Com lançamentos de artistas que estouraram todos os charts cantando sobre relações entre mulheres – Hayley Kyioko e seu disco “Expectations”, King Princess e o EP “Make My Bed” como exemplos -, 2018 se transformou com fervor num levante de representatividade principalmente musical para mulheres LGBTQIA+ que sempre careceram de canções e figuras musicais que cantassem sobre suas vivências e existências.
Mas antes da primavera sáfica que o ano nos proporcionou, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, outras artistas mulheres cantaram sobre a sua vivência de amar outras mulheres e defenderam nossa existência nos palcos e nas ruas. Elas levantaram suas vozes, de alguma maneira, pela necessidade de enxergar nossas identidades em todos os espaços. Na lista abaixo, você confere cinco mulheres que defenderam identidades LGBTQIA+ na música nas décadas passadas.
Joan Jett
Parece óbvio falar de Joan Jett ao se falar de representatividade lésbica na música – as novas artistas que tem feito música de mulheres para mulheres tem muitas vezes sido chamadas de “herdeiras de Joan” – mas a artista é figura importante ao se pontuar a presença de mulheres sáficas na indústria musical. A frente da banda The Runaways (cuja história foi transformada em filme em 2010), a cantora, compositora e instrumentista estourou ainda na década de 1970. Na época, tanto com a banda como com sua carreira solo a partir dos anos 1980, Joan enfrentava preconceito massivo por ser mulher no mundo do rock ‘n roll, que até hoje se mantém ultramasculino. Muito embora a artista nunca tenha se declarado publicamente sob o rótulo de lésbica ou bissexual, Joan tem reivindicado uma identidade não-hétero em sua carreira e composições desde o primeiro momento.
No Brasil, uma das figuras de maior importância para a luta por representatividade e em defesa da identidade LGBTQIA+ é Cássia Eller – também considera uma das musas do rock nacional. Cássia estreou em 1981, mas o sucesso e reconhecimento chegaram somente em 1989. Com carreira relativamente curta para o sucesso e legado estrondoso que deixou, Cássia Eller era assumidamente lésbica desde muito cedo na adolescência, sendo ativista dos direitos das mulheres e dos direitos LGBTQIA+ em plena ditadura militar. Apesar de intérprete mais do que compositora, a postura de sempre dedicar as músicas cantadas a outras mulheres, suas declarações em defesa da própria identidade e em defesa dos direitos das mulheres LGBTQIA+, ela se tornou um ícone não apenas da música, mas de vivência para muitas outras.
Melissa Etheridge
Outra rockeira que despontou nas décadas de 1980 e 1990, Melissa Etheridge se assumiu lésbica publicamente em 1993, durante celebração LGBTQIA+ pelo primeiro mandato do presidente Bill Clinton. Seu relacionamento de dez anos com a diretora de cinema Julie Cypher, inclusive, foi centro de matéria da revista The Advocate. Em suas músicas, a cantora sempre reforça o lirismo do amor entre mulheres e a figura de mulheres sáficas ao endereçar suas composições. Ainda hoje considerada grande figura pelos direitos de igualdade e representatividade, Melissa participa de diversos fundos, eventos e marchas em defesa da identidade de mulheres LGBTQIA+ – em 2008, ela ganhou notoriedade ao anunciar o não-pagamento de seus impostos no estado da Califórnia, após aprovação de lei que bania o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Angela RoRo é considerada a primeira artista brasileira a se assumir publicamente lésbica – e, ainda assim, a ganhar as rádios brasileiras na década de 1970. A compositora de grandes clássicos da música nacional, entre eles “Amor Meu Grande Amor”, imortalizada na voz de Cazuza, diz atualmente que está na categoria “lésbica diamante” por ter aberto a boca e se assumido em uma sociedade violenta, e ainda engatinhando na luta por direitos. Sua voz grave e marcante está presente no imaginário da canção popular brasileira para além de sua identidade, mas a cantora pontua a necessidade de luta e de dedicar suas composições e interpretação a outras mulheres, em defesa da celebração do amor sáfico.
Ani DiFranco
Em atividade na música folk e folk-rock desde 1989, a cantora Ani DiFranco veio a público se assumir bissexual no início da década de 1990 – e desde então tem sido um ativista pela visibilidade e respeito à identidade de pessoas bissexuais. Sua canção “In or Out”, do álbum “Imperfectly” (1992), foi lançada justamente como uma resposta aos questionamentos sobre sua sexualidade, que na época era considerada uma controvérsia. Hoje é vista como um ícone bissexual através das décadas, Ani DiFranco permanece no posto de grande ativista por mudanças sociais e em defesa da identidade bissexual por respeito e visibilidade.