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Gentleman Jack – uma lésbica real, revolucionária e “trambiqueira”

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“Gentleman Jack” veio para iniciar uma nova e necessária era no gênero “série de época” com a história real de uma proprietária de terras, empresária e viajante lésbica. O sucesso da produção da HBO é prova viva de que narrativas protagonizadas por personagens LGBTQIA+ podem agradar uma gama diversa de públicos e que a questão da representatividade é mais do que uma “modinha”.

Mas, afinal, quem foi Gentleman Jack?

Gentleman Jack era um dos apelidos, pejorativos, que os moradores de Halifax, na Inglaterra, deram a Anne Lister (1791-1840), proprietária de terras local conhecida por seu comportamento fora da curva. Anne usava sempre preto, estudou anatomia, administrava a propriedade e herança da família, viajava sem a companhia de um homem e, o mais escandaloso para a época, não escondia sua sexualidade.

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E aqui chama a atenção o fato de que Anne era uma sedutora, ela deixou registrado seus esforços, muitas vezes bem calculados, para se envolver com suas paixões, em grande parte mulheres jovens e ricas.  Os diários de Anne Lister ficaram escondidos após sua morte na propriedade da família e só décadas depois, por volta de 1840, seu código começou a ser decifrado. E foi somente em 1982 que uma professora de História reencontrou os diários e trabalhosamente terminou a tradução do código, e revelou a vida de Anne Lister para o mundo. Imprescindível dizer que os documentos são de uma riqueza histórica incalculável. Além de narrar detalhadamente o modo de vida e cultura da época, é especialmente um registro da vida lésbica e do desejo feminino no século 19, que muita gente acreditava não ter existido.

A série

A série da HBO, “Gentleman Jack”, conta a história de Anne Lister (Suranne Jones), já uma mulher madura e segura da sua sexualidade através de seu romance com Ann Walker (Sophie Rundle), com quem viveu até o fim da vida. A primeira temporada começa com Anne voltando para sua casa em Halifax, a qual dividia com o pai e a tia idosos, e a irmã ranzinza. Amada por alguns, era vista com desconfiança por outros, mas de forma geral respeitada por tratar as pessoas de forma justa.

E como Anne Lister não vivia uma aventura só por vez, enquanto coloca seu plano de sedução em prática, ela planeja também expandir os negócios da família. Contudo, ninguém parece disposto a fazer negócios com uma mulher, especialmente uma tão ousada quanto Lister, que não pensa duas vezes antes de bater de frente com os homens que se colocam em seu caminho.

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Vale a pena assistir a série?

Se você gosta de ver uns belos vestidos de época, chás elegantes e propriedades luxuosas, precisa correr para assistir “Gentleman Jack”. A personagem quebra a quarta parede o tempo todo e compartilha com o espectador seus modos divertido, cínico e calculista de ver a vida. Com muitos encontros e desencontros amorosos, viagens de carruagem e pela Europa, fofocas entre empregados, disputas por terra e mais, a trama se torna rica e cativante demais para desligar a TV antes do último episódio da temporada acabar.

A produção mostra com sensibilidade a vida de uma mulher lésbica e revolucionária do século 19, nos divertindo com os romances de Lister, mas também nos tocando com todas as dificuldades que ela enfrentava.

Na verdade, “Gentleman Jack” mostra bem que, com todas as pressões sociais da época, era difícil uma mulher que fugia dos padrões se manter mentalmente estável, como no caso de Ann. Contudo, é lindo ver a personagem ganhando força ao longo da trama e passar a cada vez mais lutar para que sua voz fosse ouvida.

Em resumo, a série é uma história de amor, que se torna ainda mais poderosa por conta de sua representatividade lésbica baseada em fatos reais.

A segunda temporada vai ser tão boa quanto a primeira?

Sem dar spoilers, claro, mas a primeira temporada de “Gentleman Jack” teve um encerramento perfeito. Contudo, sendo fiel a vida real de Anne Lister, a continuação deve mostrar mais do relacionamento da protagonista com Ann Walker que, sabemos pelos diários de Lister, viveram juntas até a morte da primeira.

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O relacionamento do casal caminha para uma nova fase e demandará muita adaptação das duas, além de, provavelmente, resistência da família de Ann, de outras amantes de Lister e da comunidade local. Também estou ansiosa para ver mais da confiança de Ann e como ela conseguirá encontrar sua própria identidade estando ao lado de Anne, cuja personalidade é brilhante, mas em alguns momentos sufocante para a tímida Ann. Agora é aguardar pelos próximos capítulos dessa impressionante e apaixonante história.

Bombando

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