Quero começar essa matéria com um disclaimer (aviso legal): eu sou possivelmente uma das maiores fãs de “Rebelde” que este país já viu (prometo que serei imparcial), mas desde o anúncio da Netflix sobre esta série eu simplesmente disse “eu vou abraçar o que eles derem, porque a gente precisa curtir as coisas básicas da vida”.
A nova geração de “Rebelde” estreou no catálogo da Netflix no dia 05 de janeiro de 2022. A primeira temporada da produção mexicana foi encomendada apenas com oito episódios. Os produtores usaram o ponto de partido da telenovela na série: jovens de classes sociais diferentes que se juntam em uma escola de elite. E claro: a música é o que une esses adolescentes distintos.
RBD realmente deixou seu legado no Elite Way School, isso não podemos negar. No remake de “Rebelde”, eles focaram exclusivamente na parte musical. O evento principal da escola é a Batalha de Bandas. A escola é tão requisitada justamente por esse diferencial. A série (2022) conta com oito atores principais, dois sendo veteranos do colégio, Emilia, interpretada pela brasileira Giovanna Grigio e Sebastián (Alexandro Puente), e seis calouros: Jana Cohen (Azul Guaita), Estebán (Sergio Mayer Mori), M.J (Andrea Chaparro), Dixon (Jerónimo Cantillo), Andi (Lizeth Selene) e Luka Colucci (Franco Marsini).
A série conta com personagens já conhecidos por nós como a diretora Celina Ferrer (Estefanía Villarreal) e a mãe da Jana, Pilar Gandía (Karla Cossío) que estavam presentes no elenco original da telenovela mexicana como alunas. Um dos corredores da escola ganha uma vitrine de reconhecimento à banda RBD: com uniformes, discos e instrumentos musicais. A produção também trouxe um Colucci, afinal, Luka é primo de Mía (Anahí); se torna até uma brincadeira identificar todas as referências ao “Rebelde” de 2004. Assim sendo, o fanservice foi entregue, com direito ao chapéu rosa de Mía e tudo.
Toda essa bagagem chama o público que cresceu com “Rebelde” para assistir esse reboot. Como exemplo a M.J chegando ao EWS com a estrela colada na testa, como a Mía utilizava, e logo é repreendida por Emilia que explica que nada é mais brega que um fã. Entretanto, a ideia principal é atingir um novo público teen, que pouco provavelmente vai assistir as coisas “antigas” porque muitas pautas realmente precisam ser revisadas e se tornarem atuais, mas que fizeram tanto sucesso que a receita pode sim ser reutilizada de forma que não vá afetar o trabalho original.
A série mantém os mesmos personagens da novela “Rebelde”?
O remake é uma continuação aos eventos ocorridos na telenovela. Enquanto Giovanni (Christian Chávez) escondia sua família, filho de açougueiro e de origem humilde, na série temos Dixon que esconde que é filho de advogados e possuí uma família relativamente rica.
Miguel vai em busca de vingança, porque acreditava que Franco Colucci estava por trás dos eventos que ocasionaram a morte de seu pai, Estebán entra na EWS para procurar sua mãe, que foi professora de Luka. E falando em patricinha… A comparação entre Jana e Mía Colucci são impossíveis de não serem citadas, até o uso do celular de forma não convencional, como parte do look.
Enquanto Mía usava seu icônico V3 pink na bota, Jana no primeiro episódio usa o Samsung de display exatamente igual e em outra cena é possível ver ela utilizando o celular em sua “pochete” de maneira nada habitual, abrindo o display e deixando parte à mostra. É possível ver toda a rebeldia de Roberta Pardo (Dulce María) em Andi, desde a primeira cena da personagem com sua mãe pedindo um abraço, é muito Alma Rey implorando por demonstração de afeto.
Todos os estereótipos foram repetidos, não sei se intencionalmente ou não, mas com certeza utilizaram da mesma receita, e não, isso não seria um defeito desde que conseguissem um elenco tão carismático quanto foi Anahí, Dulce Maria, Alfonso Herrera, Christopher Uckermann, Christian Chávez e Maite Perroni. Tirando Dixon, interpretado por Jerónimo Cantillo, que realmente dá um show na atuação e se sobressai, e Emilia, interpretada por Giovanna Grigio, que se torna uma das personagens principais desde sua primeira cena, os outros atores ficam devendo muito no quesito carisma.
Onde “Rebelde” falha?
Já não é de hoje que jovens são interpretados por adultos, e isso vemos em diferentes universos, sejam séries, novelas ou filmes. Mas a produção escolheu atores muito discrepantes da idade “escolar”.
Quanto ao roteiro, a parte do Estebán procurando pela mãe não agrada, principalmente pelo fato dele achar que o Luka já sabia de tudo. Outro ponto de furo no enredo foi quanto à uma explicação mais robusta para o retorno da Seita, a organização existia na telenovela para perseguir os alunos bolsistas, tendo um fundo político e de estrutura econômica envolvida na dinâmica. Já na série, a Seita simplesmente caça os novos alunos da EWS, e a pergunta que fica no ar é “Por que?”. As coreografias das músicas do RBD são um marco, sempre foram parte fundamental de suas apresentações, porém “Rebelde” Netflix ficou devendo danças. E músicas originais.
Mas e os acertos?
A Netflix acertou produzindo uma série musical, porque desde “Julie and the Phantoms” (2020) estávamos órfãos de séries teens musicais. Pausa para menção honrosa para o sexto episódio, intitulado Sálvame, conta com um medley incrível de músicas do RBD e foi um dos pontos altos dessa versão.
Entre os acertos, fica aqui a representatividade LGBTQIA+ que, não foi utilizada na telenovela (erro grave), agora vem de forma leve na série, sem criar nenhum ambiente de jovens se descobrindo ou precisando contar aos pais. Inclusive, as melhores cenas são protagonizadas pelo casal Andi e Emilia. Primeiro com uma cena bem sexy e outra no último episódio quando Emilia assumi Andi para a escola toda na Batalha de Bandas.
Também temos Luka que é assumidamente gay e saiu do armário por causa de Jana. E mesmo sendo gay não precisa ser retratado envolvido em nenhum caso amoroso, ele simplesmente é gay e ponto. Assim como Dixon, que é bissexual e não vê problema em revelar isso.
Além de contar com a representatividade trans no elenco com a inspetora Lourdes, interpretada pela atriz trans Karla Sofia Gascón. Contudo, o ponto alto da série está na química dos personagens, principalmente entre o casal: Emilia e Andi, que roubam a cena quando estão em tela.
Mas e aí, vale a pena maratonar a série?
Bom, se você estiver com muito tempo sobrando é uma boa. Outra dica também é colocar a produção para rodar na hora do almoço e fazer suas coisas, essa dica nunca falha. A Netflix conseguiu amarrar o primeiro enredo, a Batalha de Bandas, a Seita… A primeira temporada deixou muitas pontas soltas para as próximas temporadas, principalmente em relação aos dramas familiares, que sempre foram o auge da telematurgia mexicana.
A segunda temporada de “Rebelde” não só foi confirmada como já está gravada. Você pode conferir a primeira na Netflix.