Casey (Brigette Lundy-Paine) e Izzie (Fivel Stewart) formaram um casal, também conhecido como Cazzie, que causou grande polêmica enquanto “Atypical” (Robia Rashid) estava em alta, e não muito tempo depois disso, elas continuam sendo alvos de alguns debates. Primeiramente, a sexualidade de Casey foi questionada algumas vezes, como se bissexuais não existissem, porém, vista por outro ângulo, o arco de desenvolvimento da sexualidade da personagem pode ser discutido mais a fundo.
Em uma tentativa de entregar representatividade LGBTQIA+, “Atypical” errou ao retratar estereótipos arcaicos sobre a bissexualidade. A série construiu a relação da Casey com sua própria sexualidade em cima de uma traição, algo que já foi bastante discutido pelo público LGBTQIA+ e foi identificado como nocivo, já que reforça o estereótipo de que pessoas bissexuais são mais propensas à trair, ou então, que pessoas bissexuais não conseguem levar relacionamentos monogâmicos a sério.
Diante disso, a produção tentou “consertar” o erro e desenvolveu Cazzie como um casal definitivamente. O que de início parecia dar certo, em dado momento se tornou cansativo. A quarta temporada mostrou um relacionamento com muitos problemas para resolver antes do namoro ser uma questão. Casey tinha suas próprias preocupações em relação a corrida, a faculdade e a família, e Izzie tinha sua própria família disfuncional para dar conta. E é a partir daí que a construção da relação desandou.
A quarta temporada e um outro lado de Izzie
A quarta e última temporada de “Atypical” trouxe várias questões importantes para discussão, mas um ponto a tratar é o quanto Izzie foi perigosamente desenvolvida. Em vários momentos, Cazzie aparecem sendo o mundo uma da outra, o que por si só já é problemático, afinal, é perigosa a ideia de se fixar somente em um relacionamento. Essa relação é muito mais forte por parte de Izzie do que de Casey, que, por vezes, aparece tendo outras ocupações como o treino, a escola e a família.
O que torna a situação mais preocupante é que constantemente Izzie tenta levar Casey para esse mundo que ela construiu. Alguns episódios, como o que Izzie decide fazer um protesto na escola pela mudança no código de vestimenta, é um exemplo em que ela levou a namorada a fazer algo contra a vontade dela. Casey já havia dito que não queria, além de ter levado um aviso de sua treinadora, no momento em que Izzie demonstra estar triste, Casey abre mão e participa.
Em outro momento, Izzie até mesmo admite o quanto ela tem se desculpado com Casey. Será que é realmente uma boa relação em que um dos lados precisa constantemente estar se desculpando com o outro por atitudes que são claramente erradas ou que no mínimo extrapolam o bom senso?
Izzie, infelizmente, foi construída em cima de alguns arquétipos de manipulação como o excesso de pedidos de desculpas, frases como “eu vou ficar triste se você não estiver lá”, e a partir do fato de transformar todas as situações em algo sobre ela, quando claramente ela estava errada. E em consequência disso Casey foi construída como a que sempre abre mão pelo bem maior, que no caso seria a paz entre elas.
Izzie, realmente, tem as questões dela para resolver, como por exemplo o caos familiar em que ela vive desde a infância, porém esses traumas não podem ser solucionados a partir da relação com Casey. Izzie tenta por vezes substituir, agora com a namorada, um mundo de acolhimento e atenção que ela não teve quando era criança e por um lado isso causou na relação uma dependência, e por outro, Casey abre mão de si em diversos momentos.
A representatividade existe de fato com Izzie sendo abertamente lésbica e todo o processo de Casey para se entender como bissexual, mas a representatividade de Cazzie como casal não é boa para o público-alvo de “Atypical”, no caso adolescentes que em muitos momentos estão começando a se relacionar romanticamente, pois, além de demonstrar comportamentos problemáticos, mostra duas meninas se anulando uma pela outra.
Você sabia que o LesB Out! tem uma revista digital?! Confira clicando aqui!