Diretamente de terras espanholas, o longa-metragem “Vovó Saiu do Armário” chegou ao Brasil e, novamente, faz essa redação pensar no quanto as produções LGBTQIA+ ainda tem um caminho longo a percorrer.
Eva (Ingrid García) é uma jovem espanhola prestes a se casar com o escocês rico Stuart (Leander Vyvey), pois acha que precisa disso para ter estabilidade na vida, afinal, sua própria mãe a deixara para ser cuidada pela avó, Sofía (Verónica Forqué). Um dia, Sofía telefona para a neta dizendo que se casará com sua melhor amiga, Celia (Rosa Maria Sardà), e daí a confusão está armada! Eva acha um absurdo o casamento e viaja até a ilha de Lanzarote para convencer as duas a desistir da ideia, pois estragaria seus planos de matrimônio com a família conservadora do noivo. E ela não é a única a ser contra.
Claro que, por ser uma comédia, o filme ignora o peso dos traumas e as possibilidades mais terríveis que podem vir do preconceito. Em compensação, entrega uma mensagem belíssima de tolerância e tem a excelente sacada de inverter os papéis em termos de faixa etária. Ainda que seja mais comum a ideia de que pessoas mais idosas tendem a ser mais conservadoras pelos mais diversos motivos, é muito interessante como a narrativa coloca em xeque o conservadorismo nos personagens mais jovens. Essa inversão funciona muito bem para mostrar que juventude não é sinônimo de mente aberta. Além disso, estimula qualquer pessoa a sair do armário, mesmo que ela esteja lá dentro há décadas: não há idade para o amor, não há outra vida para ser vivida, não temos tempo a perder e precisamos ser fiéis a nós mesmos.
Este é um longa com um tremendo papel social. Nada complexo, leve e supostamente divertido, “Vovó Saiu do Armário” consegue atingir um público amplo podendo ser muito útil e encorajador para muitas pessoas que encontram dificuldades para lidar com algumas situações familiares. Apesar da temática LGBTQIA+, a produção não é apenas um filme sobre um romance lésbico, mas sobre ser quem queremos ser.
Para além dos fatores familiares e sociais, “Vovó Saiu do Armário” toca em um verdadeiro vespeiro ao incluir a discussão religiosa no roteiro. A repercussão negativa na pequena cidade é quase automática, claro, mas a resolução é inesperada e o mistério sobre a veracidade do contato entre Celia e o Papa é uma das poucas iscas que verdadeiramente seguram o espectador até o final. É preciso reconhecer, inclusive, que o longa-metragem tem muita coragem ao incluir o Papa como um personagem, delegando a ele uma tremenda responsabilidade.
Mais uma vez, falamos aqui sobre escassez de filmes com essa temática indicando que, mesmo sem ser um bem produzido e com um plot muito incrível, “Vovó Saiu do Armário” é necessário e importante. A resolução, a mensagem religiosa, a inclusão e a união fazem dele uma narrativa bonita, apesar de todos os tropeços técnicos e, embora possa ser facilmente esquecido, já terá plantado suas sementes nos espectadores.
O longa-metragem está disponível no catálogo da Netflix!