No segundo dia (10) da FLIPOP – Festival de Literatura POP, que aconteceu online no canal da editora Seguinte no YouTube, ocorreram quatro mesas que debateram questões de representatividade negra, diferentes etnias e suas (in)visibilidades na sociedade brasileira, como também realidades distópicas e a democratização do conhecimento.
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A primeira mesa, intitulada “(In)Visibilidade Brasileira”, teve como participante Julie Dorrico, pesquisadora da literatura indígena e autora de “Eu sou macuxi e outras histórias”; Leo Hwan, cineasta e criador de conteúdo no canal do YouTube “Yo Ban Boo”; Sérgio Motta, escritor no site Resistência Afroliterária e autor de “Spider” e mediação de Mayra Sigwalt, produtora de conteúdo e curadora do Turista Literário. A conversa girou ao redor das vivências de cada um e como foi o processo de identidade indígena, amarela e negra.
Durante o bate-papo, os participantes falaram sobre a falta de representatividade dessas etnias em produções audiovisuais (no caso do Brasil, as novelas) e na literatura, e como este imaginário está coberto de estereótipos e distante da realidade desses povos. Julie Dorrico, inclusive, criticou a universalização das categorias de raça, de sujeito e sexualidade, e ainda a perversidade de algumas obras literárias nacionais ao tratarem deste assunto.
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A segunda mesa, chamada “Saberes e resistências compartilhados”, teve a participação de Elizandra Souza, poeta, jornalista e fundadora do coletivo mjiba; Mateus Santana, comunicador e idealizador da Bienal da Quebrada; Winnie Bueno, ativista do movimento negro e criadora do projeto winnieteca e a mediação de Andreza Delgado, uma das criadoras da Perifacon. O objetivo da conversa foi falar das desigualdades do país e principalmente, a dificuldade das pessoas negras acessarem a literatura.
Para iniciar o assunto, a mediadora fez a provocação: “O que é saber?”. Os palestrantes discursaram sobre o conhecimento ser circular (do mais velho e do mais novo– e vice versa) e o quanto existe uma multiplicidade de saberes ao redor do mundo. Além disso, falaram da invisibilidade do povo negro na literatura e que muitas vezes, o caminho é publicação independente. Eles ainda disseram que é necessário o protagonismo negro nos diferentes espaços sociais (fora de assuntos como resistência e dificuldades) e o como lutam pela democratização da literatura.
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Na terceira mesa, intitulada “Terrores e Distopias”, teve os seguintes participantes: Natalia Borges Polesso, autora de “Controle” e “Amora”; Raphael Montes, autor de “Dias Perfeitos” e “Suicidas” e mediação de Beatriz D’Oliveira, editora do Grupo Companhia das Letras. Infelizmente, Alec Silva, escritor e editor baiano, um dos criadores do movimento sertãopunk teve problemas na conexão e não conseguiu participar.
Enquanto acontecia a conversa sobre livros de terror no Brasil, as conexões muitas vezes caíam (a única vencedora foi Natalia Borges que permaneceu do início ao fim), transformando a live em divertida e considerada amaldiçoada (risos). Os autores trataram sobre a relação entre ficção e realidade, e como é trazer histórias de terror para a vivência brasileira quando a maioria das referências que existem são estrangeiras.
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Além disso, debateram a importância da representatividade LGBTQIA+ em histórias de ficção, e como mesmo que os livros abordem imaginários que fogem do habitual, existe a possibilidade do erro, pois estão falando de dramas humanos e as pessoas ainda não estão preparados para os colapsos que podem nos alcançar (ninguém esperava uma pandemia em pleno século 21). Natalia e Raphael ainda demonstraram alto conhecimento político e fizeram diversas críticas ao governo atual.
Por último, a quarta mesa, teve uma entrevista com a autora Ibi Zoboi para falar de sua última obra “Orgulho”, uma adaptação contemporânea do clássico “Orgulho e Preconceito”. A conversa foi mediada por Isa Souza (“Vozes Negras”), estudante de ciências sociais e co-criadora do Instagram literário @blogparenteses. Em sua releitura, Zoboi escreve uma história com protagonismo negro e “equilibra identidade cultural, classe e gentrificação com a mágica do primeiro amor”.
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Durante o bate-papo, a autora destacou as diferenças entre seu livro e a obra de Jane Austen, e ainda disse que o seu principal objetivo na narrativa era mostrar o Brooklyn como realmente é, mais do que se passa na mídia. Ainda diz a importância da literatura negra e como espera que sua escrita sirva de inspiração para jovens negras.
Assim, o segundo dia da FLIPOP chegou ao fim, com debates referentes a diversidade cultural, representatividade e vivências na atualidade.