Ficha Técnica Livro: Flores raras e banalíssimas Autora: Carmen L. Oliveira Editora: Rocco Número de páginas: 248 Ano de Lançamento: 1995
Em 1973, Carlos Drummond de Andrade versou que o “Amor é privilégio dos maduros”. Cinco anos depois, “uma senhora de cabelos brancos e olhos tristonhos”, grande admiradora do poeta mineiro, relembra com ternura o amor vivido intensamente na “curva perigosa” dos quarenta anos. Em “Flores raras e banalíssimas”, Carmen L. Oliveira se apropria da licença poética (privilégio dos românticos) e romanceia a relação de amor entre a poeta norte-americana Elizabeth Bishop e da arquiteta autodidata Maria Carlota Costallat de Macedo Soares (Lota), “uma brasileira de muitos nomes e sobrenomes”.
Antes de chegar ao Brasil, em 1951, Elizabeth Bishop já havia sofrido várias perdas em sua vida — aos oito meses perdeu o pai, aos cinco anos perdeu a mãe para a depressão, perdeu a família materna, seu lar e, por um breve momento, perdeu a vontade de estar viva. Foi nesse contexto que decidiu tomar um navio, e viajar mundo afora, sozinha e sem roteiro a ser seguido. Aos quarenta anos, “queria escrever. Queria ganhar dinheiro. Queria ter amigos. Queria acreditar que de repente o amor pudesse voltar a acontecer em sua vida”. Assim, trazida pelas águas do oceano, Bishop chega em terras brasileiras, para visitar a uma velha amiga, Mary Morse, que vivia na companhia de uma aristocrata carioca.
Dona Lota era uma mulher determinada, “terrível e maravilhosa de se ver”, encantava pela sua altivez e inteligência, sabia tudo sobre arquitetura e era responsável pela construção da própria casa, no sítio Samambaia, em Petrópolis, uma localidade que não tinha sequer energia elétrica, mas que, nos planos de Lota, resolvia os conflitos entre civilizado e primitivo, levando para o meio do mato, o ultramoderno, “um ambiente ao seu feitio”.
A paixão das duas mulheres em“Flores raras e banalíssimas” é narrada de forma gradual, os toques gentis de Lota sinalizando o caminho a ser seguido, a mão da brasileira estendida para ajudar a poeta a contornar uma pedra ou outra, a satisfação da americana em simplesmente ouvir a voz da arquiteta, seus esforços para satisfazer os gostos culinários da outra, “os olhos se roçavam, as mãos buscavam pretextos para se tocarem”. Quem, junto ao leitor, também percebe o nascimento do amor entre Elizabeth e Lota é Mary Morse, que, com desagrado, começa a estranhar o longo período de estadia da amiga.
Mas o destino estava a favor das amantes. Em Elizabeth crescia o desejo de ficar, mas os sentimentos de ambas, ainda não externados e guardados em silêncio, eram estopim para um medo insistente e uma dúvida profunda à sua alma melancólica e solitária demais. Foi graças a uma grave alergia ao comer um caju, que Lota e Elizabeth puderam amadurecer o amor que sentiam. Acostumada a estar sempre sozinha, Bishop ficou ainda mais encantada com os cuidados com que a brasileira lhe dedicava. “Tudo em Lota a confortava”. Assim, quando a amada a convidou para ficar em Samambaia, não foi difícil decidir-se, “ia ficar, sim. Queria ficar. No Brasil, com Lota”.
Em “Flores raras e banalíssimas”, Carmen L. Oliveira homenageia essas duas personalidades importantes do século XX. Elizabeth Bishop, um dos maiores nomes da poesia norte-americana. Lota de Macedo Soares, idealizadora e principal responsável pela construção do Aterro do Flamengo, “um verdadeiro poema urbano”. O romance é o centro da obra, mas a narrativa nos introduz ao contexto político-social do Brasil nos anos 50 e 60, as tensões políticas pré-ditatoriais e acontecimentos pós-golpe militar. Uma obra documental e ficcional, que conta com a presença de Rachel de Queiroz, Burle Marx, Manuel Bandeira, Camilo Castelo Branco, Carlos Lacerda e várias personalidades importantes na trajetória de Bishop e Lota. A obra conta ainda com um vasto acervo fotográfico e poético, que contribuem para a construção histórica que permeia esse romance biográfico.
“Flores raras e banalíssimas”foi adaptado para os cinemas em 2013, com o título “Flores Raras“, dirigido por Bruno Barreto e protagonizado por Miranda Otto, no papel de Elizabeth Bishop, e Glória Pires, interpretando Lota de Macedo Soares.
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