Este é um excelente ano para Jean Smart. Depois de roubar a cena em “Mare of Easttown”, da HBO, ela agora conseguiu uma série todinha para ela na irmã mais nova do canal, a HBO Max, com a nova comédia “Hacks”. A produção chegou ao Brasil na semana passada, junto com a estreia do serviço de streaming no país.
“Hacks” acompanha Deborah Vance (Smart), uma lendária comediante, que trabalha em um casino em Las Vegas e se encontra em um momento delicado de sua carreira. Buscando um novo público, ela precisa reinventar seu show, trazer uma visão mais jovem. Para isso, seu agente a junta com Ava (Hannah Einbinder), uma escritora novata, que perde um grande contrato em Los Angeles depois de uma piada de mau gosto na internet.
Em um primeiro momento, uma série de comédia sobre comédia e ainda trazendo conflito de gerações não me parecia a maior das ideias. Havia muitas chances de dar errado. Tinha tudo para ser algo cansativo, explorando apenas os mesmos clichês de sempre. Mas, felizmente, já no primeiro episódio eles conseguem provar seu valor.
O trio Lucia Aniello, Paul W. Downs e Jen Statsky, envolvidos na excelente “Broad City”, são os criadores da trama e assinam o roteiro e direção de boa parte dos episódios. E apesar de nesta produção seguirem um caminho bem diferente do projeto anterior, eles mostram que conseguem trabalhar com humor independente da vertente.
O conflito de gerações pode ser o ponto inicial dos atritos entre Deborah e Ava, mas as diferenças entre a dupla vão muito além disso e a série não fica presa apenas no mesmo botão. As duas são o completo oposto uma da outra e esse choque é muito bem explorado ao longo da narrativa. E isso é graças ao roteiro afiado, que consegue aproveitar da melhor forma possível a ideia de ter duas comediantes protagonistas, trazendo sempre piadas sagazes e certeiras. Mas, além do humor, “Hacks” consegue transitar pelo drama e mostrar um desenvolvimento pessoal de cada uma das personagens, além das relações criadas ao longo da temporada. É impossível não se envolver com suas histórias, com seus sentimentos e com a trajetória das duas juntas.
E uma parte fundamental para isso e o principal triunfo: a dupla protagonista. Sinceramente, a série não seria a mesma coisa sem Jean e Hannah. A química entre as duas é algo absurdo. Elas conseguem funcionar perfeitamente separadas, mas são nos momentos em que as duas estão juntas que a produção realmente brilha. O principal pilar de “Hacks” é a relação entre elas, e esta nunca funcionaria se não existe um bom entrosamento entre as atrizes.
Jean Smart está excelente, não há palavras que possam descrever sua atuação. É lindo de acompanhar a entrega a personagem, tanto nos momentos de comédia, no palco, soberana, mas também além disso como a relação com a filha, com o próprio passado e os conflitos internos. Com certeza um dos pontos altos da carreira da atriz e que merece ser reconhecida com todos os prêmios possíveis por esse papel.
Mas, além dela, tudo só é possível pela dupla que Jean formou com Hannah, a grande surpresa. A novata consegue encarar de frente e roubar a cena em vários momentos. Ava começa a série como uma arrogante de vinte e poucos anos, que se acha muito superior, apesar de se encontrar no fundo do poço e com o coração partido após o término com a namorada. E, aos poucos, a personagem vai se construindo e mostrando diferentes camadas. É muito fácil se conectar com os altos e baixos dela, de uma forma que deixa a vontade de ver mais, de acompanhar mais de perto sua vida.
“Hacks” é uma das grandes surpresas da temporada. A produção consegue trabalhar temas importantes, como a figura da mulher na comédia e todas as dificuldades em torno da carreira, sem perder o humor. Durante os dez episódios o público consegue morrer de rir, chorar e se apaixonar por Deborah e Ava.