“Unidos resistiremos ou, divididos, eles nos pegarão um por um.”
Com essa poderosa frase se inicia “Equal”, série documental lançada em 2020. A produção estadunidense, que conta com a narração de Billy Porter (“Pose”) e o ator Jim Parsons (“The Big Bang Theory”) como produtor executivo, tem na direção KimberlyReed e Stephen Kijak.
A série explora eventos importantes que ocorreram no mundo LGBTQIA+ dos Estados Unidos antes da Revolta de Stonewall, em 1969, quando frequentadores de um bar de Nova York decidiram lutar contra a opressão policial que sofriam rotineiramente. Este foi o conflito que deu origem à Parada LGBTQIA+, celebrada atualmente ao redor do mundo.
“Equal” é dividido em quatro episódios com focos diferentes, mas que levam à Revolta de Stonewall. Inicialmente, vemos o surgimento, ainda nos anos 1950, de grupos onde mulheres lésbicas e homens gays se reuniam secretamente, para socializar e estar em um ambiente com seus iguais. Esses grupos cresceram e criaram filiais por todo o país, onde passaram a representar pontos de luta por seus direitos, ainda que de forma comedida.
Na sequência, o foco se dá sobre pessoas trans, e a história da criminalização e perseguição daqueles que transmitiam qualquer ambiguidade de gênero. O que ocorria com o uso de leis como a “3 article rule”, que indicava que as pessoas deveriam estar vestindo ao menos três peças de roupa de acordo com seu gênero e caso não estivessem, poderiam ser presas.
Durante a terceira parte, “Equal” aborda a interseccionalidade de ser homossexual ou transexual e negro em um país que era tão abertamente discriminatório com ambos os grupos. Aqui, o documentário traz casos de pessoas que viveram suas vidas e lutaram para ser quem eram sozinhas, outros de ativistas políticos do movimento negro que foram prejudicados por serem LGBTQIA+, e outros que faziam a diferença dentro de suas próprias comunidades.
A Revolta de Stonewall é o tópico final da série e mostra que apesar de ser o evento mais famoso na história LGBTQIA+, ele foi resultado de tudo que veio antes e também de seu contexto, pois nos anos 1960, os Estados Unidos estavam fervendo com diversas lutas sociais e políticas como o movimento negro, os protestos contra a Guerra do Vietnã, os movimentos feministas e a contracultura. Essa efervescência somada a décadas de opressão e violação de direitos foi o encontro perfeito para a culminação do movimento de orgulho.
“Equal” conta com imagens inéditas de diversos eventos e também com encenações que nos transportam para primeiros encontros de amor, de dor e de luta. Um ponto que merece destaque são as interpretações dessas pessoas, que tiveram papel importante no ativismo ou que estavam simplesmente tentando viver suas vidas como queriam, feitas por atores e atrizes LGBTQIA+. Um raro e maravilhoso caso de representatividade. No elenco, vemos nomes conhecidos como Hailie Sahar (“Pose”) interpretando a ativista Sylvia Rivera, Samira Wiley (“Orange is the New Black”) como a dramaturga Lorraine Hansberry e Jamie Clayton (“Sense8”) interpretando Christine Jorgensen, primeira pessoa conhecida nos EUA a passar pela cirurgia de redesignação sexual.
Outro aspecto interessante é que a produção não aborda somente pontos positivos de dentro da comunidade. Vemos por exemplo, como uma mulher lésbica, nos anos 1950, critica certo artigo da revista “The Ladder” dizendo que apesar de muito romântica, a ideia de sair do armário não era realmente viável para todas, visto que poderiam perder seu emprego, família, casa e sofrer ostracismo de sua comunidade local. Em outro ponto vemos que quando os movimentos lésbico e gay já tinham certa força política, não apoiavam as pessoas trans, ainda que sofressem repressões muito próximas. Além da discrepância entre o número de mulheres negras e brancas no movimento lésbico.
“Equal” é uma série documental que traz diversos recortes diferentes com informações sobre o início da organização dos grupos LGBTQIA+ nos Estados Unidos e também de pessoas que tiveram que passar por sua luta sozinhas, acreditando serem as únicas de seu tipo. Por sorte, vivemos em uma época em que sabemos que não estamos sós. Com cenas que trazem revolta, discursos que trazem arrepios, “Equal” nos dá forças para sair às ruas e lutar por igualdade, respeito e direitos, assim como os que vieram antes de nós.