Ficha técnica:
Livro: A via crucis do corpo
Autora: Clarice Lispector
Editora: Artenova
Número de Páginas: 69
Ano de Lançamento: 1974
Um dos livros de contos mais peculiares de Clarice Lispector, “A via crucis do corpo” (1974), apresenta o conto “O corpo”; ambos os nomes dizem sobre o que perpassa toda a obra da autora: questões referentes à subjetividade, a humanidade crua. Através das palavras, neste livro, Lispector traduz o que há muito é pauta do ser humano, a inquietação quanto a sexualidade.
As personagens Carmen e Beatriz, que vivem com o polígamo Xavier, descobrem uma traição do homem, “Xavier era um homem truculento e sangüíneo. Muito forte esse homem”, fazendo com que haja um deslocamento na narrativa: as mulheres, antes postas como objetos de Xavier, passam a ser sujeitos da história, de maneira que todo o desenrolar a partir desse momento é protagonizado por elas, trata-se de tirar o protagonismo do masculino.
Um resumo para chamar de seu: A Roda do Tempo (Primeira Temporada)
No decorrer da história, uma das personagens tenciona o assassinato do homem, a outra concorda, então, em certo momento há o esfaqueamento dele, sendo enterrado no jardim da casa. Depois desse acontecimento, simbolizando a morte do poder patriarcal, há a aparição de uma nova ordem entre as mulheres, antes, oprimidas por responsabilidades de mulheres na família, a bigamia imposta, o voyeurismo e a opressão à homossexualidade — questões explicitadas ao longo do conto — passam a uma relação erótica e afetiva entre elas, porém, vê-se a reprodução de modelo heterossexual.
A autora demonstra como as mulheres eram diferentes uma da outra, fisicamente e mentalmente, de maneira a gerar noção de completude, de opostos. Questão pertinente também pelo fato de que o narrador estabelece que as personagens transam, se amam, mas não são homossexuais; a recusa no reconhecimento da sexualidade delas diz sobre a noção de que era um momento de diversão ou desvio das mulheres, levando-as de volta a um homem; “Às vezes as duas se deitavam na cama. Longo era o dia. E, apesar de não serem homossexuais, se excitavam uma à outra e faziam amor. Amor triste”. A negação da autora em colocá-las como mulheres LB pode ser justificada por conta da grande censura da época, visto que o ano de 1974 se passou durante a ditadura militar brasileira.
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Clarice é um das maiores escritoras clássicas, sendo reconhecida principalmente por captar e traduzir as maiores angústias e desejos do ser humano, portanto, a aparição do relacionamento entre mulheres em sua obra, ainda que sem identidades sexuais fixas, demonstra o emergir, a emergência com que estavam se dando as questões quanto mulheres se relacionando com mulheres, na época. O fato de que a “A via crucis do corpo” inicia-se com a presença de homem, que posteriormente é assassinado demonstra o simbólico, o grito dado ao que virá a ser.