Cinema

A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas e a representatividade nas animações

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O universo cinematográfico das animações tem ganhado um importante espaço na vida dos espectadores há mais ou menos 20 anos. Com lançamentos de filmes que fazem com que as pessoas reflitam sobre questões morais e éticas, além de histórias que mexem com temáticas sensíveis como família e amizade, as animações têm sido debatidas constantemente. Apesar de ser uma produção que tenha crianças/infâncias como público-alvo, têm chamado atenção de adultos tanto quanto pelas crianças, justamente pelos significados de fundo que trazem para os telespectadores.

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Um filme de animação atrai o público da mesma maneira que qualquer outra produção: através das representatividades. Sendo assim, um longa, série, desenho conseguem prender à atenção do espectador por muitas vezes retratando personagens ou situações conhecidas pelo mundo real. As pessoas conseguem se apegar mais ou estabelecer uma relação de afeto gerando debates a partir do ponto em que o público se identifica ou identifica situações vividas ali na tela.

A representatividade através de “migalhas”

Se, de acordo com Moscovici (2015), as representações sociais são específicas da sociedade em que elas se inserem, a pergunta que permanece em aberta é por que a representatividade LGBTQIA+ é tão rara e velada em animações, ou quando se trata de personagens de filmes de grande público? A sociedade em que essas novas produções estão inseridas e estão sendo reproduzidas pede por respeito e representação em amplas questões, mas pelo que parece ainda é muito difícil contemplar isso sem ser em forma do que chamamos de “migalhas”.

Tomamos como exemplo o longa-metragem da Sony Animation, distribuído pela Netflix, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”, lançado em 2021 no Brasil, que conta a história de Katie (Abbi Jacobson) e sua família lutando contra androides ao mesmo tempo em que lutam com seus próprios problemas familiares.

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A personagem principal (Katie) é queer e durante uma hora e cinquenta minutos de narrativa o único indício da sexualidade da personagem é um broche com a bandeira do arco-íris que ela usa em seu casaco. Nos últimos minutos da animação, é o único momento em que a personagem fala abertamente sobre a possível namorada.

A produção foi vendida e debatida como o primeiro longa de animação de grande estúdio a trazer uma personagem abertamente queer em uma produção para a família, mas a questão que fica após assistir é até que ponto essa abertura realmente existe?

A sexualidade é parte integrante da vida das pessoas e para conquistar mais espaço de respeito e até mesmo ocupar espaços fisicamente, é preciso que este seja um tema abordado durante a construção de vida dos personagens. Não é exatamente construir uma personagem somente a partir da sua sexualidade, mas sim mostrar isso como parte da vida dela.

Ganhos e perdas para a comunidade LGBTQIA+ nas animações recentes

“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” poderia ter sido um ganho muito grande para o público LGBTQIA+ se não fosse essa representatividade mínima. Em uma época em que existem produções como “A Casa Coruja”, “Steven Universo” e “The Loud House”, em que há uma clara menção e construção no que diz respeito a sexualidade das personagens sáficas, a animação da Netflix entra como uma perda.

É preciso que os estúdios se reinventem nas questões de representar personagens LGBTQIA+, ou pelo menos, estudem sobre o assunto. Um romance ou a construção de um casal nem sempre encaixa no enredo, porém, falar sobre personagens LGBTQIA+ precisa fazer parte da construção tanto quanto falar sobre personagens heterossexuais, já que estamos em uma sociedade em que coexistimos.

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Quando não se fala ou acredita que não é necessário que esses personagens ocupem espaços nos filmes de grande público e nas animações, isso se reflete na sociedade criando um ciclo homofóbico em que se acredita que pessoas LGBTQIA+ existem em quantidade e espaços limitados.


Referência: MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 11. ed. Rio de Janeiro. Vozes. 2015.

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