Certa vez peguei carona de Juiz de Fora para Belo Horizonte, em Minas Gerais. No carro havia eu, duas mulheres e um cara. Em determinado momento do trajeto o garoto disse que tinha namorada e as duas meninas, que também tinham namorados, começaram a falar que jamais aceitariam que o boy viajasse no carro sozinho com três mulheres.
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Oi?
Dei pane.
– Então quer dizer que o boy teria que pegar outra carona, em outro horário, talvez em outro dia ou valor porque vocês não dão conta de lidar com o fato dele passar quatro – fucking – horas no mesmo veículo com outras três mulheres que ele acabou de conhecer? – perguntei.
– É… – uma delas me respondeu.
Contei que uma vez assisti um documentário sobre a monogamia e um rapaz disse algo que anotei no bloco de notas: “É preciso entender porque você sente o ciúmes, porque não é bem um sentimento. Geralmente ele nasce de alguma outra coisa”. Antes da escrita deste texto, nunca recorri a anotação, mas a cada dia que passa faz mais sentido para mim. É daquelas frases que todo mundo que me conhece já ouviu alguma vez.
O ciúme é uma máscara.
Raiva.
Insegurança.
Medo do abandono.
Vulnerabilidade.
Desconfiança.
Ego.
Dependência.
Se a gente procurar bem, sempre acha um desses por trás do tal.
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O ciúme é uma forma de dizer que aquilo é “só meu”, enquanto na verdade só “eu sou meu” e isso já dá um baita trabalho.
O ciúme é uma expectativa infantil de que o outro se responsabilize e mude para que eu me sinta mais segura.
O ciúme é uma ferida narcísica.
O ciúme não é prova de amor.
Toda vez que eu digo que acredito que o amor é livre ou que a monogamia é tão frágil quanto a heterossexualidade a conversa acaba caindo, inevitavelmente, no clichê:
– Para mim não é possível, sou muito ciumenta.
Por isso, senhoras e senhoras, vos faço a grande revelação: eu também sou muito ciumenta.
A verdade é que todo mundo, sem exceção, vai sentir ou já sentiu ciúme pelo menos uma vez na vida. Além de ser um mecanismo de defesa, ele também tá aí o tempo todo nos motes da literatura, no cinema, na tv. O bicho é um velho conhecido nosso. Não se trata de sentir ou não ciúmes. É sobre estar aberto ao diálogo e a descoberta de formas honestas de ser, sentir e existir.
O ponto é: como lidamos com o ciúme?
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Para mim, é uma emoção em constante observação. Sempre que ele me pica, faço – ou pelo menos tento – o movimento de olhar para dentro, me acolher e me observar. Até porque, para levar algo pro outro, a gente precisa se entender primeiro.
O autoconhecimento vem de dentro.
Infelizmente ou felizmente ninguém nos dá.
A gente conquista.
Ou segue na luta.