Um dia, você e seus amigos de longa data decidem se encontrar, já que não se viam há muito tempo. O reencontro é cheio de sentimentos familiares e novos, vocês compartilham lembranças e experiências novas. Aos poucos, você percebe que apesar do distanciamento e de vocês estarem mais maduros, o sentimento que os uniu permanece o mesmo.
Essa foi a sensação que tive ao assistir o primeiro episódio de “The L Word: Generation Q”. A série, em sua essência, continua a mesma, mostrar as vidas de um grupo de amigas lésbicas e bissexuais que vivem na cidade de Los Angeles. Porém, já nos primeiros minutos, você percebe que a premissa está mais madura.
A produção não ganhou apenas novas palavras em seu título, ganhou novos personagens e novas histórias, que são tão interessantes quanto do elenco original da série. É perceptível como o contexto temporal influenciou no roteiro, o enredo está mais politizado e muito mais consciente das questões que abordam a comunidade LGBTQ+.
Uma das principais críticas feitas a série original era a mal representatividade transexual no roteiro. Além de terem escalado uma atriz cisgênero para interpretar “Max”, o enredo do personagem criava desconforto e confusão. Era visível que os roteiristas não sabiam o que fazer com aquela história.
Ao que parece, “The L Word: Generation Q” quer se redimir dos erros passados e mostrar que aprendeu a lição. A prova disso é a contratação do ator trans, Leo Sheng. Como Micah, Sheng interpreta um assistente social tímido, mas atencioso, que tem uma crush por seu vizinho José (Freddy Miyares). Ao longo do episódio, vemos Micah indeciso em se aproximar do vizinho por medo de saber como ele irá lidar com sua identidade trans. Certamente, essa será uma das questões abordadas pela série ao longo da temporada.
Além de Micah, a produção nos apresenta outros personagens da “Geração Q”. Dani (Arienne Mandi) é uma executiva de relações públicas poderosa, que após uma reunião com Bette (Jennifer Beals), passa a questionar sua posição na empresa de seu pai. Além dos conflitos profissionais, ela tem um relacionamento complicado com a família, já que seu pai não aceita sua sexualidade e muito menos o seu relacionamento com Sophie (Rosanny Zayas).
Namorada da poderosíssima Dani Nùñez, Sophie é uma das produtoras do Talk Show da Alice (Leisha Hailey), a princípio a personagem não demonstra possuir problemas ou dramas que interfiram na sua vida pessoal ou profissional, porém seu relacionamento pode ser afetado pela relação da Família Nùñez com Dani, e até pelas escolhas profissionais de Nùñez, porque, afinal, a personagem de Arienne decide trabalhar para eleger Bette a prefeitura de Los Angeles, e isso irá requer muito tempo da jovem RP.
Por fim, temos Finley (Jacqueline Toboni), uma assistente encantadora, mas sem foco, que está tentando viver sua melhor vida, embora possa não se lembrar de grande parte dela. Ela é escalada por Alice para ajudar Shane (Katherine Moennig) a se instalar na sua nova mansão, mas no fim do episódio acaba recebendo um convite para morar com Shane. Está fora de questão um possível relacionamento entre elas, porque ambas compartilham a mesma característica: desapego.
O reencontro de Bette, Shane e Alice foi nostálgico, ver as três reunidas em um brunch trouxe a tona muitas lembranças. A sensação que eu tive ao ver a cena foi que a qualquer momento alguém do elenco original fosse aparecer para contar uma fofoca ou fazer um grande espetáculo dramático. Porém, o que ganhamos foi uma reunião tranquila de amigas para contar como anda a semana.
As três personagens se tornaram figuras influentes, Bette está concorrendo a prefeitura de Los Angeles, Alice agora tem seu próprio Talk Show e Shane se tornou proprietária de uma rede de salões ao redor do mundo. Cada uma delas tenta equilibrar a vida pessoal com suas carreiras bem sucedidas. Em determinados pontos do episódio, cada uma delas interage com Dani, Sophie e Finley, e de certo modo, acabam criando uma relação de mentoria com as personagens. Mas isso não quer dizer que a nova geração não tenha nada a dizer, pelo contrário, Bette, Shane e Alice, podem aprender uma coisa ou outra com Dani, Sophie e Finley.
A interação entre o elenco original e as novas personagens pode aproximar as gerações LGBTQ+ fora da tela. Acredito que o retorno de “The L Word” não conseguirá apenas atingir as diversas gerações, mas também aproximá-las. É importante os mais novos entenderem as lutas que nos trouxeram até o presente momento, mas é imprescindível que a geração mais madura compreenda que as discussões sobre a comunidade se ampliou e que por isso nossas discussões se ampliaram também.
Apesar de existir no ar o desejo de alguém do elenco original retornar (por exemplo, eu rezo todos os dias para escutar aquele sotaque maravilhoso de Helena Peabody de novo!), a série não deixa de ser interessante pela ausência desses personagens. Bette, Alice, Shane, Dani, Sophie, Finley e Micah seguram bem o ritmo da produção. Sem contar que ao longo da temporada vamos contar o reforço de pessoas maravilhosamente incríveis: Jamie Clayton e Megan Rapinoe.
Agora sob o comando de Marja-Lewis Ryan, “The L Word: Generation Q” tenta respeita suas origens, enquanto se renova para conversar com as novas gerações. É uma série que agradará os antigos e os novos fãs por finalmente ampliar seu horizonte. Se em apenas um episódio foi abordado política, relação parental, uso exagerado de entorpecentes, sexo durante a menstruação… Imaginem o que podemos ganhar nessa temporada de oito episódios.
Aline
27 de maio de 2020 at 10:02
Mas eles contam quem matou a mala sem alça??? Pq até hoje eu penso nissoo…
Lua Barros
29 de maio de 2020 at 16:13
Sim, a série dá a entender que ela cometeu suicídio.