Em 02 de setembro deste ano, estreou, na Globoplay, as duas temporadas da série “Nurses: Plantão de Enfermagem”, criada por Adam Pettle, um drama canadense, que traz a temática médica, porém, diferente das famosas com o mesmo tema, que já conhecemos como “Grey’s Anatomy”, esta explora o dia a dia das enfermeiras e enfermeiros de um hospital. De forma cautelosa, mostra as situações delicadas e importantes que esses funcionários passam todos os dias.
“Nurses: Plantão de Enfermagem” gira em torno da vida de cinco enfermeiros: Grace Knight (Tiera Skovbye), Ashley Collins (Natasha Calis), Wolf Burke (Donald MacLean Jr.), Keon Colby (Jordan Johnson-Hind) e Nazneen Khan (Sandy Sidhu). A primeira temporada se inicia juntamente com a carreira deles, e traz para o telespectador o dia a dia dentro e fora do hospital, além de levantar reflexões sobre assuntos importantes, como exemplo, o assédio sexual no trabalho. A série traz importantes representatividades, inclusive, Ashley, uma mulher abertamente lésbica desde o primeiro minuto da trama.
Ash é importante porque não está em fase de descoberta e nem de autoaceitação. Ela é totalmente independente e certa da sua sexualidade. Em meio aos clichês de descoberta, Ashley chega como uma visão de futuro.
Mulheres sáficas que já se descobriram, se assumiram para si e para o mundo, muitas vezes sofrem em relação a falta de uma perspectiva de futuro feliz na ficção, seja nos filmes, séries ou livros. Por isso, quando Ashley aparece aberta com sua sexualidade desde o primeiro segundo e, em momento nenhum isso é questionado por ela mesma, traz uma visão de um mundo pessoal construído e independente, mesmo quando em certo momento sua mãe aparece provocando um breve conflito. Ela vive com algumas dúvidas? Sim, mas sobre qualquer outra coisa na vida que não tem como tema central sua sexualidade.
Um outro detalhe positivo da personagem é a sua relação com a religião. A enfermeira conta sua história de apreço, desapego e volta a crença. Ashley deixa bem claro que tem a sua fé, mas distante dos muros que os homens criaram em volta das religiões.
Então, temos finalmente uma boa representatividade?
Sim, Ashley representa a comunidade lésbica de maneira completa. Sem carregar nenhum estereotipo ruim, a personagem não foi construída apenas em cima da sua sexualidade, como dito anteriormente. Ela é uma enfermeira, com uma personalidade forte e alguns muros construídos que são facilmente derrubados a medida em que sua amizade com Grace fica mais forte.
Além disso, a personagem se envolve amorosamente duas vezes, a primeira com Caro (Alexandra Ordolis), uma socorrista que sempre está muito ocupada e acaba se ausentando demais, fazendo com que o relacionamento dê errado, por conta disso também, são poucas as cenas das duas juntas. Um pouco mais tarde, na segunda temporada, Ashley começa a se envolver com Candy (Katie Uhlmann), como as duas trabalham juntas, a relação fica um pouco mais fácil. Porém, isso acontece no final da temporada e até então a série não foi renovada.
A produção mostrou a Ash por inteira e isso foi ótimo, e fez com que a personagem crescesse não só na sua profissão dentro do hospital, mas também na sua vida pessoal. Só que, por isso, algumas vezes, a vida amorosa da mesma, onde teríamos uma maior demonstração de representatividade, foi deixada de lado, enquanto a de outros personagens heterossexuais foi desenvolvida de tal forma que o espectador pôde acompanhar passo a passo.
Infelizmente, até o momento, a impressão que “Nurses: Plantão de Enfermagem” deixou é que para ser independente, desenvolvida e resolvida com sua própria sexualidade, a personagem não pode ter uma relação amorosa, quando, na verdade, o desenvolvimento amoroso, a construção de relações sólidas e saudáveis também fazem parte de uma boa representatividade.