Literatura

Resenha | O legado de Chandler – um livro brutal e sensível

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Ficha Técnica
Livro: O legado de Chandler
Autora: Abdi Nazemian
Editora: Harper Collins
Número de Páginas: 288
Ano de Lançamento: 2022


“Se precisasse escolher entre dizer a verdade e magoar alguém que você ama ou manter um segredo que te consome, o que escolheria? Acho que a maioria das pessoas escolheria manter segredo. Nós não somos como a maioria”.

É com essa indagação que começa “O legado de Chandler”, o segundo livro do escritor iraniano Abid Nazemian publicado no Brasil, uma questão pertinente, que se torna objeto de reflexão a partir dos acontecimentos da trama.

Ambientado em 1999, num internato para estudantes de famílias abastadas, “O legado de Chandler” conta a história de cinco adolescentes de diferentes contextos sociais — classes, etnias e sexualidades — que se conectam através da “melhor maneira de explorar quem nós somos”, a escrita.

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O Círculo, como é chamado o grupo de escrita liderado pela professora Hattie Douglas, é o espaço seguro que Beth Kramer, Sarah Brunson, Amanda Spencer (Spence), Ramin Golafshar e Freddy Bello encontram na Academia Chandler. Do ponto de vista de cada um, vemos as relações de confiança e companheirismo se consolidando e os membros do Círculo se tornando uma família.

Com uma narrativa rápida, dividida pelas visões dos protagonistas, “O legado de Chandler” entrega exatamente o que promete. Não existem mistérios a serem resolvidos, nem aventuras fantásticas, são apenas cinco estudantes sobrevivendo ao ensino médio em um internato. Mas isso não é indicativo de uma história simples, longe disso. Cada personagem enfrenta os pesares da vida a partir de seu contexto social.

Spence é filha de uma modelo indiana super famosa e um antigo estudante de Chandler. Sua paixão é o teatro, mas é boa em tudo que se propõe a fazer. Vista de longe, ela tem a vida que todos querem, mas a garota vive atormentada pela tentativa de ser perfeita.

Beth Kramer é bolsista em Chandler, seus pais, assim como os moradores locais, detestam a academia e tudo que ela representa, mas isso não foi motivo para atrapalhar sua ida ao internato. Uma pena que sua existência seja invisível para todos, principalmente para Brunson, sua antiga colega de quarto, que fez da sua vida, no ano anterior, um inferno e é aí que ela precisa lidar com o perdão.

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Isso porque Brunson também faz parte do Círculo. Sua intenção é conseguir o máximo de créditos possíveis para conseguir entrar em uma universidade renomada. Seu desafio é sobreviver, carregando consigo a bagagem do seu passado e os acontecimentos antes e depois de entrar em Chandler.

Já Freddy é atleta, se dá bem com os esportistas da academia, mas sua modalidade é solitária. O salto com vara foi sua paixão por muito tempo, no entanto a pressão e o sentimento de não pertencer a nenhum lugar o fazem questionar se aquele é realmente o seu lugar.

Ramin, por sua vez, é fascinante. O garoto iraniano que fugiu do seu país simplesmente por ser gay, agora tem que aprender a lidar com os medos que a vida no internato lhe proporciona.

“Eu venho de um país onde a sentença por ser quem eu sou é a morte. Pode ficar com seus discursos idealistas sobre como a verdade liberta, mas quando a verdade te mata, é mais seguro guardar segredo”.

Todos os dramas e dilemas vividos pelos adolescentes são permeados pelo poder da escrita. As reflexões e atividades propostas por Douglas revelam a complexidade de cada personagem, as questões que os atormentam e a solução: escrever. A professora, que é referência para todos ali, se torna confidente e testemunha dos abusos sofridos pelos estudantes. Douglas é a única professora abertamente gay no campus, e é ela a primeira adulta para quem Beth confia seu segredo: ela também gosta de garotas.

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Ao final retornamos à pergunta inicial, dizer a verdade e magoar alguém, ou ser consumido por um segredo. Um dilema doído, principalmente sob o contexto da história. A obra de Abdi Nazemian é fascinante. É com muita sensibilidade que o autor trata de temas como bullying, homofobia e abuso sexual, mas se faz necessário deixar explícito aqui, que as cenas com descrições de violência podem gerar gatilhos.

“O legado de Chandler” é um reflexo das experiências do próprio autor como aluno de um internato nos EUA nos anos 1990, seu jeito de “confrontar todas as emoções complicadas” da época. Um livro brutal e sensível.


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LesB Nota
  • História
  • Personagens
5

Sinopse

Na Academia Chandler, cinco adolescentes são selecionados para fazer parte do Círculo, um grupo de escrita seleto e exclusivo: Beth, uma local que não consegue se enturmar; Sarah, que só quer esquecer traumas do passado; Amanda, filha da Elite de Nova York; Ramin, um garoto que fugiu da homofobia no Irã apenas para sofrer com bullying e trotes violentos da escola; E Freddy, um atleta de destaque que já não sabe o que quer fazer da vida. Nesse grupo, eles vão criar amizades improváveis e aprender a escrever suas verdades para denunciar as violências que acontecem na instituição. Mas será que a verdade e o suficiente para mudar a longa cultura de abuso da Academia? E será que a amizade deles poderá sobreviver as consequências?

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