de ver tudo se desenvolvendo aos poucos, com muita química entre as duas).

Jess, a personagem que conquista Chiara, é simplesmente encantadora: charmosa, emocionada e apaixonante. Impossível não se encantar com ela e com a forma como foi construída. E quem nunca caiu no clichê de se apaixonar por uma hétero, né? (Supostamente hétero).

“— Ah, eu não me assusto com facilidade, não. — Jess se recosta na cadeira e volta a olhar para mim. —  Uma das minhas melhores qualidades é ser persistente.”

Além do romance, o livro aborda temas importantes, como a descoberta da sexualidade na vida adulta, transtornos alimentares (citados com sensibilidade) e representatividade PCD com naturalidade — com uma personagem cadeirante (Bruna, a melhor amiga de Chiara).

LesB Indica | Veep – política, sarcasmo e um amor que floresce no meio do caos

“Cupidos não se apaixonam” é uma história sobre tentar ajudar os outros enquanto ainda se perde tentando entender a si mesma. Sobre aprender que errar faz parte e que viver é muito mais do que seguir um plano perfeito. Com uma escrita leve e fluida, é uma leitura para todas as idades e, sem dúvidas, o melhor livro da Clara Alves até agora.

 

  • História
  • Personagens
4.5

Sinopse

No novo livro da autora do best-seller Conectadas, acompanhamos um romance lésbico divertido e envolvente, perfeito para fãs de As patricinhas de Beverly Hills.

Chiara sempre teve certeza de tudo. Do curso que escolheu, da carreira que quer construir, do futuro perfeito que tem pela frente. Só uma peça continua faltando: um romance. Depois de várias tentativas que não deram em nada, ela chega à conclusão de que talvez o amor exista, sim — só não seja pra ela. E tudo bem, porque ela acaba de encontrar um novo propósito: assumir o papel de cupido e ajudar os outros a se apaixonarem.

Sua primeira missão? Juntar a melhor amiga, que ainda sofre por causa da ex, com a caloura charmosa que acabou de entrar no curso de direito. O problema é que, quanto mais Chiara tenta unir as duas, mais percebe que seu coração talvez tenha outros planos…

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Literatura

Resenha | Uma Taça Para Duas – Um livro para ser lido “como quem morre” de amores

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Ficha Técnica
Livro: Uma Taça Para Duas
Autora: Lela Gomes
Editora: Publicação Independente
Número de Páginas: 75
Ano de Lançamento: 2024


Imagine uma ferida aberta, sangrando mais e mais. E, embora você tente, a todo custo, estancar, os panos vão ficando cada vez mais ensanguentados e o desespero toma conta de você. Já não há mais o que possa ser feito, apenas sentir a dor e, aos poucos, sentir o sangue esvaindo-se do seu corpo. Provavelmente sozinha. Provavelmente em segredo. Mas uma certeza você tem: independente de qual rumo aquela história irá tomar, no final, você estará bem.

É exatamente essa a sensação que a leitura de Uma Taça Para Duas”, obra de estreia da roteirista e escritora Lela Gomes nos traz, um encontro doloroso com as palavras, que ferem e curam ao mesmo tempo, deixando uma cicatriz visível. O tipo de leitura que, como sugere Manuel Bandeira, deve ser lido “como quem morre”, por isso, não abra este livro, “se por agora não tens motivo nenhum de pranto”, parte da beleza será perdida se você estiver alegre.

Stupid Wife: Lembre-se de nós – da fanfic à reconstrução do amor

Lela Gomes já inicia sua obra com um aviso, “esse livro é uma história real de uma paixão avassaladora e clichê de alguém que não acreditava mais nela: Eu”. Em seguida nos apresenta suas personagens, no caso, ela mesma, Mirella dos Santos Gomes de Souza, que aparecerá na história representada apenas pelo pronome EU, e ELA, uma mulher de cabelos bonitos, nariz milimetricamente perfeito, os melhores cheiros e com uma forma linda de ver o mundo. 

“A gente se encontrou no momento mais errado de nossas vidas. Então te adianto para poupar seu tempo, se você espera que isso aqui tenha um final de novela das nove, não vai ter, quer dizer, nem eu sei como acaba, mas, dependendo do seu ponto de vista, o fim já é bom, porque ELA conseguiu fazer o que parecia impossível: EU voltar a sentir”.

LesB Cast | Temporada 4 Episódio 03 – Nossos pitacos sobre a quarta temporada de “Hacks”

No decorrer das 75 páginas que compõem o livro, a criadora e roteirista da websérie Depois da Meia Noite”, conta a história de seu coração partido e da sua admissão ao clube “dos completamente descrentes na possibilidade de me apaixonar por qualquer mulher existente na face da terra”, uma participação limitada, pois a chegada DELA, que poderia passar horas falando mal de homens cis-héteros, que percebia o seu tom de voz ao falar sobre as coisas que lhe empolgavam e, principalmente, tinha sardas, pois “a paixão tem sardas”, logo a faz mudar de clube, dessa vez para o dos “não descrentes no amor, mas nos que não têm sorte com ele”. Daí já dá pra imaginar onde vamos parar, né? Só que não!

Em Uma Taça Para Duas”, Lela Gomes estabelece uma conexão com suas leitoras, unindo a sua escrita poética à uma conversa intimista e profunda, mas sem revelar muitos detalhes da sua história. É como se ela nos dissesse que “o essencial é invisível aos olhos”,  nesse caso, o essencial é suficiente para torcemos para que, depois da última página, ela e ELA vivam os seus felizes para sempre!

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Stupid Wife: Lembre-se de nós – da fanfic à reconstrução do amor

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Livro: Stupid Wife: Lembre-se de nós
Autora: Nathalia Sodré
Editora: Independente
Número de Páginas: 842
Ano de Lançamento: 2022


“Stupid Wife: Lembre-se de nós” se tornou uma sensação na internet após o lançamento da websérie Stupid Wife, atingindo o Top 10 de vendas. Mas conheço essa história desde que a autora lançou sua primeira versão como fanfic, e, depois do lançamento da série, me senti obrigada a ler o livro para conhecer todas as modificações feitas pela autora.

O livro conta a história de Camille, que acorda um dia sem lembrar nada dos últimos anos de sua vida. Sua última lembrança é de quando tinha 16 anos, ainda estava na escola e odiava sua atual esposa (e mãe do seu filho) Luna Jacobs. Diante dessa loucura, Camille precisa decidir se vai continuar casada com Luna e, para isso, precisa deixar de lado sua rixa adolescente e aprender a amar essa mulher pela segunda vez.

Primeiras Impressões | Stupid Wife – Primeira Temporada

Quando li “Stupid Wife” pela primeira vez, em forma de fanfic, a história me prendeu de cara, pois lembrava muito a premissa do filme “Para Sempre”. A narrativa tinha um ritmo rápido, as personagens eram interessantes e o modo como a história era contada conquistava o leitor, já que Camille ia tendo flashes de memória ao longo da trama, e, junto com ela, íamos descobrindo o que havia acontecido no seu passado.

Mas o livro “Stupid Wife: Lembre-se de nós” é bem diferente da fanfic. A dinâmica entre as personagens mudou, mas o que realmente me pegou foi a modificação da estrutura narrativa: os flashes de memória foram retirados e o passado das personagens passou a ser contado por meio da narração direta. Isso deixou a história, na minha visão, um pouco menos interessante, pois essas passagens alongam a leitura e tornam o ritmo mais lento.

A construção da reaproximação entre as protagonistas é uma fase essencial do enredo, já que a Camille que conhecemos tem apenas as lembranças e experiências de uma adolescente de 16 anos, que sentia raiva de Luna por conta das implicâncias no colégio. Por isso, era necessário que a autora tratasse esse reencontro com cuidado, para que não soasse forçado. E isso foi feito com calma, ao ponto de nos fazer detestar a Camille nos primeiros capítulos (com certa razão!).

LesB Cast | Temporada 3 Episódio 13 – a segunda temporada de “Stupid Wife”

O grande problema é que, após essa reaproximação, as cenas do casal se tornam excessivas, a ponto de não contribuírem para o crescimento das personagens, servindo apenas para alongar a história e torná-la um pouco monótona, já que não há grandes conflitos a serem enfrentados nesse trecho.

Ainda que a narrativa perca fôlego no meio do livro, conforme nos aproximamos do final, o enredo volta a envolver. O casal enfrenta novos desafios que as aproximam ainda mais e fortalecem essa relação em reconstrução e nós, leitores, também nos sentimos mais conectados a elas por conta da vulnerabilidade que nos é apresentada.

O que torna a relação das protagonistas o ponto alto da história. Sem contar que “Stupid Wife: Lembre-se de nós” nos apresenta personagens que fogem da dualidade “bom x mau”. Por mais que alguns clichês estejam presentes, é interessante acompanhar personagens que não estão preocupadas em parecer boas pessoas, mas sim em conquistar o que desejam, custe o que custar.

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Bombando