De 1996 e dirigido pelas irmãs Lilly e LanaWachowski, que três anos mais tarde se tornaram famosas e consagradas com “Matrix”, “Ligadas pelo Desejo” nos conta a história de Corky (Gina Gershon), que é uma ex-presidiária lésbica que arranja um emprego como encanadora em um prédio. Lá ela conhece Caesar (Joe Pantoliano), que trabalha fazendo lavagem de dinheiro para a máfia, e sua namorada Violet (Jennifer Tilly). As duas mulheres começam, então, um romance, e planejam roubar dois milhões de dólares que estão sob os cuidados de Caesar, antes que ele os devolva para seu chefe.
Para quem acha que não existe uma versão sáfica de “Sr. & Sra. Smith” ou que “D.E.B.S“ é um dos únicos filmes que mostram mulheres LGBTQIA+ sendo criminosas, o primeiro ato de “Ligadas pelo Desejo” é todo direcionado à sedução e ao mundo do crime. A atração que Corky e Violet sentem uma pela outra contagia as imagens criadas pelas diretoras e roteiristas Lana e Lily Wachowski, e qualquer resquício de trama, inclusive daquela relativa ao universo criminoso que circunda as protagonistas, é tratado como secundário.
E por mais que ambas as personagens sejam construídas em diálogo com códigos do noir – elas são femmes fatales, ainda que Corky também encarne a figura do típico protagonista do gênero, o sujeito ferrado na vida e adepto de certa amoralidade –, “Ligadas pelo Desejo” jamais deixa de positivá-las diante de um mundo masculino destrutivo e patético. Não há qualquer brecha para atribuição de vilania às personagens, algo que costuma emergir com mais facilidade no cinema tradicional, mesmo com toda a ambiguidade que o caracteriza.
“Ligadas pelo Desejo” é um filme que, apesar de antigo, nos mostra que sua concepção é extremamente prazerosa, que emerge de um tratamento visual estilizado e icônico, o famoso “be gay, do crimes!”