“Rara”, ou “Estranha”, em português, é um filme chileno de 2016 dirigido por Pepa San Martín. O longa é reconhecido internacionalmente, contando com o prêmio de Melhor Filme pelo Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer. Apesar disso e mesmo com a grandiosidade de seu tema e de suas atuações, “Rara” ainda está longe de obter o reconhecimento que realmente merece, considerando que este geralmente é retido na bolha das grandes produtoras do cinema mundial.
O longa-metragem é baseado em uma história real contada sob o olhar de Sara (Julia Lübbert), uma pré-adolescente que encara situações corriqueiras da juventude: o primeiro interesse amoroso, alguns problemas no colégio, discussões bobas com a irmã mais nova e pequenas rebeldias. Nenhuma de suas complicações tem relação com o fato de sua mãe ser divorciada e morar com a namorada, porém não é algo com que todos concordam.
Logo no início, “Rara” aborda questões pertinentes, mostrando a cena de um desenho feito por Cata (Emilia Ossandon), irmã de Sara (Julia Lübbert). Este era uma representação de sua família: as duas mães e as duas filhas, juntas de um gatinho que havia sido encontrado há pouco tempo. Por conta disso, Paula (Mariana Loyola), a mãe das garotas, recebe um telefonema polêmico da escola de Cata, problematizando a “anormalidade” daquele desenho e sobre como ele teve repercussões negativas no colégio.
Em aspectos cinematográficos, “Rara” pode ser considerado um longa simples. Há poucas trocas de câmeras e a produção não é nada mirabolante. Mas nada disso diminui a qualidade em nenhuma forma e ainda considero que tem o efeito reverso: a simplicidade nos torna mais próximas da história e das personagens, que conseguem nos cativar com pouco. Já em questão de representatividade, “Rara” humilha qualquer romance mais conhecido pelo público, tendo as sutilezas e a naturalidade como pontos fortíssimos. Além de, é claro, abordar alguns assuntos muito importantes para a comunidade feminina LGBTQIA+, em especial no quesito familiar.
E para ficar melhor ainda, há também a representatividade por trás das câmeras. Pepa San Matín, diretora do filme, é assumidamente lésbica. Então, nada melhor do que nos dar mais visibilidade dentro do mundo cinematográfico do que assistindo uma produção com temática LGBTQIA+ dirigido por uma lésbica, não é?