Essa história começa em 2055, quando beijei uma garota do futuro. Eu já tinha beijado outras. Garotas. Na noite anterior, várias. Inclusive ela. Mas em 2055 foi diferente. O beijo acabou, a gente se olhou e disse: nu! Rimos e nos beijamos (quase) todas as vezes que nos vimos depois disso.
Gentleman Jack – uma lésbica real, revolucionária e “trambiqueira”Gentleman Jack – uma lésbica real, revolucionária e “trambiqueira”
Eu não consigo falar de Vitória sem falar de Capitu. Às vezes, acho que sou uma chata repetitiva, mas quando olho nos olhos dela (e que saudade de olhá-los) é como se eu entendesse Machado de Assis. É como se todas aquelas palavras difíceis se materializassem na minha frente.
Por motivos de compreensão, preciso revelar que 2055 era Outubro de 2015. Festa à fantasia de um encontro de arte em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Fomos na mesma delegação sem nos conhecermos. Eu, Vitória e Thaís.
Thaís é imensidão. Paixão à flor da pele. O meu porto mais seguro. A gente se conectou de cara. Aquário é meu paraíso astral e não sei para vocês, mas para mim isso quer dizer muita coisa. Thaís é Aquário. O mar inteirinho.
Tivemos nossos encontros, desencontros, idas, vindas, choros. Velas. Jantares, encontros inesperados, encontros planejados, Bar do Cabral e muuuuito Buteco da Bio. Juninhos, Anas, Claudinhos, Carolines, Jades, Pedrinhos, Isabelas e Izabelas nos levaram até o início de Agosto de 2016.
Vitória tinha viajado (e a gente não se falava há um tempinho). O telefone tocou. Era Thaís. Faziam alguns meses que a gente compartilhava nudes e dores de cotovelo no bandejão da faculdade.
– Alô?
– Preciso de ajuda.
– O que houve?
– A Gabriela tá em BH e eu não sei lidar.
Se você chegou até aqui, preciso te contar que Vitória e Gabriela já tinham namorado. Gabriela e Thaís tinham vivido um romance. Thaís e Vitória não só eram amigas, como moravam juntas. Tá acompanhando a confusão?
Review | Genera+ion – Primeira Temporada (Parte 2)
Eis que fui conhecer a famosa Gabriela (cheia de antipatia, não nego), diretamente do Distrito Federal.
Intensa. Amante. Fugaz.
– Prazer, Gabriela.
Você já tocou um meteoro? Eu já.
A noite começou segunda e só terminou sexta. Quando a Vitória voltou de viagem, o rebuceteio estava estabelecido. Minha promessa de não beijá-la novamente durou pouco. Talvez nada.
Eu vi a mulher que eu amava beijando outra mulher que eu amava e achei a coisa mais linda do mundo. Quando você descobre que um amor pode se dividir, se multiplicar e até se transformar, você tem um tesouro.
Nas vésperas do meu aniversário de 22 anos, enchemos as malas de comida, amigos, afeto e fomos viajar. Na beira do rio surgiu a pergunta:
– O que tá rolando?
– É, a gente tá namorando.
Eu vivi um poliamor. Começou com um rebuceteio, claro. Peço licença, inclusive, para enaltecer o rebuliço das sapatão de Brasília. Em uma semana, eu terminava um rolo porque não queria namorar. Na semana seguinte, eu fazia parte de um quadrasal e desenvolvia técnicas avançadas de beijo quádruplo.
Foi difícil, e talvez ainda seja, explicar um monte de coisa. Aí a gente preferiu só sentir e se (re)descobrir. Acho que isso é uma das coisas mais bonitas que o outro pode nos proporcionar… reaver pedaços de nós ofuscados pelo que esperam da gente… e apenas ser.
Quando acabou, nos 731 km que separam Brasília de Belo Horizonte, eu tinha certeza que ia morrer. O fim deixou um buraco imenso e com o tempo, dono de tudo, a maior transformação da minha vida.
Review | Eu Nunca… – Segunda Temporada
No Mês da Visibilidade Lésbica, mês de Vitória e Gabriela, eu brindo essas três mulheres que me ensinaram e seguem me ensinando as coisas mais lindas sobre o amor e sobre amar.