Após quatro filmes de sucesso da franquia “Toy Story”, a Disney-Pixar decidiu expandir o universo da animação com o lançamento de “Lightyear”. Como uma forma de demonstrar que o mundo dos brinquedos não terminou com o último longa-metragem lançado em 2019, a nova produção traz um conceito especial para quem se propõe a assistir, contando a história do Buzz Lightyear (Marcos Mion), um personagem conhecido há um bom tempo pelo público que cresceu no final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
Com direção de Angus MacLAne e roteiro dele com Pete Docter, a história inicia colocando o espectador no lugar de Andy, personagem principal de “Toy Story”, e traz à tona alguns sentimentos especiais, principalmente para quem construiu uma relação afetiva com a franquia. E, apesar do “clichê Disney” sobre amizade e perdão, a narrativa consegue entreter quem assiste e seguir um roteiro bem construído trazendo claras referências, como por exemplo, a explicação da icônica frase de Buzz “ao infinito e além”.
Apesar de Buzz não ser um personagem novo, só é possível conhecê-lo melhor agora. O longa conta que Lightyear, um experiente patrulheiro espacial, comete um erro em uma de suas missões, comprometendo a segurança de toda a sua equipe e fazendo com que todos fiquem presos em um planeta hostil. Com o intuito de consertar o próprio erro, Buzz começa uma jornada de viagem espacial tentando voltar no tempo para impedir que aquilo acontecesse. Infelizmente, a cada viagem que ele faz de quatro minutos, se passam anos no planeta, e com isso as pessoas estão vivendo suas vidas e sendo felizes, enquanto ele ficou preso em um looping de culpa.
Um dos pontos altos de “Lightyear” são os debates relacionados a ciência e a ficção científica, como a exploração espacial, a viagem no tempo e o dilema “cientista bom” versus “cientista mau” muito bem retratada em uma batalha no final do longa.
Buzz é o personagem principal, mas não é o único a ter destaque no filme. Depois das polêmicas recentes em que a Disney teria cortado uma cena da personagem sáfica, a produção apresenta Alisha Hawthorne (Adriana Pissardini), melhor amiga de Buzz que trabalha junto com ele em todas as missões espaciais.
O relacionamento de Alisha com sua esposa é mostrado de forma clara durante o filme. É possível acompanhar a formação de sua família com um filho e futuramente com uma neta. Alisha é uma grande adição no que diz respeito as animações cinematográficas, mas um ponto negativo em relação a construção da personagem é a sua curta presença física no filme, apesar de ser constantemente lembrada e citada.
Ainda que seja uma grande novidade a relação e o afeto entre duas mulheres ser mostrado de forma clara em um filme da Disney no cinema, ainda é problemático que só tenha sido possível acompanhar a personagem através dos olhos de Buzz e por um curto tempo de tela.
Personagens como Izzy (Flora Paulita), neta de Alisha, chama a atenção por sua personalidade forte e grande resiliência, se tornando a melhor amiga e companheira de viagem de Buzz, assim como sua avó foi um dia. Além dela, o longa também apresenta Mo e Darby (Lúcia Helena) que são ótimos amigos e o alívio cômico da trama, algo que funcionou, afinal, a dinâmica dos dois personagens consegue arrancar boas risadas do espectador.
Um grande destaque vai para Sox (César Marchetti), o gato robô que foi dado a Buzz por Alisha. Além de ser um ótimo companheiro de apoio emocional, é um personagem divertido que rouba a cena por diversas vezes.
A ambientação do filme, na maior parte do tempo variando entre o espaço e um planeta hostil, causa a sensação de estar descobrindo um universo novo junto com os personagens. As cenas de batalha foram bem construídas, com uma animação bonita e clara, possibilitando que o público visse efeitos visuais bem construídos.
“Lightyear” é uma animação que cumpre aquilo que se propôs: transformar os telespectadores em Andy. Quem assiste consegue entender o motivo pelo qual o menino era tão fã do personagem que tinha um carinho enorme pelo boneco, além de fazer com que o público se torne tão fã do Buzz quanto o Andy. Com isso, a primeira tentativa da Disney em trazer um grande spin-off de uma franquia já consagrada foi bem-sucedida, abrindo espaço para que a fórmula seja repetida. O longa estreia dia 16 de junho nos cinemas.
Obs.: O filme possui duas cenas pós-crédito bem divertidas.
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LesB Nota
Direção
Roteiro
Personagens
5
Sinopse
Uma aventura de ficção científica, “Lightyear” acompanha o lendário patrulheiro espacial após ser abandonado no planeta hostil a 4,2 milhões de anos-luz da Terra, T’Kani Prime, ao lado de sua comandante e sua equipe. Enquanto Buzz tenta encontrar um caminho de volta para casa através do espaço e tempo, um grupo de recrutas ambiciosos e o encantador gato-robô de companhia, Sox, se juntam ao herói. Para complicar a situação, Zurg, uma presença imponente, e seu exército de robôs impiedosos chegam no planeta com um compromisso misterioso.
Monica Teixeira é pedagoga e muito apaixonada pelo universo literário. Amante de séries de médico, viciada em tudo que envolve super-heróis e não perde um episódio de Legends Of Tomorrow. Ela vive na Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro.
“Badhaai Do: Casamento por Conveniência” se passa na Índia e é dirigido e roteirizado por Harshavardhan Kulkarni. Cansados da pressão familiar para que se casem, Sumi (Bhumi Pednekar), professora de educação física e lésbica, e Shardul (Rajkummar Rao), um policial gay, decidem se casar e viver um casamento de fachada.
O longa tem duas horas e meia de duração, mas não chega a ser maçante. Com muita comédia, momentos musicais e cenas fofas (tanto de Sumi com sua namorada quanto de Shardul com seus namorados), a narrativa, mesmo tratando de um tema delicado em uma sociedade fechada para sexualidades além da heteronormatividade, ainda é leve e nos deixa com o coração quentinho.
Honestamente, amo musicais e filmes que têm trilhas sonoras que conversam com a narrativa, e “Badhaai Do: Casamento por Conveniência” entrega isso. As músicas complementam a história e trazem todo o charme dos filmes indianos, com direito a flash mobs em que os atores entregam tudo na dança, até o espectador fica com vontade de dançar junto.
Ao longo da trama, o que era apenas uma convivência forçada se torna uma amizade entre Sumi e Shardul. Eles, que não conviviam com mais pessoas da comunidade, acabam se tornando uma rede de apoio um para o outro. Gostaria de ter visto mais disso no filme, já que, de todas as relações existentes, essa é uma das mais interessantes e menos exploradas.
Sumi é uma mulher lésbica sem muita experiência em flertar com outras mulheres e sem amigas sáficas para compartilhar as dores e delícias de amar mulheres. Durante o início do filme, conseguimos acompanhar essa jornada solitária: a procura por um amor em aplicativos de relacionamento, os passeios sozinha durante a lua de mel e as decepções amorosas. É bonita a narrativa da Sumi, e é muito gostoso acompanhá-la se apaixonando.
“Badhaai Do: Casamento por Conveniência”, apesar de ser um filme de comédia, toca em pontos importantes da vivência LGBTQIA+ dentro do armário e também da vivência lésbica. É um filme em que você ri, chora, se apaixona pelos personagens e, no fim, termina de coração quentinho, querendo assistir de novo.
“Brenda Lee e o Palácio das Princesas” é um musical bibliográfico que conta a história da ativista transgênero, Brenda Lee. O filme é uma peça teatral, que foi adaptada para o audiovisual, e carrega muito das duas linguagens, mesmo com muitos diálogos a narrativa, não fica cansativo, já que intercala com músicas cantadas pelas próprias atrizes.
O longa é gravado em uma espécie de galpão, que é dividido em cenários pequenos e com poucos objetos cenográficos, brincando com a imaginação dos espectadores. O cenário onde acontecem a maioria dos momentos musicais do filme, por exemplo, é feito com uma cortina de franjas que reflete a cor das luzes que estão sendo usadas na cena e isso faz a magia dessas cenas acontecer.
Sobre a fotografia, é interessante perceber que vemos câmera fixa nos momentos de entrevista com a Brenda Lee, remetendo a linguagem documental, já em outros, temos a câmera bem solta acompanhando o andar das personagens, principalmente nas cenas musicais. As músicas de “Brenda Lee e o Palácio das Princesas” são um espetáculo à parte, sendo muito bem interpretadas pelas atrizes e com boas composições que compõem a narrativa.
O longa tem três diretores diferentes, Zé Henrique de Paula, como diretor geral da obra; Laerte Késsimos, como direção audiovisual; e Fernanda Maia, como direção musical. Possuir três diretores em uma mesma obra, mesmo que em áreas diferentes, é um grande desafio, mas os três trabalharam bem juntos e conseguiram imprimir todas as linguagens que se propuseram a usar.
Brenda Lee foi uma figura real e muito importante durante a pandemia de HIV/Aids aqui no Brasil, inaugurando o Palácio das Princesas, a primeira casa de acolhimento para pessoas soro positivo na década de 80. Esse filme é uma grande homenagem a sua história e luta.
“Morte Morte Morte” (“Bodies Bodies Bodies”) é um filme que mescla os gêneros de terror e comédia, provocando tensão nos espectadores e risadas genuínas. Após um período afastada de seus amigos, Sophie (Amandla Stenberg) decide que ir à festa que estão organizando durante um furacão é uma boa oportunidade para se reaproximar e entender como está sua relação com a própria família. Quando a noite cai e o tédio começa a aparecer, Sophie propõe que joguem um jogo chamado Bodies Bodies Bodies.
Dirigido pela cineasta holandesa Halina Reijn, também responsável por “Instinto” (2019), e produzido pela A24, conhecida por filmes como “Pearl” e “Midsommar” o filme conta com as atrizes Amandla Stenberg e Maria Bakalova, interpretando Bee, namorada de Sophie. Além disso, o comediante Pete Davison também participa, interpretando David, um dos amigos de Sophie.
O roteiro segue uma narrativa cíclica, acompanhando a dinâmica do jogo Bodies Bodies Bodies, no qual os personagens encontram um corpo, gritam e começam a discutir sobre quem é o assassino. Utilizando áudios do TikTok e algumas discussões triviais, mas que são extremamente importantes para os personagens, o roteiro satiriza a geração Z, trazendo o tom cômico do filme. É um roteiro simples, mas eficaz.
Com uma fotografia intrigante que utiliza lanternas, celulares e pulseiras neon como métodos de iluminação, o filme se torna ainda mais misterioso, deixando boa parte do que é visto na tela em completa escuridão. Para além da iluminação, uma cena que chamou bastante a atenção é aquela que ocorre dentro do carro, em que a câmera fica fixa no meio dos personagens e gira para mostrar a reação de cada um diante dos acontecimentos.
Em “Morte Morte Morte”, Sophie é lésbica. No entanto, esse não é o ponto central da personagem. Ela é lésbica, está ciente disso, tem uma namorada e se sente confortável com sua identidade. A trama de Sophie e seus problemas não têm relação direta com sua sexualidade, e é muito interessante assistir a narrativas com jovens adultas sáficas em que o foco principal da trama não seja sua autodescoberta. São narrativas que mostram que temos uma vida para além de nossa sexualidade ou identidade de gênero.
O filme está disponível na plataforma de streaming da HBO Max.