Quando “Pose” estreou foi a produção televisiva com o maior número de artistas transexuais já feita. Além disso, eram pessoas de cor, em especial negros e latinos. Só por isso, já era algo por si só surpreendente. Para além disso, a série trouxe temáticas reais e muito pertinentes à comunidade nos anos 1980 e começo dos 1990 nos EUA, sendo algumas dessas temáticas pertinentes até hoje: o início da epidemia da AIDS (era conhecida na época como peste gay), a falta de informação e tratamento da doença, a grande fetichização dos corpos trans e o tratamento detrativo à sua posição na sociedade, o racismo, a homofobia, contudo, ainda sim, “Pose” não era uma produção somente sobre as coisas ruins: era sobre a exaltação da cultura Ballroom, criada como suporte e identidade para estas pessoas marginalizadas, onde aconteciam as competições cheias de figurinos icônicos e muito voguing.
A primeira vez em que o público geral teve acesso ao Ballroom foi com o documentário “Paris is Burning”, produção que serviu de inspiração a Ryan Murphy e Janet Mock para “Pose”.
A série começa com Blanca (Michaela Jaé (MJ) Rodriguez), uma filha da casa Abundance, comandada pela toda poderosa Elektra (Dominique Jackson), abandonando o lar para seguir suas próprias regras e, assim, leva consigo a sua futura filha Angel (Indya Moore). Fundando a casa Evangelista, em homenagem à top model Linda Evangelista, Blanca começa do zero, reunindo pessoas que ela sente que deve acolher.
Disputando as competições do ball, Blanca deseja levar a sua casa ao sucesso enquanto leva cada um dos seus “filhos” a encontrarem seus próprios caminhos.
Blanca Evangelista é a definição de mãezona: acolhe, cuida, briga quando acha que deve brigar e coloca a necessidade dos outros acima das suas. Mesmo quando se descobre portadora do vírus HIV, o que basicamente era uma sentença de morte, Blanca não se deixa abalar.
Apesar da história ter como foco a trajetória de Blanca, outras personagens se tornam tão grandiosas quanto a mãe da casa Evangelista. Este é o caso de Angel, a filha-irmã acolhida por Blanca que saiu das ruas e do vício em drogas para os outdoors e passarelas; Damon (Ryan Jamaal Swain), um jovem dançarino que foi expulso de casa por ser homossexual e que Blanca foi atrás de conseguir aulas para ele em uma escola de dança; Elektra Abundance-Wintour, a grande campeã dos balls que sonhava em conquistar o mundo ou pelo menos ter dinheiro o suficiente para isso, além de Pray Tell (Billy Porter), o mestre de cerimônias do Ball, um homem negro, gay e que também teve sua vida tocada pelo acolhimento de Blanca.
Apesar de ser uma série de ficção, a história de “Pose” é intrínseca à realidade, alguns episódios, como a morte de Candy Ferocity (Angelica Ross), foram inspirados em situações reais. Porém, mesmo com todas as situações de drama e risco, as personagens mostravam amor, união e muita cumplicidade em se ajudar e superar os empecilhos.
A visibilidade e a abertura de portas que “Pose” trouxe para algumas dessas atrizes transexuais foi algo sentido na indústria do entretenimento, mostrando que personagens trans são plurais.
O talento mostrado na produção teve suas recompensas em premiações. Além das indicações ao Globo de Ouro e Emmy na categoria Melhor Série Dramática, Billy Porter foi o primeiro homem negro e abertamente gay a ganhar o Primetime Emmy de Melhor Ator Principal em Série Dramática, em 2019 e em 2021, enquanto isso, MJ Rodriguez foi a primeira atriz trans a ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Série Dramática.
Desde o primeiro episódio, “Pose” entregou aclamação e visibilidade às pessoas transexuais, em especial negras e latinas, dando a oportunidade delas se verem representadas.
As duas primeiras temporadas completas da série já estão disponíveis na Netflix e no Star+. A terceira está disponível no Star+.