A jornada de autodescoberta nunca é simples. Estamos sempre repletos de imposições de padrões irreais que a busca pelo autoconhecimento se torna cheia de obstáculos que muitas vezes nos fazem parar no meio do caminho pelo cansaço. Digo isso porque foi mais ou menos assim que aconteceu comigo. Quando descobri a série “Faking It” em 2014, entre os 17 e 18 anos, pude perceber o que estava acontecendo no meu interior. Identifiquei-me de cara com todos os questionamentos de Amy Raudenfeld (Rita Volk). Era uma personagem, claro, mas, naquele momento da minha vida, falava por mim e comigo através da narrativa.
Especial Aniversário | Prazer, sou bissexual!
Todas as inquietudes de descobrir a própria sexualidade foram retratadas com Amy e foram reconhecidas por mim. Último ano do ensino médio, tanta coisa acontecendo, mas naquele momento a minha cabeça girava em torno de quem eu era, da razão de sentir coisas de formas tão únicas. Com Amy comecei a compreender coisas sobre mim. Por causa dela passei a pesquisar e consegui entender que aquilo não era uma exclusividade minha. As dúvidas e a negação rondavam a cabeça da maioria dos LGBTQIA+. Naquele momento, para mim, era mais importante entender junto a personagem que o que eu sentia não era errado, não era proibido que não deveria se manter escondido.
Mais tarde veio Zoe Rivas (Ana Golja) em “Degrassi: Next Class“. Como a personagem, eu sabia muito bem o que estava sentindo, sabia também que não estava sozinha (ao menos não mais), mas, ao mesmo tempo, o pavor de me mostrar para o mundo era gigante e me machucava de formas absurdas. O episódio em que ela se assume para a escola foi o que mais inspirou a me assumir, definitivamente, como uma mulher lésbica. Naquele momento vi que me importava em ter um rótulo, por mais que antes parecesse que não. A inspiração de me ver, assumir e reafirmar como mulher lésbica partiu, sem dúvidas, daquele episódio de vinte minutos e muita (auto) conversa.
Resumão | The 100 – We are back bitches!
Claro que não foi tão simples. Lutar contra os “você nem parece” e toda a falta de conhecimento de pessoas próximas sobre o que era a minha sexualidade era difícil, cansativo e chato. Às vezes parecia que as pessoas não queriam escutar, só destilar achismos e preconceitos. Por isso passei a buscar mais gente com quem pudesse me identificar e me sentir acolhida. Era um momento que eu precisava sair do limbo dos preconceitos destilados a mim e ver coisas boas sobre a comunidade LGBTQIA+. Foi quando apareceu “Esconderijo“ de Gabi Dimello na minha vida.
Esta websérie me trouxe luz. Conheci personagens lindas, de tamanha complexidade que a sexualidade ali era só um ponto. Era a representatividade que eu necessitava e acredito que muitas de nós também. Gabi Dimello trouxe, para mim, principalmente, Nara, interpretada pela Amanda Döring. Ela tem sua complexidade, uma mulher completa, determinada, mas que também tem seus questionamentos sobre a vida. E para muito além da tela, decidi que traria a Amanda para minha vida. Ela me inspira com toda a sua luta pela comunidade, principalmente pela pauta lésbica. Ela levantar a voz por todas nós é fundamental, principalmente, no momento em que vivemos. Através da arte, da leveza e da força, a atriz se tornou um espelho e um porto seguro, alguém que me mostrou de uma vez por todas que não tinha nada de errado em ser quem eu sou e de querer de fato me assumir.
Review | Feel Good – uma dramédia nada divertida
Ela me mostra o outro lado. Tirou-me de vez do limbo do preconceito e me mostra todos os lados bons e a leveza que temos que levar a nossa vida sem nunca esquecer de lutar pelo nosso espaço e sermos fortes. Hoje ela me acompanha e eu a acompanho. A música dela é a voz mais forte que soa na minha cabeça toda vez que por algum motivo algum julgamento surge. E é desta forma, com a voz, com a música que Amanda se tornou extremamente importante na minha trajetória de autodescoberta e aceitação. É sempre bom ver e ouvir de pessoas reais que não estamos sozinhas.