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Crítica | Aos Nossos Filhos – um filme sobre a maternidade e a maternagem

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Baseado na peça que carrega o mesmo nome, “Aos Nossos Filhos” é uma trama que gira em torno da relação entre mãe e filha: Vera (Marieta Severo), a mãe, uma mulher que pegou em armas para lutar contra a ditadura e carrega terríveis traumas do passado; e Tânia (Laura Castro), a filha, que vive um casamento de 15 anos com Clarisse (Denise Crispim). Enquanto Vera não acha certo gastar dinheiro com o procedimento para engravidar que a filha e a nora estão tentando – ganhando assim, a inimizade da filha – Fernando (José de Abreu), pai da moça, se torna o queridinho da família, sempre incentivando as duas.

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Sobrevivente de torturas durante a ditadura militar, Vera ainda sofre com esse passado não cicatrizado, e seu dia a dia numa ONG de adoção de crianças soropositivas em uma comunidade do Rio faz com que ela reviva constantemente o clima de tensão. Assim, o longa se costura como crônicas da maternagem imperfeita, cheia de cicatrizes, mágoas, rancores e, também, amores e afetos – que nunca cessam apesar das ranhuras diárias.

O roteiro de Laura Castro e Maria de Medeiros joga foco nas vidas das mulheres trazendo os desafios tanto do ser mulher quanto de ser filha e ser mãe, tornando o longa de Maria de Medeiros, acima de tudo,

um filme sobre mãe e filhas. Ainda que o roteiro insira alguns elementos que pouco se desenvolvem, estes entram em cena para preencher a passagem de tempo das crônicas familiares dessas três mães em desenvolvimento constante.

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A maior virtude do longa está em um comprometimento com a noção de que cada personagem vive dentro de uma narrativa que constrói para si e que esta narrativa, inevitavelmente, não vai englobar vivências alheias que, por vezes, vão entrar em choque ao longo da história. Tanto Vera quanto Tânia têm suas verdades, suas histórias e sentimentos, mas o filme nunca coloca nenhuma delas como símbolo moral inquestionável e está sempre tentando criar embates entre vivências que são diferentes, mas igualmente válidas, ainda assim sem cair numa noção de que seguir pautas progressistas ou levantar certas bandeiras torna alguém automaticamente bom ou mau. A produção está mais interessada na ideia de que a mediação entre essas vivências é a única forma de seguir adiante.

A produção poderia ser melhor? Sim. Porque ainda deixa algumas pontas soltas envolvendo personagens secundários que, em algum momento, parece que receberão um desenvolvimento mais elaborado, mas acabam servindo mais como um ponto de reflexão para as protagonistas.

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Ao jogar luz sobre a maternidade e a maternagem de formas separadas, “Aos Nossos Filhos” ajuda a desconstruir estigmas e a reconstruir as possibilidades para as novas gerações, além de também retratar toda uma geração de mães que, marcadas pelas dores da ditadura, fizeram seu melhor, ainda que as atuais gerações pareçam ter esquecido que esse passado ainda é recente e que lidamos no dia a dia com muitas pessoas sobreviventes desse trauma.

“Aos Nossos Filhos” está em cartaz nos cinemas. E você pode conferir no mais próximo a você!

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