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Crítica | Os Primeiros Soldados – filme retrata a epidemia do HIV no Brasil

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Depois de passar por diversos festivais pelo mundo, “Os Primeiros Soldados” chega na próxima quinta-feira (07) aos cinemas nacionais. Com direção e roteiro assinados por Rodrigo de Oliveira, o longa traz um olhar diferente para a história do estouro da epidemia do HIV no Brasil.

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Ambientado no começo dos anos 1980 em Vitória, no Espírito Santo, a produção acompanha Suzano (Johnny Massaro), um jovem biólogo que volta do exterior para a sua terra natal, e enquanto tenta se reencontrar naquele local e com a sua irmã e sobrinho, ele precisa lidar também com as mudanças no corpo causadas por uma doença (até então) desconhecida.

“Os Primeiros Soldados” mostra um recorte da realidade do início da epidemia do HIV no Brasil com uma abordagem peculiar. Com uma estrutura narrativa que quebra a linha cronológica dos acontecimentos, o longa cria uma atmosfera envolvente, trazendo a carga dramática desse período, entretanto, não de forma direta, mas sim quase poética, delicada, com o foco nas pessoas e nos detalhes.

Johnny Massaro como Suzano

Esse olhar sensível tem muito mérito da direção de Rodrigo de Oliveira, o sentimento que ele quer transmitir pela lente da câmera transborda nas cenas, enfatizado com a maestria das atuações. É necessário destacar o elenco do filme, que carrega momentos densos e sutis com toda a intensidade necessária. Johnny Massaro, que é o fio condutor da história, e Renata Carvalho, que interpreta uma performer transgênero, se sobressaem sempre que estão em tela. Os personagens com energias completamente diferentes, mas que se completam.

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Retratando um momento em que a doença ainda era desconhecida, a narrativa por muito tempo escolhe não abordar o tema de forma direta, e assim como os personagens, vamos caminhando cegas nessa descoberta, acompanhando as mudanças corporais, as exaltações e o desespero. A atmosfera criada, usando a analogia dos soldados de guerra com as pessoas batalhando contra a doença, mexe com o telespectador, trazendo uma inquietude a todo mundo, esperando pelo momento em que tudo vai desmoronar.

E quando a ruptura chega, nos guiando para o ato final de “Os Primeiros Soldados”, vem com ela uma sensação de estranheza, mas que facilmente é desfeita a partir do momento em que o trio principal ganha o centro da cena e traz alguns dos momentos mais conturbados do filme. A virada traz uma mudança não apenas no tom do longa, mas também na estética, acertando mais uma vez na forma de abordar esse recorte da vida dos personagens.

Renata Carvalho no papel de Rose

Principalmente pelo acerto no tom dos atores e da direção, a história deveria se aproveitar mais desses personagens criados e explorar mais cada um deles. Existe uma força muito grande no trio formato por Suzano, Humberto (Vitor Camilo) e Rose (Carvalho), mas o destaque fica mesmo para Suzano, enquanto os outros permanecem em segundo plano. Apesar disso, todos os momentos em que Renata Carvalho está em cena, ela cresce de forma que toma o filme para si. E exatamente por isso deixa a sensação de que gostaríamos de ver ainda mais de sua personagem. Com o final do filme, o sentimento é de que Rose ainda tinha muito mais para entregar.

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Outro personagem que tem certo destaque é Muriel (Alex Bonini), sobrinho de Suzano. E, por muitas vezes, esse destaque soa estranho, deslocado do resto da narrativa, mas, ao mesmo tempo, a sua presença traz um sentimento de esperança, de que é possível envelhecer e sonhar com um futuro. Apesar do tema denso e melancólico, sua presença é uma pequena luz no fim do túnel, uma luz necessária para que possamos seguir em frente.

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