“Felizes para Sempre” (2015) é uma minissérie de drama criada por Euclydes Marinho e dirigida por Fernando Meirelles, da Globo, com histórias que se desenrolam em dez episódios. Onde, em cada capítulo, somos levados a questionamentos em seus títulos que são respondidos até o final de cada um.
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1 – Onde colocar o desejo?
2 – Vale a pena sofrer por amor?
3 – Adianta negar?
4 – Quem precisa desse amor?
5 – Aqui se faz, aqui se paga?
6 – O passado nos condena?
7 – Filhos, melhor não tê-los?
8 – Quem ama não trai?
9 – Afinal, o crime compensa ou não?
10 – Quem ama não mata?
O que significa “Felizes para Sempre” nas histórias da vida real? A história se passa em Brasília e nos deparamos com um casal pacato, de aparências. Um casamento existente socialmente, mas que intimamente teve seu fim há anos. E conhecemos Marília Drummond (Maria Fernanda Cândido), insatisfeita sexualmente, incompreendida em uma relação fadada ao fracasso.
Quando seu filho era criança, ela foi obrigada, pelo marido, a inserir o diafragma na frente dele, pois ele não queria ter mais filhos, e somente após três anos do ocorrido voltaram a ter relações sexuais. Até que inspirada por outro casal, ela começa a relatar as suas vontades de inovar, mexer com a relação. Portanto, discute com Cláudio (Enrique Díaz), seu marido, na terapia de casal sobre essa possibilidade. E ele sempre a culpa por não conseguir satisfazê-la sexualmente, chamando ela de reprimida e muito convencional.
Tudo o que ela almeja é intimidade, experimentar e viver com o marido através de fantasias e outras possibilidades. Até que ela aceita a vontade do homem patriarcal, “de família”, que possui o fetiche de chamar uma “acompanhante noturna” para um ménage. É aí que conhecemos a “Danny Bond” (Paola Oliveira).
Logo de início o casal fica encantado com Danny que é cheia de vida, inteligente, entende de arte, música, da sua forma envolvente e de muita lábia para fazer o seu trabalho. Importante enfatizar o quanto a garota de programa está preocupada em deixar Marília confortável, a elogiando. Samantha, como se denomina Marília por medo de falar seu nome verdadeiro, sente-se frustrada e não quer dar continuidade ao ménage, cancelando a noite. Voltando a Danny, ela faz programas para pagar seus estudos e custo de vida, vive com a namorada (que não faz a mínima ideia da sua profissão e ainda acredita que quem a banca é seu pai).
A partir do terceiro episódio, “Adianta Negar?”, vemos a Denise, no princípio apresentada como Danny Bond, revelar seu nome verdadeiro e mostrar as suas verdadeiras intenções com Marília (Maria Fernanda Cândido). É incrível como são construídas as estética dos ambientes em que elas estão juntas, com muita claridade, a produção brinca com a luz, dando a sensação de tranquilidade e paz já nos primeiros segundos em que estão sozinhas.
É nítida a forma como ambos os corpos se movimentam como ímãs, mesmo antes de se tocarem. Entre conversas, músicas e sutis toques, vemos como um corpo corresponde ao outro. Como em uma cena, no ateliê de Marília (que é restauradora de quadros), a forma como Denise circula em volta de Marília (Maria Fernanda Cândido), já com intenções definidas, deixa claro que algo muito além de amizade sairá dali.
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Claudio, por sua vez, vive em um jogo de poder político. Usando a mesma como laranja em suas fraudes, Marília vive sem nem estar a par dos envolvimentos dele e como está no meio de uma sociedade podre e corrupta movida a escândalos. Já Denise, que tinha a mania de seduzir as mulheres de seus clientes, se vê em algo totalmente novo. O encantamento de Marília pela jovialidade, inteligência e conforto em compartilhar o seu passado com Denise e o encanto da mesma pela beleza, tranquilidade e segurança que encontra em Marília, faz questionar quantas mulheres existem por aí apagadas por casamentos controladores, de fachada, insatisfeitas de amor, intimidade e vida?
A forma como Marília se enche de luz, vida e liberdade, esta última de ser quem ela é e sentir o que nem sabia que era possível sentir. Confidentes, uma encontra o consolo que necessita no colo da outra. E não podemos deixar de notar como vemos, pela primeira vez em uma televisão aberta (em meados de 2015), uma cena tão íntima de duas mulheres em um ato sexual. Cenas com jogo de luzes, cores, uma mais envolvente que a outra. Temos toque, pele, olhar, sensações e entregas. Capturas de movimentos, como por exemplo: a do pula-pula ou a da Denise tirando a roupa íntima da Marília, tão simples e sutil, que bem executadas criam a esfera de uma performance delicada e real. De uma naturalidade, até estranha nessa época, em um canal que até hoje toma diversos cuidados para mostrar uma cena de selinho entre casais LGBTQIA+ em horário nobre.
Conforme os episódios vão passando, é notória a aproximação das duas, o amor, a paixão e como uma se move conforme a outra, com a intensidade de quase um primeiro amor. E como final, temos um questionamento do último capítulo: “Quem ama não mata?”
Após se deparar com uma situação de exposição e a descoberta de certas mentiras pela garota de programa, Marília toma algumas atitudes: por mágoa? Amor? Humilhação? Afinal, quem ama não mata? Quem se entrega e é levado ao desconhecido, através do corpo de outra pessoa, pode estar imune aos sentimentos demonizados em prol do amor?
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O que posso deixar claro é que é uma produção que tem relação com a nossa sociedade atual e que nos apresenta um casal sáfico questionador, libertador e que merece ser apreciado. Ficamos com um final chocante, mas de provocar o que pensar. Assistam “Felizes para Sempre” e tirem suas conclusões.
A minissérie está disponível no Globoplay.